sexta-feira, 9 de março de 2018

César Felício: O plano B de si mesmo

- Valor Econômico

Candidatura de Maia continua apenas uma hipótese

Com sua promessa de que vai renovar o que há de atrasado na política brasileira, o presidente da Câmara colocou um preço altíssimo para um recuo posterior. Ficou caro Rodrigo Maia retirar sua pretensão para apoiar Alckmin no futuro. É preciso deixar claro, contudo, que este ainda é o panorama mais provável.

Ninguém tem tanto a perder como Rodrigo Maia em uma candidatura presidencial. O quadro de presenças na convenção nacional do DEM mostra como a sua reeleição à presidência da Câmara seria certa na nova legislatura. Lá estavam os presidentes nacionais do MDB, PP, PPS, PSC, PRB e do SD. O PSDB, PHS, Avante e o PR mandaram representantes. É um conjunto de forças que soma 306 deputados, grupo que reunido fulmina qualquer contestação a uma recondução de Maia.

É por ter tanto a perder que torna-se um erro considerar que existe um ponto de não-retorno na trajetória que o parlamentar está adotando. Ele terá mais de uma opção em sua mão nos próximos 120 dias.

É precipitado, entretanto, pensar que o lançamento de ontem é só uma estratégia para barganha futura. O impasse na sucessão presidencial também é um dado real. Também está presente nos movimentos do deputado um componente de exaspero. Ou do desespero.

Esta hegemonia partidária que Maia representa na Câmara procurou se blindar no processo eleitoral deste ano, garantindo a parte do leão no fundo eleitoral e no horário eleitoral gratuito. Este foi o resultado da reforma política feita no ano passado. Houve um grande movimento reativo a um previsível repúdio popular da classe política tradicional, como as pesquisas estão deixando evidente.

No cenário sem Lula, não é fortuito o fato de quatro dos cinco primeiros colocados na última pesquisa eleitoral terem somados 44,9% das preferências e representarem apenas 8,2% da Câmara dos Deputados, de acordo com a posição oficial das bancadas na tarde de ontem. Bolsonaro, Marina Silva, Ciro Gomes e Alvaro Dias, se porventura eleitos, seriam absolutamente minoritários.

Os quatro possíveis candidatos dos partidos grandes, que concentram 38% dos deputados, somaram 13% no levantamento CNT/MDA. É claro que existe um problema de representatividade que não se circunscreve ao PSDB de Alckmin, como Maia insinuou em entrevista à "Folha de S.Paulo" publicada ontem.

Não são poucos os políticos e analistas da cena eleitoral que acreditam que o tempo na TV, a máquina partidária e os recursos do fundo de campanha farão a diferença e manterão a polarização tradicional nesta campanha. Se tal conjunção se der, a falta de reação eleitoral a uma crise de representatividade, será, em termos brasileiros, um fenômeno inédito.

Eleições gerais, como a que o Brasil terá agora, existem desde 1994. Estamos a sete meses da eleição. O mais bem cotado de uma grande sigla, Geraldo Alckmin, conta com 8% no último levantamento. Jamais um candidato neste patamar, a tal distância do pleito, ganhou uma eleição presidencial ou sequer foi para um segundo turno. Se acontecer, será a primeira vez.

Nem mesmo Fernando Henrique, na sempre lembrada eleição de 1994, é caso comparável. Na edição de 6 de março daquele ano, a "Folha de S.Paulo" divulgava um levantamento do Datafolha que mostrava Lula com 30%, Paulo Maluf com 13%, o tucano com 11%, Brizola 9% e Quércia com 7%, empatado com Antonio Carlos Magalhães.

Exatos quatro anos depois, em levantamento do Datafolha feito em fevereiro, Fernando Henrique tinha 35%, Lula 22%, Itamar 15% e Ciro 7%.

Um levantamento do Ibope de fevereiro de 2002 mostrava Lula com 24%, Serra com 19% e Roseana e Garotinho empatados com 17%. O Datafolha em março de 2006 exibia Lula com 36% e Alckmin com 20%. O de 2010 trazia Serra com 38% e Dilma com 33%. Em 2014, Dilma tinha nesta época 44% e Aécio 18%.

Fernando Henrique foi o único caso de um candidato que saiu do terceiro posto para o primeiro em uma corrida eleitoral, mas a zebra de 1994 em nada se parece com a magia que poderia impulsionar Alckmin, Rodrigo Maia, Meirelles ou Michel Temer. Fernando Henrique ganhou aquela eleição porque um plano de estabilização foi lançado e sua imagem ficou indissoluvelmente vinculada à nova moeda. A grande aliança que armou com o então PFL e o PTB serviram para lastro político, e não eleitoral.

A bonança econômica, que deverá atingir um pico exatamente no trimestre da eleição, pode ter seus efeitos diluídos porque demora a decantar. Não há o dia do milagre, como houve em 1994. Fernando Henrique estava com 11% naquele 6 de março, mas como ministro da Fazenda havia lançado a URV - base para a nova moeda - cinco dias antes. É impossível comparar a magnitude do que ocorreu há 24 anos com o que se passa hoje.

O lance alto de Rodrigo Maia tenta reposicionar as peças diante do drama de uma anomia. O chamado centro na política não tem segurança de que prevalecerá no cenário eleitoral. O parlamentar sabe que Alckmin está muito frágil para deixar a negociação de alianças para a última hora, como pretende.

O DEM tem para negociar um palanque em Pernambuco e outro na Bahia. Pode fazer o PSDB ceder espaço em Minas Gerais. Garantir um lugar na chapa majoritária para Rodrigo Garcia em São Paulo. Fazer o PSDB renunciar a sua pretensão no Distrito Federal. Obrigar Marconi Perillo a engolir Ronaldo Caiado em Goiás. Há um mundo a explorar.

Se no futuro a candidatura presidencial de Alckmin for uma catástrofe, o DEM terá conseguido bons acordos regionais que lhe garantam uma bancada expressiva. Se o tucano se revelar uma catástrofe já nas eleições, Maia pode até se tornar de fato um candidato. É um raro caso de político que é o plano B de si mesmo.

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