segunda-feira, 12 de março de 2018

Dividido, o centro sofre ameaça real dos extremos: Editorial | Valor Econômico

Faltam seis meses para a eleição e o país não sabe ainda quem serão os candidatos ao Palácio do Planalto e muito menos o que cada um pensa fazer na hipótese de ser o vitorioso. Antes disso, o que até agora se ouve é uma cacofonia de ofensas pessoais que serve para encobrir a falta de programas. As pesquisas indicam que mais de dois terços da população ainda não têm candidato. E não é propriamente por desconhecimento dos demandantes, pois vários já estiveram em disputas passadas, inclusive três deles (Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Marina da Silva) no segundo turno.

Pode ser que a partir de 7 de abril a disputa comece a ganhar contornos mais precisos. Essa é a data final para a filiação partidária de quem pensa em ser candidato, caso, por exemplo, do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, e para quem ocupa funções no governo deixar seus cargos, hipótese na qual se enquadra o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles e uma dezena de outros integrantes do gabinete de Michel Temer. Sabendo-se quem está habilitado a concorrer, os partidos podem enfim tratar das candidaturas e alianças para 2018.

Por enquanto, há muita espuma e pouca matéria sólida nos movimentos dos partidos. O Judiciário também não ajuda ao deixar em aberto uma disputa que diz respeito a todos os brasileiros. Se há alguma dúvida a respeito da prisão após o trânsito em julgado de condenação em segunda instância, cabe ao STF dirimi-la, pouco importa se o julgamento interessa a Lula. Pior será uma eleição realizada sob alta tensão.

Na radicalização que tomou conta da política brasileira, certamente há uma carrada de eleitores que preferem ver Lula preso. Mas há também outra parte que prefere vê-lo livre. A decisão a ser tomada pelo Supremo transcende a questão do encarceramento do velho líder populista.

O interesse pessoal, no geral, prevalece sobre o público. A manutenção da candidatura Lula é uma demonstração de como está atrasado o trabalho eleitoral do PT. Lula pode se livrar da prisão, mas é improvável que escape da lei da ficha limpa. Já é tempo de o PT e seu líder máximo tratarem de uma alternativa à sucessão. Menos mal que Lula condenou a ideia do boicote às eleições, pregada por setores do PT, e já indicou que, na sua ausência, o PT vai ter sim candidato a presidente.

Há notícias de que Geraldo Alckmin dispõe de grupos de trabalho discutindo sobre todas as áreas de governo. Mas se desconhece o que o governador de São Paulo pretende fazer, se chegar ao Palácio do Planalto. Alckmin parece ter evoluído suas ideias sobre o Estado-Empresário desde a eleição de 2006, que perdeu para Lula da Silva. À época foi constrangedora a tentativa de Alckmin de demonstrar que não tinha cabimento a ideia de que venderia a Petrobras e o Banco do Brasil. Agora, já declarou que é favorável à privatização da Petrobras. Em qual Geraldo Alckmin acreditar?

O risco da desarticulação do centro é abrir caminho para os extremos e para candidatos destemperados, casos de Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas quando o nome de Lula não é apresentado ao eleitor, e Ciro Gomes (PDT). O candidato do PDT saiu marcado de duas eleições por ser uma pessoa incapaz de manter o auto-controle. E aparentemente não aprendeu nada com a experiência, pois já nesta pré-campanha foi flagrado batendo boca com populares no meio da rua.

Ciro foi um dos ministros da Fazenda que ajudaram a consolidar o Plano Real, mas sabe-se lá por que razão costuma classificar o governo de Fernando Henrique Cardoso como sendo "um desastre sem precedente na história". Falar das barbaridades ditas por Bolsonaro é fácil, elas existem em profusão. Do elogio à tortura a manifestações patológicas de homofobia. Identificado com um nacionalismo estatizante, tratou de passar um verniz na imagem e apresentou o economista Paulo Guedes como guru econômico.

Mas bastou Guedes propor um programa radical de privatizações para Bolsonaro voltar atrás e dizer que não é bem assim.

Com o centro político dividido e desorganizado, Ciro e Bolsonaro já são vistos como candidatos possíveis de disputar o segundo turno. O eleitor não terá nem a opção de escolher o menos pior.

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