sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Políticos resistem a se afastar da Caixa: Editorial/O Globo

A alegação de que há diretores que são funcionários de carreira é relativa, pois basta lembrar a folha corrida dos dirigentes da Petrobras apanhados pela Lava-Jato

Com a assumida experiência de 30 anos de vida pública e constante atuação em esquemas de corrupção e de compra de votos, o ex-deputado Pedro Corrêa, ex-presidente do PP, e ainda cumprindo prisão domiciliar devido à Lava-Jato, deu entrevista ao GLOBO em que explicou a importância para o político de indicar diretores de estatais. De forma clara: fazer com que o nomeado leve a empresa privada com que negocia contratos a contribuir para a campanha do padrinho e, é certo, de seu partido. Sem dúvida, com dinheiro proveniente do superfaturamento das operações. Ou seja, no fim das contas, tudo é pago pelo Tesouro, em que a estatal se socorrerá em algum momento. Quer dizer, pelo contribuinte.

Foi o que se viu nas revelações que a Lava-Jato propiciou ao investigar a atuação incestuosa de diretores da Petrobras com o PT, o ainda PMDB, o PP e seus políticos. Devido ao tamanho mastodôntico dos contratos fechados pela estatal do petróleo, houve muito dinheiro também para melhorar o padrão de vida de políticos. Vide o tríplex do Lula no Guarujá, caso em julgamento, e seu sítio em Atibaia.

É dentro deste mesmo contexto que transcorrem as descabidas pressões de políticos da base do governo Temer, para manter a influência na nomeação dos 12 vice-presidentes da Caixa Econômica, banco estatal constantemente ordenhado por esses esquemas de corrupção. Atuante em um deles, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha está preso.

Mas esta captura da Caixa por políticos desonestos enfrenta agora uma resistência importante: não só do Ministério Público, mas também do Banco Central, que alerta para a necessidade de a Caixa ter profissionais em sua diretoria, posição idêntica à do Ministério da Fazenda.

E é o que estabelece a Lei das Estatais, aprovada há pouco tempo pelo próprio Congresso, de onde partem as pressões depois que quatro dos 12 vice-presidentes da CEF foram afastados, por estarem sob investigação. Esta lei exige qualificação de conselheiros e diretores compatível com o cargo ocupado.

Alega-se que muitos diretores são da própria Caixa, o caso do presidente, Gilberto Occhi. Mas ele é ligado ao PP, com apoio do qual foi ministro das Cidades de Dilma. Na verdade, ser técnico e/ ou funcionário de carreira da estatal não é qualquer salvaguarda. Haja vista os diretores da Petrobras apanhados pela Lava-Jato, todos profissionais e de carreira.

A espécie de rebelião na base de Temer, na esteira do afastamento dos vice-presidentes da Caixa, é esclarecedora. A proibição do financiamento de campanha por empresas, vê-se, não reduz a ânsia dos políticos em ter influência nas estatais. É certo, portanto, que contam com apoio via caixa 2, ao contrário do que achavam os otimistas com essa proibição definida pelo Supremo. Cabe a Temer reagir, protegendo-se na Lei das Estatais.

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