sexta-feira, 20 de abril de 2018

PSB vê Barbosa alinhado à sua diretriz econômica

Ex-ministro, que se define como social-democrata, recebe documento com propostas da sigla; em reunião com cúpula partidária diz que ‘ainda não é candidato’

Eduardo Kattah, Pedro Venceslau, Julia Lindner, Isadora Peron e Irany Tereza | O Estado de S. Paulo

O PSB considera que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa está alinhado às diretrizes do partido para a economia. Barbosa, que poderá disputar a Presidência pela legenda, costuma se definir como um social-democrata, adepto da responsabilidade fiscal, mas defensor de um Estado indutor do desenvolvimento social. A um interlocutor, o ex-ministro do STF afirmou que sua história de vida, marcada pela superação da pobreza, não lhe permite abraçar um projeto ultraliberal ou defender o “capitalismo selvagem”.

No encontro com a cúpula e os principais líderes do partido, nesta quinta-feira, em Brasília, Barbosa recebeu a cópia de um documento da Fundação João Mangabeira – braço teórico do PSB – com os princípios que devem nortear o eventual futuro programa de governo da legenda.

O nome de Barbosa ganhou força como candidato à Presidência após a mais recente pesquisa Datafolha, na qual alcança entre 8 e 10 pontos porcentuais de intenção de voto.

Na reunião do PSB, o ex-ministro do STF frustrou correligionários mais animados ao não assumir a pré-candidatura. “Há dificuldades dos dois lados. O partido tem sua história e eu tenho minhas dificuldades do lado pessoal. Não convenci a mim mesmo que devo ser candidato.”

Ele, porém, não escondeu a satisfação com o desempenho na pesquisa. “Olha, para quem não frequenta ambientes públicos, órgãos públicos, não dá entrevista, leva uma vida pacata, está muito bom, né?”

Resistências internas ao nome de Barbosa, concentradas nos governadores Márcio França (São Paulo) e Ricardo Coutinho (Paraíba), são consideradas pontuais pela direção da sigla.

CONVERGÊNCIA
A avaliação é de que a candidatura depende do ex-ministro. No longo processo de negociação que culminou com a sua filiação, há cerca de duas semanas, Barbosa ouviu e defendeu teses alinhadas com o pensamento majoritário do PSB, conforme dirigentes socialistas.

Nas conversas com deputados e dirigentes, Barbosa defendeu programas de transferência de renda, ampliação do acesso às universidades, manutenção do Bolsa Família e admitiu um projeto de privatização que não chegue a setores estratégicos.

“A posição que o Joaquim nos colocou sobre privatização é a mesma que a nossa: não tem que ficar com o setor de portos, aeroportos e estradas”, disse o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG). Neste caso, estatais como Petrobrás e Eletrobrás ficariam fora do programa.

Outro tema tratado nas conversas reservadas entre o ex-ministro do STF e o PSB foi a reforma da Previdência. Quando integrava o Supremo, Barbosa votou pela constitucionalidade da cobrança de contribuição previdenciária de servidores aposentados, no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

Mais recentemente, ele já se manifestou a favor de uma reforma do sistema de aposentadorias, mas contra o projeto do governo de Michel Temer.

“Joaquim nos disse que essa proposta apresentada não rompeu com privilégio nenhum. Faz com que os pobres coitados pendurados no teto do INSS tenham que pagar pela reforma”, disse Delgado. Segundo ele, Barbosa defende uma reforma “escalonada, não de uma vez”, que respeite “o direito adquirido”.

Barbosa não indicou aos interlocutores um economista de referência ou uma escola ou corrente de preferência. O PSB não tem hoje um nome majoritário. O último foi Luciano Coutinho, que se afastou da legenda após ingressar nos governos petistas.

Segundo o secretário-geral da legenda e presidente da Fundação João Mangabeira, Renato Casagrande, a intenção é que o ex-ministro se reúna com diversos economistas nos próximos meses. Ele poderá se encontrar com Armínio Fraga, que presidiu o Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso.

No início de março, o 14.º congresso nacional do PSB marcou um “reencontro” do partido com a sua origem de centro-esquerda. No documento Projeto Brasil – entregue ontem a Barbosa e aprovado no congresso –, o partido defende propostas como uma “política fiscal contracíclica” e aumento dos tributos sobre patrimônio e renda.

“Não é ainda o programa de governo, mas é um projeto de longo prazo e a visão política e econômica do PSB”, disse Casagrande. /

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