quinta-feira, 31 de maio de 2018

No Sul, Alckmin diz que ‘menos de 20% já dá’

Atrás de Jair Bolsonaro e Álvaro Dias na região, tucano afirma que, agora, a realidade política ‘é outra’

“O cenário hoje está mais fragmentado. Mas estaremos no segundo turno” Geraldo Alckmin Pré-candidato a presidente

Silvia Amorim | O Globo

-PORTO ALEGRE (RS)- Com intenções de voto no Sul do país comparáveis às de um candidato nanico, o presidenciável tucano Geraldo Alckmin admitiu ontem que não espera um resultado hegemônico do PSDB na região, como aconteceu em eleições passadas. A declaração, dada durante uma série de compromissos públicos no Rio Grande do Sul, mostra que a campanha do ex-governador paulista prevê um cenário desfavorável em uma parte do país que já foi um “porto seguro” eleitoral da sigla.

— Não precisamos de 40% dos votos como em eleições anteriores. Menos de 20% já dá. É outra realidade. O cenário (quadro de candidatos) hoje está mais fragmentado. Mas vamos crescer e estaremos no segundo turno — disse Alckmin, após participar de uma sabatina na Associação Comercial e Industrial de Novo Hamburgo (RS).

Além da pulverização de candidatos, o PSDB enfrenta outros problemas para alavancar os votos na região. Sem uma bancada forte de deputados federais — o partido tem apenas a deputada federal Yeda Crusius pelo estado —, Alckmin vai depender dos palanques do prefeito de Porto Alegre, Nelson Marquezan Júnior, e do pré-candidato do PSDB ao governo gaúcho, o ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite. Nenhum deles, porém, acompanhou o ex-governador de São Paulo durante todo o giro pelo Sul ontem. Marquezan Júnior apareceu apenas no último compromisso, já no início da noite, e Leite está no meio de uma viagem ao exterior.

SEM RURALISTAS NA AGENDA
O presidenciável desembarcou ontem de manhã no Rio Grande do Sul para cumprir uma agenda de conversas com empresários, políticos e representantes da área da saúde. É a segunda vez que Alckmin viaja ao Sul na pré-campanha — ele havia visitado Porto Alegre no início de abril. Não entraram no roteiro encontros com ruralistas, grupo de forte influência política e econômica na região. Parte das lideranças do agronegócio tem flertado com o presidenciável do PSL, o deputado Jair Bolsonaro.

Em abril, pesquisa Datafolha mostrou que Alckmin tem, na Região Sul, o mesmo patamar de intenções de voto que registra no Nordeste (4%), reduto do PT e onde o PSDB tem seus piores resultados eleitorais historicamente. No mesmo período, em 2014, o senador Aécio Neves oscilava entre 12% e 17% das intenções de voto. Em abril de 2010, o senador José Serra ostentava índices, hoje inimagináveis, de 45% a 48%. Em 2006, o próprio Alckmin registrava números melhores do que os atuais: cerca de 15% de intenções de voto.

O encolhimento dos tucanos no Sul em 2018 passa pelo surgimento de uma concorrência que não existia em disputas anteriores. Não se trata apenas de Bolsonaro, mas também da candidatura do senador Álvaro Dias, presidenciável pelo Podemos. No último Datafolha, eles registraram, respectivamente, 19% e 16% dos eleitores da Região Sul.

Quem mais preocupa a campanha de Alckmin na região é a candidatura de Dias porque, como ex-integrante do PSDB, ele estaria abocanhando um eleitorado histórico tucano. No caso de Bolsonaro, a equipe de Alckmin avalia que o eleitorado é mais diverso. Nas últimas semanas, o tucano tem feito acenos para o eleitorado mais identificado com Bolsonaro propondo, por exemplo, facilitar porte de arma para moradores de áreas rurais.

Com a ascensão dos concorrentes, fechar alianças também passou a ficar mais complicado na região. O PP, um dos partidos com maior influência no Rio Grande do Sul, ameaça dar apoio a Bolsonaro. Em 2014, a sigla pediu voto em Aécio no estado. O pré -candidato do PP ao governo gaúcho, deputado Luís Carlos Heinze, tem declarado voto no presidenciável do PSL.

A esperança de Alckmin para melhorar no Sul é o palanque estadual próprio para o governo estadual. Embora não tenha participado dos eventos de ontem, Leite é visto como um bom cabo eleitoral por ter deixado a prefeitura de Pelotas bem avaliado e ser jovem.

— Vamos crescer. Temos um bom candidato ao governo do estado — afirmou ontem.

A campanha de Leite terá a tarefa de trazer para a candidatura presidencial tucana eleitores simpatizantes de Bolsonaro e Dias. O mesmo vale para os ruralistas. O pré-candidato negou ontem que ausência de compromissos com ruralistas fosse um reflexo da aproximação com os adversários.

— Vamos voltar para outros encontros — afirmou.

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