segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Angela Bittencourt: Meirelles precipita mudança na equipe

- Valor Econômico

"Apostamos na virada e não no pior", diz Rosenberg

O ministro da Fazenda Henrique Meirelles e sua determinação para disputar a Presidência da República convidaram o núcleo político do Planalto a participar da dança das cadeiras na equipe econômica e devem movimentar a Esplanada dos Ministérios nesta semana.

Meirelles vai decidir, entre fim de março e início de abril, se concorre às eleições ou se fica na pasta. Na última semana, de intensa exposição à mídia, o ministro apresentou como pessoal o calendário eleitoral - 7 de abril é data-limite para candidatos deixarem cargos públicos. Em nenhum momento atribuiu o título de ministro de Estado ao presidente Michel Temer.

O ministro-candidato colocou o carro na frente dos bois ao enfatizar publicamente sua disposição para ampliar a participação no governo e ao demonstrar reservadamente o interesse de indicar o seu sucessor na Fazenda. O ex-secretário do Tesouro, hoje secretário-executivo da pasta, Eduardo Guardia, vem sendo preparado por Meirelles para sucedê-lo, mas o senador Romero Jucá (MDB-RR), líder do governo no Senado, defendeu sem firula o ministro do Planejamento para o cargo.

Funcionário de carreira, Dyogo Oliveira assumiu interinamente o comando do Planejamento em 23 de maio de 2016, substituindo Jucá. Foi efetivado somente em março de 2017, após frustradas tentativas de Meirelles de anexar o Planejamento à Fazenda.

Oliveira tornou-se um assessor particularmente caro ao presidente Temer por propor e defender a liberação das contas inativas do FGTS e do PIS/Pasep. A transferência desses depósitos aos trabalhadores injetou na economia quase R$ 70 bilhões e viabilizou a maior desalavancagem das famílias que se tem notícia. Com dívidas quitadas, os brasileiros estão prontos para consumir e a empurrar o país a um ciclo de crescimento que será sustentado, de fato, com a expansão dos investimentos.

A sucessão na Fazenda e no Planejamento é um evento relevante, não pelo fato de o governo ter nove meses pela frente, mas pela sinalização de fortalecimento do MDB. A escolha de Guardia ou Oliveira para a Fazenda passa ao largo da competência técnica que compartilham. Essa sucessão, que ocorrerá se Meirelles decidir disputar a eleição, será uma manifestação política.

O ministro da Fazenda começa a se erguer para a disputa eleitoral de frente para alguns dos colaboradores mais próximos de Temer: o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun; o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha; e o senador Romero Jucá (MDB-RR).

Na quinta-feira passada, questionado se o governo já tinha um nome para a sucessão na Fazenda, Marun disse que "ele [Meirelles] é substituível, todos somos substituíveis". Segundo o ministro, não há dificuldade em encontrar um nome para o sucessor, há um "cuidado". Marun ponderou que é muito concreta a hipótese de que Meirelles dispute a eleição; Padilha e Meirelles já mediram terreno para exibir feitos do governo; Jucá, mais de uma vez, atropelou Meirelles ao antecipar medidas.

Neste cenário, ganha projeção o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, um defensor do ajuste fiscal. Nesta segunda, o presidente do BC faz palestra, em São Paulo, durante um evento da Câmara Espanhola de Comércio no Brasil. À tarde, reúne-se, em Brasília, com representantes da agência de rating Moody's.

Na quarta-feira, Ilan, Meirelles e Oliveira devem participar do lançamento de relatório da OCDE sobre o Brasil -- o "esquenta" da divulgação do PIB do quarto trimestre e de 2017, na quinta-feira. A estimativa do mercado é alta de 1% no ano.

"Preparamos o fundo macro para esse cenário", diz Marcos Mollica, sócio e gestor da Rosenberg Investimentos referindo-se ao Rosenberg Macro FIC Multimercado, um dos fundos mais bem-sucedidos neste ano. À coluna, Mollica explicou que a oferta cresce junto com a economia. "As empresas não estão tomando dinheiro ou emitindo papéis. O momento é de transição na economia e o portfólio das famílias deve sofrer mudanças significativas. Como o juro era muito alto, boa parte da riqueza está concentrada em títulos públicos. A melhora da economia aumentará a oferta de crédito privado. Nos EUA, o setor de 'high yield' e 'investment grade' é muito ativo. A criação de nova riqueza será mais efetiva de o governo fizer o ajuste fiscal e acessar menos o mercado."

PhD pela Universidade de Chicago, Mollica afirma que pela primeira vez em muitos anos vê a macroeconomia alinhada no Brasil. "Faltam medidas fiscais, mas há consciência dessa necessidade em amplo espectro da classe política. O Brasil é campeão em perder oportunidades, mas está preparado para entrar em um ciclo sustentado de crescimento."

O fundo macro da Rosenberg foi criado no fim de 2015. "O ambiente era de volatilidade muito alta. Estávamos bem pessimistas e aplicados em dólar, mas apostamos no cenário de virada, e não de piora, quando começaram a ser divulgados áudios que implicavam parlamentares e integrantes do governo em atos de corrupção. Zeramos a posição em dólar, voltamos ao juro muito elevado naquele momento e compramos 'bolsa', que estava largada."

Mollica lembra que o ex-ministro Joaquim Levy deixou a Fazenda em dezembro de 2015, após tomar decisões importantes, como o ajuste das tarifas públicas que haviam sofrido total distorção no primeiro mandato de Dilma Rousseff, a ponto de devastar o setor elétrico. "Temer assumiu com um discurso de reorganização do Estado e a reação foi muito positiva. Avaliamos que o juro só poderia cair. Conseguimos captar mais rápido do que imaginávamos esse cenário e continuamos otimistas, inclusive, no momento em que muitos avaliavam não haver mais prêmio no juro. Sempre há prêmio e encontramos um ponto correto de risco/retorno. Neste ano também conseguimos capturar o juro no exterior por considerarmos que os EUA estão crescendo para valer e que o Federal Reserve vai subir o juro. Neste ano, ganhamos em juros lá fora a metade do que ganhamos em juros aqui no Brasil."

A Rosenberg começou a migrar de juro para bolsa no fim do ano passado. Mollica não faz previsões para o Ibovespa, mas vê dias melhores para as empresas. E aumento da participação de bolsa nas carteiras (leia mais sobre a Rosenberg Investimentos no blog Casa das Caldeiras).

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