sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Meirelles diz que cumpriu etapa e admite candidatura

Por Fabio Graner, Fábio Pupo, Fernando Exman e Ribamar Oliveira | Valor Econômico

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deu mais um passo na caminhada para tentar se viabilizar como nome do governo para a disputa presidencial. Vendo os demais pré-candidatos de centro se moverem, também decidiu falar abertamente sobre seu projeto político.

Em entrevista à Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, Meirelles disse que considera a fase de ministro da Fazenda como "etapa cumprida". "Estamos agora contemplando essa nova etapa de uma possível candidatura à Presidência".

A fala sobre "etapa cumprida" foi em resposta a uma pergunta sobre se ele continuaria ministro no próximo governo. Até então, vinha dizendo que estava totalmente dedicado à condução do Ministério e ponderava que só decidiria sobre eventual candidatura em abril.

A declaração aponta para um Meirelles menos interessado em seu papel de ministro, ainda que pouco depois tenha garantido ao Valor que continuará no cargo até o fim de 2018, caso decida não ser candidato.

"Essa etapa de ministro da Fazenda está cumprida"
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deu um passo à frente na luta para se viabilizar como nome do governo para a disputa presidencial de outubro. Vendo os demais pré-candidatos de centro se moverem, também decidiu falar mais abertamente sobre seu projeto político e mostrar mais explicitamente seu sonho de buscar o posto máximo do país.

Em entrevista à "Rádio Itatiaia", de Minas Gerais, Meirelles mostrou-se mais assertivo sobre sua ambição: "Acho que essa etapa de ministro da Fazenda é uma etapa cumprida. Estamos agora contemplando essa nova etapa de uma possível candidatura à Presidência". E completou dizendo que pretende ampliar sua atuação no serviço público. "Certamente, tomaremos a decisão de continuar no serviço público dentro de 40 dias ou pouco mais, mas aí ampliando bastante o escopo. Podendo colaborar com o país de forma mais eficaz e abrangente. E isso que está acontecendo na economia podermos levar a todos os setores da vida dos brasileiros", disse.

A fala sobre "etapa cumprida" foi feita em resposta a questionamento sobre se ele continuaria no cargo de ministro no próximo governo. Apesar do contexto não poder ser ignorado, efetivamente foi uma calibragem de discurso. Até então, ele vinha dizendo, como um mantra, que estava totalmente dedicado à condução dos trabalhos da pasta que comanda e apenas ponderava que decidiria até 7 de abril sobre uma eventual candidatura à Presidência da República.

Esse novo tom aponta para um Meirelles cada vez menos interessado em seu papel de ministro, como se já efetivamente tivesse terminado sua missão. Pouco depois da entrevista à rádio, contudo, ele garantiu ao Valor que continuará no cargo até o fim de 2018 caso decida não ser candidato. A possibilidade de deixar o cargo em abril, mesmo sem ser candidato, seria mais um elemento de risco de instabilidade, já que o atual chefe da equipe econômica tem a confiança do mercado financeiro, ainda que este segmento tenda a olhar cada vez mais para quem o substituirá em 2019.

Em entrevista coletiva, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, afirmou que a possibilidade de candidatura de Meirelles é concreta e que ele é "substituível" e que não haveria dificuldade de encontrar um sucessor.

O ministro da Fazenda quer ser o representante do governo e defender o legado da atual administração no pleito deste ano. Segundo uma fonte próxima a ele, Meirelles de fato demonstrou "mais fome" pela candidatura. Outro sinal desse apetite maior foi dado na entrevista à rádio CBN, no início da noite de ontem. "No momento, estou considerando essa hipótese [de ser candidato]. Isso significa que eu acredito que minha carreira, experiência, histórico e etc me dão condições sim de postular uma candidatura", afirmou.

Esse reposicionamento ocorre porque o tabuleiro politico se moveu mais rapidamente, já que o presidente Michel Temer (MDB), o deputado Rodrigo Maia (DEM) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), também aceleraram o passo em direção à disputa presidencial nos últimos dias. A diferença é que, pelo menos até agora, eles têm mais apoio em seus respectivos partidos que o ministro da Fazenda. Meirelles está no PSD, que claramente se aproxima de Alckmin, forçando o chefe da economia a buscar alternativas em outras legendas.

O sonho dele era ser abrigado pelo MDB, principal partido do governo e que teria capacidade de alavancar sua candidatura tanto pela sua capilaridade nacional como pelo tempo de TV. Mas esse cenário começou a se mostrar muito difícil nas últimas semanas, especialmente depois do anúncio da intervenção no Rio de Janeiro e das declarações do marqueteiro de Temer que confirmou publicamente que o presidente é, sim, candidato.

O movimento de Temer, aliás, incomodou Meirelles, segundo fontes. A leitura era que o presidente vinha estimulando o projeto dele de viabilizar-se e, agora, partiu na mesma direção sem aviso prévio, deixando-o em uma situação complicada.

Meirelles também descartou nas entrevistas um boato que certamente prejudicaria sua candidatura: a criação de um novo imposto federal para financiar a segurança pública. Disse que não existe qualquer estudo nessa direção. "Não há a menor possibilidade de fazer isso [imposto para segurança], não está em estudos no Ministério da Fazenda. Essa proposta nunca foi trazida à Fazenda", disse, acrescentando que este ano não tem novo imposto.

A medida foi ventilada por Rodrigo Maia, em mais um gesto de ataque ao governo. Segundo ele, Temer teria levantado a ideia dentro do processo de intervenção no Rio de Janeiro, mas foi lembrado de que o Congresso não pode aprovar emendas constitucionais.

Na entrevista à Itatiaia, Meirelles comentou ainda sobre mudança nas regras eleitorais para que haja eleições a cada cinco anos. O ministro acredita que a proposta é válida ao reduzir o número de pleitos e merece ser discutida no país. Segundo ele, a medida diminuiria o número de eleições, mas poderia trazer "volatilidade nas expectativas". (Colaboraram Edna Simão e Andrea Jubé)

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