sexta-feira, 16 de março de 2018

Assassinato de vereadora afronta a democracia: Editorial | O Globo

A execução de Marielle Franco precisa ter uma investigação rápida e eficiente, para que seus autores sejam identificados e punidos exemplarmente

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), na noite de quartafeira, no Estácio, é um símbolo contundente do descontrole a que chegou a segurança no Rio, situação de anomia que levou à intervenção federal. Fatos sucessivos mostram que o estado virou uma espécie de terra de ninguém. Mata-se a qualquer hora, em qualquer lugar, por qualquer motivo. Marielle e seu motorista, Anderson Pedro Gomes, foram executados com pelo menos 13 disparos, por volta das 21h30m, quando ela seguia de carro para casa. O crime, que chocou o país e repercutiu internacionalmente, aconteceu numa região central da cidade, próximo à sede da prefeitura e ao Hospital Central da Polícia Militar. Quase naquele mesmo horário, um empresário foi morto na frente do filho de 5 anos, durante uma tentativa de assalto no Cachambi, Zona Norte do Rio.

Mas o assassinato de Marielle é bem mais do que um novo número na estatística de homicídios dolosos — ano passado, foram 5.332 em todo o estado. Porque, além do contexto da violência, representa um atentado contra as instituições e a democracia. Inadmissível num estado democrático de direito. Marielle, de 38 anos, quinta vereadora mais votada da cidade nas eleições de 2016, com o apoio de 46,5 mil eleitores, era uma legítima representante da sociedade na Câmara Municipal, onde estreou em 2017, empunhando bandeiras como os direitos humanos e das mulheres.

Era uma crítica da violência e, numa de suas últimas mensagens postadas numa rede social, perguntava: “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe”? Também chamava atenção para a truculência policial. Na semana passada, denunciou uma ação de PMs do quartel de Irajá na Favela de Acari.

Nesse sentido, o que acontece hoje no Rio é fato de extrema gravidade, que obviamente ultrapassa os limites do estado e ganha proporções nacionais. Fica evidente que, nessa insana escalada da violência em território fluminense, criminosos estão agindo como máfia, atacando agora agentes públicos e poderes constituídos. Um caminho perigosíssimo, que requer um basta imediato do Estado e de toda a sociedade. E, uma das questões incômodas, mas que precisam ser enfrentadas, é que alguns desses grupos mafiosos estão infiltrados no Estado. Como as milícias e o tráfico, que ditam suas leis nefastas e tentam se legitimar ocupando cadeiras nas casas legislativas.

Muitas dúvidas ainda pairam sobre as circunstâncias da morte de Marielle Franco e de seu motorista. Segundo as primeiras investigações, os indícios são de execução. Resta saber quem teria motivos para calar a vereadora. Pessoas próximas disseram que ela não recebera qualquer ameaça de morte.

Por tudo isso, o assassinato de Marielle Franco precisa ter uma investigação rápida e eficiente, para que seus autores sejam identificados e punidos exemplarmente. Essa é a oportunidade para que se exerça de fato o trabalho de integração entre as diversas forças de segurança proposto pela intervenção federal no Rio. Elucidar esse caso é dar uma resposta à sociedade. E, ao mesmo tempo, reafirmar o estado democrático de direito num momento em que ele é perigosamente ameaçado pelo banditismo.

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