quarta-feira, 7 de março de 2018

Rosângela Bittar: Dispersão e convergência

- Valor Econômico

Há força eleitoral, mas a política deixa a desejar

Exemplos de indiscutível sucesso eleitoral, os candidatos a presidente da República Alvaro Dias (Pode-Paraná) e Marina Silva (Rede-Acre) mantêm sua aura de simpatizantes em discreto porém constante crescimento.

Alvaro Dias ameaça roubar o eleitorado do candidato Geraldo Alckmin (PSDB-SP) nos Estados do Sul. Seu êxito está no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Pesquisa de intenção de voto divulgada ontem pelo instituto MDA mostra que ele tem um de desempenho nacional de 3,3% com Lula na disputa e 4% sem Lula na disputa. O Instituto não detalha os dados por Estados mas, por enquanto, esse exército está localizado de São Paulo para baixo. Alckmin ficou com 6,4% em tabela onde consta o nome de Lula e 8,6% sem Lula.

Como o político amazonense Arthur Virgílio está ameaçando sair do PSDB, que não lhe deu legenda para disputar a Presidência da República sem prévias, e apoiar Alvaro Dias, essa candidatura pode extrapolar os limites em que está contida e ampliar-se pela amazônia.

Outro fenômeno eleitoral apontado na pesquisa MDA, a primeira da safra prevista para este mês, é Marina Silva. Ela recebe 7,8% dos votos nacionais com Lula no páreo e fica com a maior parte da herança dele com Lula fora, 12,8%.

Se Dias ameaça Alckmin no seu reduto, com um voto pessoal tecnicamente definido como provinciano, além da lembrança de quando foi governador do Paraná e senador, Marina perdeu boa parte de seu eleitorado desde a última disputa, mas ainda conserva o voto tecnicamente chamado de opinião, mais espalhado pelos Estados.

Ambos, porém, apesar dessa evidente aderência eleitoral, sofrem de um mal também indiscutível: o insucesso político, a falta de estrutura e densidade para uma empreitada como a disputa da Presidência.

No Paraná, o prejuízo a Alckmin com a candidatura de Alvaro Dias é evidente, como também é real a falta de densidade política de Dias, o que pode inibir sua performance eleitoral. Nem seu irmão, Osmar Dias, ex-senador, está ao seu lado. Os principais políticos do Estado, como o ministro Ricardo Barros, por exemplo, estão também fora de sua candidatura. Em Santa Catarina, toda a estrutura política tende para Geraldo Alckmin. O candidato a governador mais forte é Paulo Bauer (PSDB), que está aliado ao atual governador Raimundo Colombo (PSD). Eventualmente, poderão abrigar na aliança a candidatura Espiridião Amin para uma das vagas ao Senado, fechando as principais forças políticas do Estado com Alckmin.

Marina acaba de perder a pequena estrutura política que tinha, inclusive, no Congresso, com a saída de parlamentares da sua sigla. Saíram alegando exatamente o que lhe falta, projeto. Tanto Alvaro como Marina, sem estrutura política, com tempos ínfimos de propaganda na televisão e fundo partidário também pobre, são carentes de um outro ingrediente fundamental para a conquista da Presidência: o plano, o projeto de país, o discurso, a plataforma, a chamada "cara" da candidatura.

Marina não providenciou essa motivação nem nas candidaturas anteriores. Alvaro ainda não foi testado em disputa presidencial mas seu desempenho como senador, durante anos, não teve uma marca, uma participação política de relevo.

A força eleitoral não é inventada, é real. A força política, que não existe nesses dois casos, precisa ser construída. Esse é um fenômeno que ocorre fatalmente quando o quadro eleitoral não está polarizado. A dispersão fica facilitada e as candidaturas lastreadas no voto pessoal, provinciano, de opinião, romântico ou qualquer outro igualmente descompromissado, proliferam.

Essas candidaturas podem até avançar, apesar da falta de estrutura política, pelas redes sociais que, no entanto, ainda são uma incógnita. Restritas, tribunas de militantes agressivos, paraíso de empresas que vendem serviços, de organizações manipuladas, robôs, entre outros fantasmas, a eficiência eleitoral das redes está por ser provada.

Política em família
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o vereador Cesar Maia, ex-governador do Rio e seu pai, ambos do DEM, vivem um momento estranho de sua até agora cristalina relação de afeto familiar e cumplicidade política.

Cesar deu entrevista ao Valor desconhecendo como real a candidatura de Rodrigo a presidente, a ser lançada esta semana, ao mesmo tempo em que recomendou apoio ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Rodrigo foi ao Rio, numa viagem de emergência, no fim de semana, para entender o que se passava, e voltou a Brasília no mesmo dia reafirmando a sua candidatura presidencial e dizendo aos amigos que pediu ao pai menos sensibilidade paternal e mais sentimento político.

Ambos se respeitam muito, Cesar é uma espécie de ídolo do Rodrigo. O que teria levado, então, o pai a desmoralizar os planos do filho? Se sabem, não dizem a razão. Políticos não compreendem, por exemplo, por que ele optou pela rasteira numa declaração pública e não numa conversas pessoal.

Ainda que a candidatura não seja para valer, e não deve ser mesmo, pois desde sempre Rodrigo Maia é candidato à reeleição para a Câmara Federal e à reeleição para presidir a instituição na próxima Legislatura, continua incompreensível o episódio político-familiar.

A candidatura de Rodrigo Maia à presidência da República, não sendo real, pode ser entendida como uma tática para fortalecer seu grupo e o próprio DEM, mais para a frente, quando forem formadas as alianças e as chapas que disputarão em outubro. A avaliação do pai, porém, enfraquece completamente essa tática que deve ter demandado muita urdidura para ficar de pé.

Se Cesar Maia, que é o patrono intelectual e político de Rodrigo Maia, acha que a candidatura está completamente fora de hora e ele deveria apoiar Alckmin, o que dizer ao eleitorado? Rodrigo ficou desarmado e o lançamento de sua candidatura, se for mantido, será feito em terreno surreal. Ainda mais que se sabe que o que o DEM debate é se o candidato que vai oferecer a Geraldo Alckmin para ser vice será ACM Neto, o prefeito de Salvador, ou Mendonça Filho, ministro da Educação. Conversa tão avançada que, diz-se até, Alckmin preferiria Mendonça Neto.

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