quarta-feira, 18 de abril de 2018

Candidatos de centro ficam para trás nas pesquisas: Editorial | Valor Econômico

Opinião dos ‘partidos fundamentais’
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As pesquisas eleitorais mostram a indefinição de rumos do eleitorado, que caminha ao lado da grande oferta de candidatos (21), e o espectro de Lula a definir o resultado. A pesquisa feita pelo Datafolha confirma isso e traz novos dados, como o teste do independente Joaquim Barbosa, que finalmente se filiou ao PSB e pode ser considerado um competidor.

Para os investidores, que não estavam prestando muita atenção ao ciclo eleitoral e partiam da presunção de que com tantos candidatos de centro, um deles, munido de um programa de reformas, era a hipótese mais provável, os números da pesquisa foram um choque. Sem Lula na urna, boa parte desses candidatos têm desempenho pífio e nenhum chega sequer perto mesmo do segundo colocado - Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) predominam até agora com folga nos seis cenários em que Lula é impedido legalmente de concorrer.

O ex-presidente Lula é imbatível entre os 16 candidatos listados pelo Datafolha e venceria com grande facilidade em um provável segundo turno contra Bolsonaro, Alckmin ou Marina Silva. Lula é um grande eleitor e dois terços de seus apoiadores convictos disseram que votariam em quem ele indicasse como candidato, o que somaria, grosso modo, potencial eleitoral perto de 20%. Nem o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, nem o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner conseguem, na atual pesquisa, mais de 2% dos votos. O relevante, no caso, é que Lula não definiu sua preferência, até porque seria um reconhecimento explícito de que está fora do páreo e isso não lhe é conveniente ainda.

Segundo o Datafolha, com a exclusão dos bolsonaristas e dos radicais da esquerda, há 37% dos eleitores qualificados de "pêndulos", abertos a candidatos com boas propostas. É para correr nesta faixa que mais uma novidade eleitoral se apresenta, a do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Se havia resistências no PSB a lançá-lo, a preferência registrada de 8% a 10% dos entrevistados deve acabar com elas. Essa é uma mensagem alentadora para ele, que não entrou em campanha, não tem tido visibilidade diária de mídia e cujas ideias para o Brasil quase ninguém conhece. Trata-se de prestígio pessoal, pois em todos os cenários, sem Lula ou com Lula, sua performance praticamente não se altera.

No cenário de hoje, Lula transferiria um quinto de seus votos para Marina e 15% para Ciro Gomes, os principais beneficiados. Ex-ministra de Lula, Marina teve mais de 20 milhões de votos nas duas eleições presidenciais que disputou e não tem feito uso desse cacife. Seu desempenho sobe de 10% para 15%, para segundo lugar diante de Bolsonaro, porém dentro da margem de erro. O maior problema de Marina não é o da falta de simpatizantes, mas de estrutura de apoio partidário. Com dois deputados no Rede, ela sequer seria presença obrigatória nos debates eleitorais na TV.

O batalhão de candidatos de "centro" em geral não está entusiasmando. Henrique Meirelles e o deputado Rodrigo Maia não passam de 1% em todos os cenários. Temer obtém 1%, assim como João Amoedo (Novo) e Flávio Rocha (PRB). O melhor resultado do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), em todos os cenários, é de 8% (sem Lula), à frente de Álvaro Dias (Podemos), com 5%.

O candidato mais forte deste pelotão é Alckmin, que tem estrutura partidária e um programa coerente, mas que se encaixa no perfil de político tradicional pouco ousado. Como haverá fatalmente um processo de decantação das candidaturas, Alckmin poderá angariar apoio de seus aliados do DEM ou até mesmo do MDB de Temer, se Meirelles não decolar logo.

A pesquisa não mostrou mudança no cenário de alta imprevisibilidade da eleição presidencial. Bolsonaro, o primeiro colocado, é batido por todos os mais prováveis candidatos a disputar um segundo turno e parece ter atingido um teto de preferência. O PT não está fora do segundo turno, se Lula ungir um candidato com urgência. As inclinações do eleitorado tendem a se tornar mais claras a partir de julho e o tempo de TV terá um peso fundamental na competitividade dos candidatos. Nesse ponto, os postulantes das máquinas partidárias tradicionais têm nítida vantagem. Com esse grau de incerteza, mudanças podem ocorrer rapidamente.

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