domingo, 20 de maio de 2018

Bruno Boghossian: Temer e os militares

- Folha de S. Paulo

Presidente se alinha aos quartéis e amplia influência das Forças Armadas

Michel Temer procurou o comandante do Exército, general Villas Bôas, para uma conversa reservada nos primeiros meses de 2016. O vice-presidente ouvira que Dilma Rousseff buscava garantias dos militares diante do processo de impeachment que corria contra ela. Temer queria paridade de armas.

Até então, a relação entre o vice-presidente e Villas Bôas era protocolar. Quando Temer pedia uma audiência, o comandante notificava o ministro da Defesa e, depois do encontro, relatava a ele o teor da conversa.

Dessa vez, Temer foi discretamente à casa de Villas Bôas para um jantar intermediado pelo general Sérgio Etchegoyen (amigo do comandante). O vice queria saber como os militares se comportariam se o Congresso votasse pela saída de Dilma.

Segundo um auxiliar de Temer, Villas Bôas foi comedido: sinalizou apenas que decisões tomadas com base na Constituição seriam respeitadas. O futuro presidente ficou satisfeito.

O grupo de Temer buscou respaldo constante na caserna durante a articulação do impeachment. “Estou conversando com generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir”, disse Romero Jucá (MDB) na famosa conversa com Sérgio Machado.

Com Temer no poder, o Exército multiplicou seu prestígio político. Militares ocupam cargos-chave, integram o núcleo de decisões do governo e influenciam a agenda econômica. A estratégia para a defesa do comércio exterior, por exemplo, é alimentada com informações da Abin, subordinada a Etchegoyen.

A deferência é tanta que Temer se alinha frequentemente aos quartéis em situações delicadas. Quando Villas Bôas disparou um tuíte que soou como pressão sobre o STF na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula, o presidente fez vista grossa.

O aceno mais recente foi dado após a divulgação do memorando da CIA que afirmava que o general Ernesto Geisel autorizou execuções na ditadura militar. “Nem tudo o que a CIA diz é necessariamente verdade, uma verdade absoluta”, contemporizou.

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