terça-feira, 10 de abril de 2018

FMI relativiza a perda de empregos na indústria: Editorial | Valor Econômico

O Fundo Monetário Internacional (FMI) pôs em xeque a obsessão pelo emprego industrial por parte de alguns economistas e governantes. Estudo divulgado ontem, como antecipação de parte da mais recente edição do World Economic Outlook (WEO), que será debatido na reunião do Fundo, que começa na próxima segunda-feira, sustenta que a redução do emprego industrial não é necessariamente motivo de preocupação, "desde que as políticas corretas estejam colocadas".

Conduzido pelo economista Bertrand Gruss, o estudo reconhece que a redução dos empregos industriais é motivo de preocupação até mesmo em muitas economias avançadas. Está por trás de vários movimentos protecionistas recentes do presidente dos EUA, Donald Trump, por exemplo, como quando resolveu penalizar a importação do aço e do alumínio para defender as obsoletas siderúrgicas americanas. O crescente protecionismo global já foi um dos principais temas de debate das reuniões de 2017 e deve monopolizar as discussões também deste ano, na primeira reunião realizada desde que Trump desencadeou guerra comercial aberta contra a China.

No Brasil a preferência pelo emprego industrial também existe, enquanto a ocupação no setor de serviços é vista como de menor produtividade e menos bem paga. Apesar de a taxa de desocupação estar estacionada em 12,4% desde o trimestre encerrado em dezembro, depois de ter atingido a máxima de 13,2% no primeiro trimestre de 2017, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) comemora a continuidade da recuperação do emprego industrial, por ser majoritariamente formal. O FMI explica que a redução do emprego industrial é frequentemente vista como sinal de crescimento econômico mais lento e menor oferta de empregos bem pagos para trabalhadores menos capacitados, contribuindo para piorar a desigualdade.

Mas a realidade é que esses empregos estão diminuindo em todo o mundo. Nas economias avançadas, a indústria garantia 25% do emprego total na década de 1970 e caiu para pouco mais de 10% no início desta década. Ainda assim está acima do registrado nas economias emergentes e em desenvolvimento, em que se situa ligeiramente acima dos 10% desde meados da segunda metade do século passado. Segundo o estudo, em muitos países, o trabalhador está saindo da agricultura diretamente para os serviços; e as mudanças estruturais são parte natural da transformação estrutural da atividade econômica.

O estudo do FMI concluiu que uma forte expansão do emprego no setor de serviços em economias emergentes e em desenvolvimento pode fazer o trabalhador atingir o patamar de renda das economias avançadas mais do que o emprego industrial. Com base em dados das últimas cinco décadas, o estudo constatou que algumas especialidades na área de serviços apresentam crescimento e patamar de produtividade semelhante ao da indústria. Isso acontece em serviços nas áreas de transporte, telecomunicações, atividade financeira e empresarial, mais do que em segmentos como educação e saúde. Os segmentos de telecomunicações, intermediação financeira e varejo representam metade dos empregos globais em serviços de mercado e lideram o ranking de crescimento da produtividade.

Mas os economistas do Fundo alertam para as barreiras ao comércio internacional de serviços que, segundo eles, são geralmente mais elevadas do que para bens manufaturados. Além disso, são necessárias políticas para o desenvolvimento da capacidade do trabalhador para atuar nos segmentos mais ativos como financeiro e empresarial, e destravar o crescimento internacional, sem esquecer da infraestrutura física necessária, como telecomunicações e internet.

O setor público também deve estar preparado para atuar mais diretamente no caso de comunidades e regiões que se desenvolveram como centros industriais e veem seus empregos desaparecer. O governo pode ter que recapacitar trabalhadores afetados e reduzir custos da realocação. Não só isso, deve levar em conta que essas providências têm um custo e que pode ser impossível para alguns trabalhadores, especialmente os mais velhos, mudarem de ramo - eles vão precisar de alguma rede de proteção.

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