quarta-feira, 11 de abril de 2018

Hélio Schwartsman: Pena que não vá acontecer

- Folha de S. Paulo

A Lava Jato tem um viés contra o PT? Esse discurso encontra alguma verossimilhança porque se diz que a operação derrubou a Dilma, pegou o Lula e não fez nada parecido contra outro partido. Há, contudo, problemas lógicos e fáticos com esse raciocínio.

Em primeiro lugar, não me parece exato afirmar que a Lava Jato seja responsável pelo impeachment de Dilma. As investigações podem ter ajudado um pouco, mas os fatores preponderantes foram a ruína econômica que seu governo provocou e sua incapacidade política de rearrumar a casa. Também não podemos esperar que a Lava Jato pegue os Lulas dos outros partidos porque eles não existem. Nenhuma agremiação tem um líder com importância comparável à do petista.

No mais, se olharmos atentamente, verificaremos que a operação já condenou gente graúda de outros partidos, como Sérgio Cabral e Eduardo Cunha, do MDB, e traz um rol ecumênico de investigados. A Procuradoria também não dá paz ao presidente Michel Temer e seu entorno.

A questão é que, enquanto juízes das instâncias iniciais podem ser relativamente rápidos, pessoas com direito a foro especial, o que inclui parlamentares, ministros e governadores, se veem blindadas pela morosidade das cortes superiores. E disso petistas e a população têm razão em reclamar. Quando a cúpula da Justiça se torna sinônimo de impunidade, temos um problema institucional.

Não é só do Judiciário que devemos nos queixar. Uma das principais missões dos partidos políticos é atuar como “gatekeepers” (guardiães) da lisura de seus candidatos. Têm falhado miseravelmente nela. Mas ainda é tempo de se redimirem, negando a investigados legenda para concorrer a cargos que lhes dariam foro especial. Com isso, personagens como Aécio Neves (PSDB) e Romero Jucá (MDB) poderiam prestar contas à Justiça a partir de 1º de janeiro. Pena que isso não vá acontecer.

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