terça-feira, 15 de maio de 2018

Candidato não pode fugir de perguntas difíceis: Editorial | O Globo

Não bastasse a campanha eleitoral ser mais curta, há questões graves como a da Previdência que requerem respostas objetivas, sem escamoteamentos

Até porque a campanha eleitoral, este ano, é mais curta — o período de propaganda dita gratuita, por exemplo, ficou dez dias menor, passando de 45 para 35 —, os candidatos precisam se definir e ser claros, com alguma presteza, em um momento especialmente grave para o país.

Mesmo que se possa considerar ainda cedo para esclarecimentos, não é bom sinal que dos quatro concorrentes ao Planalto mais bem colocados nas pesquisas — Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) —, aos quais o GLOBO encaminhou 11 perguntas sobre a vital reforma da Previdência, nenhum tenha dado uma resposta completa, embora três hajam concordado que as mudanças são necessárias. Um, Bolsonaro, líder nas sondagens, nada respondeu.

Marina, Alckmin e Ciro não se definiram, por exemplo, sobre a fixação de uma idade mínima para a obtenção da aposentadoria, e acerca das diferenciações de parâmetros para a obtenção do benefício por homens e mulheres. A questão específica do limite de idade — estabelecido em 62 anos para mulheres e 65 para homens, na proposta do governo estacionada na Câmara — é uma das cruciais na reforma, porque se constitui causa importante do enorme e crescente desequilíbrio do sistema. Como é possível aposentar-se por tempo de contribuição ao INSS, a idade média do aposentado é muito baixa (aquém dos 60 anos). E porque avança a expectativa de vida do brasileiro, o sistema precisa arcar com benefícios por aproximadamente mais 20 anos, sem que haja contribuições para financiar os gastos. Daí o crescimento acelerado do déficit.

No ano passado, o rombo total — assalariados do setor privado e servidores públicos — foi de R$ 268,8 bilhões, tendo sido de R$ 226,8 em 2016, um salto de 18%. Os candidatos não podem se esquecer do momento delicado por que passam as contas públicas. As despesas previdenciárias são o maior item do Orçamento, e a folha de salários dos servidores vem em seguida.

Político não gosta de abordar temas impopulares. Mas há alguns, pela sua importância, que não podem ser desconsiderados. Previdência e todos seus subtemas — como a indexação de benefícios — estão neste caso.

O escamoteamento feito na campanha de 2014 pela candidata à reeleição Dilma Rousseff funciona como alerta. Desde há muito tempo, no final do segundo governo Lula, foi alertado que persistir na política de aumento de gastos, lançada para reduzir o impacto da crise mundial iniciada em 2008/9, era um suicídio.

O tema foi abordado na campanha, incluindo a Previdência, e desconsiderado por Dilma. Eleita, foi forçada a tentar um ajuste fiscal, que denunciara na propaganda. Desabou a sua popularidade e desapareceu a margem de manobra no Congresso. Como cometera crime de responsabilidade, na manipulação das contas públicas, terminou perdendo o mandato.

Nenhum comentário: