sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Expansão pressiona por ajustes nas políticas do Fed e do BCE: Editorial | Valor Econômico

Os dois principais bancos centrais do mundo, o Fed americano e o Banco Central Europeu, divulgaram minutas de suas mais recentes reuniões e ambas apontam, com diferentes velocidades, para um aperto nas condições monetárias decorrentes de uma boa expansão econômica. A ata da reunião do BCE de janeiro menciona até mesmo que os investidores começam a especular, pelo desenho das taxas futuras, sobre quando será a primeira elevação dos juros na zona do euro. A ata do Fed americano indica que a inflação, medida pelo núcleo dos gastos de consumo, subirá a um ritmo maior do que se esperava no ano passado. Se isso resultará em quatro e não três elevações dos juros é ainda uma questão em aberto. As apostas majoritárias dos mercados são, por enquanto, de que o Fed manterá sua rota, sem surpresas.

Houve pressão no BCE para que ele mude sua comunicação e deixe de reforçar a ideia de que ampliará os estímulos monetários em caso de desaquecimento da economia. A maioria não achou isso necessário, mas a sinalização foi mantida. A evolução da economia tornou-a, porém, desatualizada. O enorme programa de compra de títulos - € 2,5 trilhões - termina em setembro e a taxa de crescimento dos 19 países da zona do euro sugere que ele não precisará ser renovado. O bloco monetário cresceu, em números preliminares, 2,7% no ano passado, ultrapassando os Estados Unidos (2,6%).

O problema para o BCE é que a inflação reluta em aparecer - na verdade, está caindo. Em janeiro foi de 1,3% (sem energia e comida, 1,2%), em dezembro registrou 1,4% e em novembro, 1,5%. A expectativas dos investidores consultados pelo BCE é de que em 2020 ela ainda estará em 1,8%. Por isso, segundo o banco, será preciso manter "paciência e persistência" até que as pressões inflacionárias enfim apareçam. A ata do BCE preferiu reclamar do comportamento do Tesouro americano de não manter a política do "dólar forte". A valorização do euro traz um indesejado freio ao nível de preços.

Os EUA já estão em outra condição. A ata do Fed aponta que o núcleo de inflação do gasto de consumo pessoais (PCE) subirá "notavelmente mais rápido" do que o previsto em 2018 e atingirá 2% no ano que vem. O índice cheio chega à meta em 2020. Contribuem para isso vários fatores, todos apontando na mesma direção: política monetária acomodativa, corte de impostos e crescimento global sustentado.

As condições estão dadas para que, segundo o Fed, "o crescimento em 2018 exceda a taxa sustentável de longo prazo e as condições do mercado de trabalho se fortaleçam". É importante notar a observação, feita por alguns membros do Fed, que pode fazer a diferença: os efeitos do pacote fiscal de Trump, ainda que incertos, podem ser no curto prazo maiores do que os esperados.

Outros fatos ocorridos após a reunião do Fed corroboram essa expectativa. No acordo bipartidário para aumentar o teto de gastos do governo, ficou acertado um aumento das despesas de US$ 300 bilhões nos próximos dois anos, enquanto que haverá diminuição de receitas de US$ 1,5 trilhão em dez anos, pelo pacote fiscal propriamente dito. Para o Goldman Sachs, o conjunto fiscal trará crescimento de 0,7 ponto a mais no último trimestre deste ano e de 0,6 ponto a mais no de 2019. Alguns membros do Fed, porém, indicaram que o corte de impostos para as empresas pode levá-las momentaneamente a reduzir preços para melhorar sua posição competitiva ou ganhar fatias de mercado, com influência baixista sobre a inflação.

Tudo somado, a maioria do Fomc concluiu que a forte perspectiva de crescimento aumentou a probabilidade de um "reforço adicional" na política gradualista do banco. Ou seja, uma dose extra de juros.

A elevação dos títulos do Tesouro complica as coisas. Nesta semana, os juros do T-bond de 10 anos chegou a 2,94%. Com o Fed desovando seus títulos e o Tesouro fazendo emissões graúdas, o rendimento desses papéis mudou de patamar. O déficit chegará a US$ 1 trilhão em 2019 e o pacote fiscal o elevará de 3,4% do PIB em 2017 para 5,4% em 2019, calcula o JP Morgan. Os EUA tiveram estímulos fiscais mais fortes, mas esse coincide com a economia em boa forma e perto do pleno emprego. O Fed vai esperar para ver, a menos que seu novo presidente, Jerome Powell, mude de ideia.

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