quarta-feira, 25 de abril de 2018

Haddad defende que PT continue diálogo com outras forças

Por Rafael Moro Martins, Cristiane Agostine e César Felício | Valor Econômico

CURITIBA E SÃO PAULO - O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, presidenciável do PSB, deve se encontrar com economistas no escritório do ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, no fim de maio. Uma série de encontros informais entre possíveis candidatos a presidente e economistas está sendo organizada pelo professor José Márcio Rego, da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP).

Anteontem, o grupo recebeu o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, e o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad, tido como uma opção a Lula dentro do PT.

"Não se trata de uma tomada de posição a favor de um ou outro, vamos conversar com outros candidatos, sempre em um espaço neutro", disse Rego.

Também participaram da reunião de ontem outro ex-ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, ligado a Ciro. Haddad é um dos coordenadores da campanha presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre pena em regime fechado em Curitiba e deve ser considerado ser considerado inelegível pela Justiça Eleitoral.

Em evento ontem, Ciro Gomes afirmou que gostou do encontro, mas não comentou sobre possível chapa. "Respeito muito o momento que o PT está passando", disse o pedetista. Haddad sinalizou que pretende continuar conversando com Ciro. Para Haddad, foi "uma discussão de pessoas que querem que o país encontre uma saída", disse "Já me encontrei com [Guilherme] Boulos e Manuela [d'Ávila, respectivamente presidenciáveis de Psol e PCdoB] nessa mesma condição. Esse canal tem que estar desobstruído, tem que fluir normalmente a comunicação. Não significa nada além do desejo de um certo campo de força de que o país saia dessa situação em que a centro-direita o colocou", afirmou em Curitiba, onde participou de evento do PT na vigília próxima à superintendência da Polícia Federal que pede a liberdade de Lula.

O ex-prefeito, apontado como plano B do PT caso a candidatura de Lula seja rejeitada pela Justiça Eleitoral, porém, garantiu que não tratou-se de um encontro político. "É óbvio que, quando esses encontros acontecem, surgem temas políticos também, as novas candidaturas que estão sendo colocadas, o perfil dessas candidaturas. Não se discutiu muito política, só tinha economista lá. Existe um senso comum nesse campo, independentemente de candidatura, é preciso frisar", argumentou.

De acordo com Bresser-Pereira, o apoio do PT é "fundamental" para Ciro viabilizar sua candidatura à Presidência da República. Para Bresser-Pereira, a "dupla perfeita" para disputar a eleição presidencial é Ciro com o ex-prefeito petista Fernando Haddad como vice na chapa.

"Ciro é um candidato de centro-esquerda antipopulista e desenvolvimentista. A dupla perfeita seria Ciro e Haddad", disse ao Valor PRO. Ao relatar a reunião. Bresser-Pereira disse que Haddad não se comprometeu em apoiar o presidenciável do PDT no primeiro turno, mas "revelou esse interesse". "Haddad depende muito de Lula", afirmou. "Lula ainda é a grande questão".

No encontro, Ciro reforçou que tenta conseguir autorização da Justiça para visitar o ex-presidente, preso desde o dia 7 em Curitiba. Há uma forte preocupação no meio acadêmico com o avanço das candidaturas de centro-direita e com a possibilidade de a esquerda ficar fora do segundo turno. "Queremos Lula solto, mas é impossível ele ser candidato, por cona da Ficha-Limpa. A grande esperança da esquerda é essa associação entre Ciro e Haddad", afirmou Bresser-Pereira.

Segundo o professor, Ciro teria dito que sua candidatura "não está fechada" e indicou a possibilidade de apoiar um candidato mais forte do que ele no PT, se houver. "O problema é que o PT não tem ninguém forte como ele", disse. "Se o PT pensar no interesse público, tem que apoiar Ciro", afirmou. "Mas é Lula quem vai resolver isso."

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