quinta-feira, 24 de maio de 2018

Alckmin critica teto de gastos, mas nega que, eleito, revogará medida

Por Fernando Exman, Ricardo Mendonça e Fernando Taquari | Valor Econômico

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Pré-candidato à Presidência pelo PSDB, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin criticou ontem as regras para cumprimento do teto de gastos públicos, mecanismo criado em 2016 pelo governo Michel Temer. Minutos depois das críticas, o tucano negou que pretenda revogar o dispositivo caso seja eleito presidente. Afirmou que o objetivo da legislação é correto, mas que os aumentos de gastos com pessoal acabam prejudicando o custeio e o investimento.
A fala crítica ao teto de gastos ocorreu durante a Marcha de Prefeitos, em Brasília. "Mas que teto é esse? Esse teto vai acabar com o investimento", discursou Alckmin aos mandatários, acrescentando que a iniciativa não é razoável. "Não foi concebido corretamente e não foi cumprido adequadamente", afirmou o ex-governador.

A ponderação, minutos depois, foi feita em entrevista coletiva. "A solução vai ser o Brasil voltar a crescer, melhorar a arrecadação e reduzir despesas", disse. Em seguida, repetiu a promessa de zerar o déficit primário em dois anos. E ainda sugeriu que poderá manter Ilan Goldfajn na presidência do Banco Central, caso vença a eleição. "Gosto do Ilan Goldfajn. É uma boa proposta mantê-lo [no cargo]", disse.

Em resposta ao tucano, o pré-candidato do MDB a presidente, Henrique Meirelles, defendeu o dispositivo adotado durante sua gestão no Ministério da Fazenda. "O teto de gastos era absolutamente necessário", afirmou o emedebista, destacando que a medida foi essencial para restaurar a confiança no Brasil. "É um equívoco grande do [ex] governador", declarou.

O ensaio de crítica de Alckmin à política econômica do governo Temer no período da tarde, em Brasília, contrasta com o comportamento demonstrado pela manhã em São Paulo durante uma sabatina promovida pelo portal Uol em parceria com o jornal "Folha de S.Paulo" e o SBT.

Após a sabatina, a reportagem do Valor perguntou a Alckmin se ele tinha alguma crítica ou se poderia apontar alguma divergência em relação às opções econômicas adotadas por Temer. O tucano não citou nenhum ponto de discordância. Disse apenas que era hora de falar sobre o futuro. Durante o evento, ele havia defendido teses e medidas que foram encampadas pelo governo, como a reforma trabalhista e a reforma da Previdência.

Um aspecto da sabatina que chamou a atenção foi o aceno positivo ao ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência pelo PDT e, portanto, seu provável rival na disputa eleitoral.

Depois de criticar o PT e o deputado Jair Bolsonaro (PSL), outro pré-candidato ao Planalto, Alckmin disse que Ciro é um homem "com espírito público" e que não tem postura corporativista. Ele lembrou que o ex-ministro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva militou no PSDB durante muitos anos, época em que foi "um bom" prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro da Fazenda (sob a Presidência de Itamar Franco).

"[Hoje] temos visão diferente, ele quer estatizar, eu quero privatizar", disse Alckmin. "Tenho discordância conceitual com Ciro, mas acho que ele tem espírito público", completou.

As colocações elogiosas podem ser entendidas como uma manifestação de reciprocidade. Dois dias antes, na mesma sabatina, Ciro disse que se enxerga no segundo turno contra Alckmin e classificou o tucano como "uma pessoa muito mais qualificada" que Bolsonaro, um adversário que seria "menos difícil" de ser enfrentado na etapa final.

Alckmin afirmou na sabatina que "caminha" para a consolidação de uma aliança de cinco partidos políticos. Ele não mencionou quais seriam essas siglas. Mas negou que o MDB seja um deles, já que a legenda de Temer deve lançar na corrida presidencial a candidatura de Meirelles.

Sobre a prisão do ex-governador de Minas Gerais Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB, Alckmin repetiu que a lei precisa ser cumprida e que o seu partido "não passa a mão na cabeça" de corruptos e não está imune à crítica. Ele desconversou, porém, quando questionado se defendia a expulsão de Azeredo do PSDB. Disse que o correligionário já está sendo preso e não atua no partido há mais de uma década.

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