sábado, 30 de junho de 2018

Roberto Freire: Romper a inércia

- Diário do Poder

Na quinta-feira passada, 28 de junho de 2018, houve um ato em São Paulo, no Teatro Eva Herz, pela unidade das forças democráticas e reformistas. Foi representativo.

Havia lideranças de todos os quadrantes do campo democrático e republicano, além de representantes das candidaturas de Geraldo Alckmin, Marina Silva e Álvaro Dias.

Alguns citaram o quadro das pesquisas eleitorais, que desde janeiro está praticamente inalterado.

Relativizo as pesquisas. Perguntar a eleitores em quem votariam para presidente, fora do período eleitoral propriamente dito, sem que as candidaturas a governador, senador, deputados federais e estaduais estejam estabelecidas de fato e de direito, sem o alinhamento dos prefeitos e vereadores Brasil adentro, sem que as diversas organizações e entidades da sociedade civil tenham se definido, sem propaganda eleitoral, sem que as pré-candidaturas possam se mostrar plenas nas redes sociais, só pode colher resultados de baixa serventia para a definição de rumos.

O que efetivamente as pesquisas têm mostrado é que a grande maioria do eleitorado está sem candidato.

E mais, praticamente todas as pesquisas mostram que há uma rejeição aos extremos.

O que os levantamentos indicam também, à farta, preocupante, é uma negação e rejeição generalizada à política e aos políticos.

Nesse sentido, todos os candidatos e candidatas do campo democrático e republicano têm chances eleitorais aproximadas, se o que hoje é apontado vier a valer em 7 de outubro próximo, o que eu duvido, baseado em minhas quase seis décadas de vida política.

O que fazer agora? Precisamos sair do discurso genérico da unidade, para a prática da unidade.

Sugeri, em Brasília, quando do lançamento do Manifesto “Por um polo democrático e reformista”, que os presidentes dos partidos ali presentes se reunissem, para dar sequência.

Proponho um pacto. O pacto é a proclamação aos quatro ventos do desejo de um rumo unitário, com a escolha clara dos adversários, o bolsonarismo e o lulopetismo.

O pacto é, todos sentados à mesa, estabelecermos critérios objetivos para o afunilamento das candidaturas desse campo.

Pesquisas valem algo? Valem, sim, sobretudo aquelas que peçam indicações de candidaturas e de rejeição, espontaneamente declaradas. Valem as pesquisas que façam os eleitores apresentarem características dos candidatos em quem votam ou votarão.

Palanques também valem. E muito. A capilaridade da campanha, nos quase seis mil municípios brasileiros, pode se revelar mandatória.

Coligações também contam para o tempo radiotelevisivo, para recursos e para o alargamento das possibilidades de votações. Alguém duvida?

O pacto também deverá conter o desejo publicamente manifesto dos pré-candidatos de se oferecerem como o polo da unidade, mas que também estejam dispostos a se incorporar na pré-campanha que vier a se manifestar como a de maior alcance e perspectiva de vitória, já no primeiro turno, segundo os critérios mutuamente acordados.

O pacto também deve visar o dia seguinte às eleições de outubro. Precisamos dar posse, em 1º de janeiro, a um governo que tenha condições de pacificar o país e recolocá-lo nos trilhos, em comunhão com o novo Congresso eleito.

Sobre a mesa, falo claramente, defendo que cheguemos a pontos essenciais, mínimos, basilares, em torno da democracia, da república e do social.

Estamos praticamente a cem dias para o pleito de outubro. Nossa meta de curto prazo é a conquista segura de um lugar no segundo turno para a candidatura mais viável do polo democrático e reformista.

Temos de romper a inércia e jogar unitariamente o campo democrático, republicano, reformista e da justiça social no lugar onde ele será imbatível, nas ruas. O quanto antes.
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Roberto Freire é presidente do PPS

Murillo de Aragão: Uma questão de narrativa

- O Estado de S.Paulo

Os eleitores querem candidatos que demonstrem que as mudanças começam já

Uma das palavras mais irritantes no momento é “narrativa”. Tudo é uma questão de narrativa. Falta aos candidatos uma narrativa... Ou: o candidato X tem uma narrativa... Enfim, por mais lugar-comum que seja falar em narrativas hoje, o fato é que elas são importantes no contexto eleitoral.

A eleição é uma operação a futuro e a descoberto. Não tem “hedge”. A opção feita é para ganhar ou perder. Não há alternativa. Assim, para alguém fazer uma opção tão arriscada deve ter partido de alguns pressupostos. Basicamente, existem três fatores que motivam um eleitor a escolher um candidato.

O primeiro é meramente fisiológico. Vota-se em troca de algo palpável e visível que possa ser, idealmente, executado de imediato. O voto fisiológico pode ser rasteiro, em troca de uma dentadura ou de tijolos, ou, ainda, embalado em interesses corporativistas. Vota-se na expectativa de que o eleito possa assegurar ou obter benefícios – imediatos ou futuros – para o eleitor.

A segunda opção é ideológica. Vota-se por afinidade de princípios ideológicos. Esse é um eleitor escasso no Brasil. Até pelo fato de os partidos políticos, que são os veículos das ideologias, serem instituições desmoralizadas. Poucos partidos são verdadeiramente ideológicos. E quase todos são de esquerda.

A terceira opção reside no encantamento que o candidato possa causar no eleitor com sua reflexão sobre a conjuntura. O eleitor, a partir de uma visão desideologizada da realidade, opta pelo candidato que melhor representar seus anseios e expectativas. A Alemanha não era nazista, mas escolheu Hitler. O Brasil não era petista, mas escolheu Lula. Não foram opções ideológicas.

Demétrio Magnoli: Lógica sectária

- Folha de S. Paulo

Há algo de novo no front quando surge uma direita nostálgica do regime militar

O sonho explícito de Ciro Gomes é encarar Bolsonaro no segundo turno. Na avaliação dele, sua marcha ao Planalto seria assegurada pela repulsa majoritária a uma candidatura da direita selvagem.

Mas Ciro não enxerga a hipotética disputa com Bolsonaro sob o prisma exclusivista da oposição esquerda/direita. Seus coreografados movimentos de aproximação com o DEM podem até não dar em nada, mas evidenciam que ele aposta numa abertura rumo ao centro. O PT interpreta o cenário eleitoral em termos muito diferentes, como revela a análise de André Singer (Folha, 23.jun).

Singer é um dos mais destacados "intelectuais orgânicos" do PT. Segundo ele, tudo que aconteceu na política brasileira recente —depressão econômica, impeachment, Lava Jato, desmoralização generalizada dos partidos e dos políticos— tem relevância apenas marginal. São "epifenômenos", como diria um marxista antiquado.

No fim, a morfologia de nossa paisagem política derivaria de uma implacável "estrutura profunda", imune às crises conjunturais. Abaixo da poeira, permaneceria decisiva a "lógica polar" esquerda/direita. A disputa PT versus PSDB, marca inconfundível das eleições presidenciais desde 1994, conheceria um novo capítulo, ainda que com nomes trocados.

"Lula (ou quem ele indicar), Ciro, Manuela e Boulos precisarão, de algum modo, se entender", escreve Singer, exprimindo o desejo de trancar Ciro na jaula da esquerda. Mas o principal está em outro lugar: "Tal como melancias no caminhão, o sacolejo irá arrumando as relações entre Bolsonaro, Alckmin, Meirelles (Temer), Maia e Marina".

Na lógica sectária de Singer, inexistem divergências fundamentais entre Bolsonaro, de um lado, e os partidos situados na ampla faixa que se estende da centro-direita à centro-esquerda, de outro. A direita antidemocrática representaria apenas uma encarnação circunstancial do PSDB, do PMDB ou da Rede.

João Domingos: Eleição sem partidos

- O Estado de S.Paulo

O voto será dado a nomes, não interessa ao eleitor a qual sigla está vinculado o candidato

O segundo turno da eleição para mandato-tampão do governador de Tocantins, realizado no domingo passado, mostrou que a soma de votos brancos e nulos com as abstenções chegou a 51,83% do total de pessoas aptas a votar. Esse porcentual representa 527.868 eleitores e supera a soma dos votos conquistados pelos dois candidatos que disputaram o segundo turno: 490.461.

Estatísticos, cientistas políticos, jornalistas especializados em política e outros buscam entender o que aconteceu em Tocantins. Seria o desinteresse por uma eleição extemporânea? Dificuldades de locomoção do eleitor? Distanciamento da população em relação aos políticos? Desesperança? É possível que seja uma soma de tudo isso a razão que levou a números que chamaram tanto a atenção. (É preciso lembrar que mesmo na condição verificada em Tocantins, em que a soma de abstenções e votos brancos e nulos ultrapassou a dos votos nos candidatos, a eleição vale. Qualquer notícia diferente é fake news. E elas circulam a rodo por aí).

Mesmo que o cenário brasileiro seja de muita incerteza e que não se verifique, pelo menos por enquanto, grande empolgação em relação às eleições de outubro, que se avizinham, ninguém se arrisca a dizer que abstenções, brancos e nulos vão passar dos 50%. Calcula-se que entre 60% e 65% comparecerão às urnas, o que permite trabalhar com um eleitorado em torno de 90 milhões e 100 milhões, levando-se em conta que o número de eleitores deverá chegar perto dos 150 milhões.

Míriam Leitão: O enigma JBS

- O Globo

A maior fonte de faturamento do grupo JBS vem das receitas em dólar e, neste momento, a alta do câmbio o favorece. A empresa só se internacionalizou com a ajuda dos recursos oferecidos pelo Estado. Sua delação mostrou que essa ajuda foi irrigada por dinheiro dado pelo grupo, a maioria de forma ilegal, para as campanhas políticas, principalmente do PT. A dúvida é: valeu a pena?

Joesley Batista costumava dizer que sem ele e o irmão Wesley no comando as empresas da holding J&;F entrariam em crise. Não foi o que aconteceu. O mercado viu com bons olhos o resultado trimestral. O grupo vendeu alguns ativos, como Alpargatas e Eldorado, para fazer caixa, e se focou no negócio principal, tentando superar a crise que a atingiu a partir do momento em que os irmãos Joesley e Wesley e outros executivos do grupo fizeram suas delações.

O economista Rafael Passos, da Guide Investimentos, confirma essa avaliação positiva do mercado sobre a empresa neste começo de ano, em grande parte porque o grupo tem se beneficiado das operações nos Estados Unidos, de onde vêm 80% da sua receita.

— A gestão do grupo foi na direção correta após a crise. Eles venderam ativos, concentraram no setor de carne, fizeram caixa e conseguiram manter aberta as portas dos bancos — diz, ressaltando que a alavancagem (dívida) caiu de 4,2 vezes o fluxo de caixa para 3,2, um valor aceitável pelo mercado financeiro.

A grande questão quando se analisam os dados do grupo JBS é a dúvida: qual foi o custo-benefício da corrupção? A série estatística da receita do grupo mostra um estonteante crescimento exatamente nos anos em que o Brasil foi governo pelo PT. Joesley passou a ter acesso direto aos governantes e aos recursos do BNDES. Em 2004, as receitas foram de R$ 3,5 bilhões, em 2016 haviam saltado para R$ 163 bilhões, multiplicandose por 46. Já era um grupo grande e bem sucedido, mas virou um gigante mundial graças ao dinheiro público.

Julianna Sofia: Sem mágica

- Folha de S. Paulo

Arsenal do governo Temer para estimular economia zerou, e expectativa de PIB segue minguante

O repertório governista para impelir a atividade econômica, ainda neste ano, está zerado. Foi raspa do tacho a liberação de R$ 34 bilhões das contas do PIS/Pasep, o que pode beneficiar 29 milhões de trabalhadores e tem potencial para reproduzir o efeito benigno que o saque das contas inativas do FGTS no ano passado gerou na retomada.

“Não tem mágica. Não tem mais pacotes. Tem medidas que levam a melhorar o ambiente. Temos que insistir nas medidas microeconômicas”, diz o ministro Esteves Colnago (Planejamento), sem grande entusiasmo. Pudera. A agenda microeconômica prioritária, reciclada e apresentada pelo governo Michel Temer em fevereiro, teve apenas 1 dos seus 15 projetos aprovados pelo Congresso até o momento —enquanto é outro o ímpeto do Legislativo para apreciar pautas-bomba.

Sem mágica, sem pacotes, sem medidas, a expectativa de PIB é minguante. O Banco Central reestimou o crescimento para 2018. Com a paralisação dos caminhoneiros e a deterioração das condições do mercado financeiro, a alta esperada caiu de 2,6% para 1,6%. E à medida que anda o relógio eleitoral e aumentam as incertezas sobre o futuro presidente, o que já está ruim poderá ficar pior.

Ricardo Noblat: O Neymar do Supremo Tribunal Federal

- Blog do Noblat

Esta semana, Lula perdeu por 3 x 0

Com o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, não tem essa de cai, cai, nem de se fingir nocauteado, nem de tentar dribles desnecessários pelo puro prazer de se exibir ou de humilhar os adversários.

Ele está mais para o Neymar de antes do PSG do que para o Neymar dos dois primeiros jogos da Copa da Rússia. Joga para o time – o que no caso dele, significa ater-se às próprias convicções. E marca gols. Somente esta semana marcou dois no PT.

O primeiro quando enviou ao plenário do tribunal o pedido da defesa de Lula para que ele fosse solto. Na 2ª Turma, da qual faz parte, Fachin teria sido derrotado porque está em minoria. E a essa altura, Lula estaria em casa para assistir Argentina x França.

O segundo gol foi marcado por pura sorte – mas quem vence sem sorte? A defesa de Lula entrou com uma reclamação pedindo a anulação do ato anterior de Fachin. Sorteado para relatar a reclamação, o ministro Alexandre de Moraes decidiu arquivá-la.

A semana terminaria com 2 a 0 contra Lula no Supremo. Mas aí o ministro Gilmar Mendes ampliou o placar. Recusou outro pedido da defesa de Lula para que se rediscutisse a questão da prisão em segunda instância. Não que Gilmar seja a favor dela. Não é.

Já foi. Já votou a favor. E já mudou de posição. Ele joga em todas. Mas Gilmar prefere esperar para acabar com a prisão em segunda instância quando a ministra Cármen Lúcia, em setembro próximo, for substituída na presidência do tribunal pelo ministro Dias Toffoli.

Gilmar, Toffoli e o ministro Ricardo Lewandowski mandam no jogo na 2ª Turma e esperam mandar em breve no plenário do tribunal.

Edmar Bacha: Contra os monopólios, a abertura

- O Globo

O próximo presidente deve anunciar logo após sua posse um amplo programa de abertura do Brasil à economia mundial

Nossas elites defendem com unhas e dentes os monopólios de bens e serviços através dos quais exploram os trabalhadores e os consumidores brasileiros.

Três exemplos recentes ilustram essa afirmação. Documento preparado pela Confederação Nacional da Indústria para os presidenciáveis defende uma política de comércio exterior com reforço dos mecanismos de defesa contra as importações. Ofícios da Ordem dos Advogados do Brasil advertem a Eletrobras e o BNDES para não contratarem escritórios de advocacia estrangeiros. Liminar do ministro do Supremo Ricardo Lewandowski proíbe a venda de empresas estatais sem prévia anuência do Congresso.

Os exemplos se multiplicam. Os ruralistas há tempos impedem a importação de bananas do Equador, café robusta do Vietnã, alho da China. A Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) se insurge contra a proposta da equipe econômica do governo de reduzir as tarifas sobre bens de capital importados etc.

Essas manifestações caracterizam a atitude de nossas elites empresariais e corporativas de que podem continuar a explorar os brasileiros, contratando-os a salários baixos e vendendo-lhes bens e serviços caros e ruins, sem preocupar-se em gerar empregos melhores, com produção de qualidade para ser exportada. “Nossas” elites incluem as subsidiárias das empresas multinacionais que aqui se instalam para explorar o mercado interno, mas não reproduzem a experiência de suas congêneres na América do Norte, Europa e Ásia, que atuam de forma integrada nas cadeias mundiais de valor.

PSB pernambucano defende apoio ao PT e racha partido

Em SP, França apoia Alckmin; Ciro é nome forte em outros estados

Sérgio Roxo e Luís Lima | O Globo

SÃO Paulo - Dois dias depois de o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, visitar Pernambuco e se encontrar com o governador Paulo Câmara (PSB) e com a viúva de Eduardo Campos, Renata Campos, o diretório do PSB no estado defendeu, pela primeira vez, que o partido feche aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a disputa pelo Palácio do Planalto. Embora Lula esteja enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o PT insiste em registrar a sua candidatura em agosto.

Pernambuco é o estado com o maior número de representantes no diretório nacional do PSB. O estado também tem importância histórica para a legenda por causa de Campos e de seu avô, Miguel Arraes (1916-2005).

Nos últimos dias, políticos da legenda, como o deputado Júlio Delgado (MG), afirmaram que o acordo com Ciro estava próximo, mas o movimento do diretório pernambucano pode reverter o quadro. Integrantes do PSB de São Paulo, o segundo estado com o maior número de representantes no diretório nacional, também são contra a aliança com o pedetista. O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), já disse que vai fazer campanha para Geraldo Alckmin (PSDB), de quem foi vice.

Ciro se reuniu, na tarde de terça-feira, com Câmara e com o prefeito de Recife, Geraldo Júlio (PSB), no Palácio Campo das Princesas, sede do governo pernambucano. O presidenciável postou uma foto do encontro nas redes sociais com a frase: “Sigo na luta por uma aliança com o PSB.” Em seguida, fez uma visita a Renata Campos e ao seu filho João, que será candidato a deputado federal.

Ao divulgar uma nota para desmentir que o acordo com Ciro estivesse fechado, o diretório pernambucano do PSB afirmou: “O partido em Pernambuco, seguindo a orientação do governador Paulo Câmara, permanece no diálogo com lideranças nacionais e locais de diversos partidos do campo democrático. Continuaremos a defender, dentro e fora do PSB, uma aliança com o Partido dos Trabalhadores, priorizando a candidatura do ex-presidente Lula.”

No mesmo dia em que a nota foi divulgada, Câmara havia se reunido com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, e com a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos.

Os líderes do PSB em Pernambuco querem que o comando nacional do PT force a vereadora Marília Arraes, neta de Miguel Arraes e prima de Campos, a deixar a disputa pelo governo do estado. Impulsionada pela memória do avô e pela popularidade de Lula em Pernambuco, a petista Marília se transformou em ameaça ao plano de reeleição de Câmara no estado. Uma eventual derrota do atual governador seria um duro golpe no legado de Campos, que era o seu padrinho político.

PT QUER APOIO FORMAL
No PT, a posição majoritária entre dirigentes nacionais é que Marília só deve deixar a disputa se o PSB apoiar formalmente a candidatura do ex-presidente Lula ou de seu substituto.

Ciro Gomes acena com vice a PSB para ter apoio já

Pré-candidato do PDT espera atrair partidos do centrão, mas enfrenta impasse em SP e PE

Marina Dias, Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com dificuldade para fechar alianças consistentes, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, cedeu à pressão e acenou ao PSB com a vaga de vice em sua chapa ao Planalto. Em troca, porém, quer que o partido anuncie apoio a sua candidatura nas próximas duas semanas.

O cálculo é pragmático: estacionado nas pesquisas, com 10% no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o Datafolha, Ciro quer firmar acordo imediatamente com o PSB para fortalecer sua candidatura. O objetivo é estimular novas adesões, principalmente do bloco do chamado “centrão”, com DEM, PP, PRB, SD e PSC.

“O PSB tem preferência natural. Os partidos que fecharem [apoio] antes da convenção [20 de julho] terão prioridade para vice”, afirmou à Folha o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

Na quarta-feira (4), Ciro deve se reunir com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, em Brasília. A sigla prepara um documento com as condições para uma possível aliança com o pré-candidato.

Nas últimas semanas, Ciro se reuniu com a cúpula dos partidos do “centrão”, liderados pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), enquanto mantinha contato com o comando do PSB, mas ainda não conseguiu bater o martelo em nenhum acordo.

Historicamente alinhados a coalizões à direita, DEM e companhia ainda ensaiam um possível apoio à chapa do presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, que também tem tido desempenho aquém do esperado nas pesquisas, com 7% a 10% das intenções de voto.

Dilma disputa Senado e tira MDB de aliança

Participação da ex-presidente deve nacionalizar debate em Minas Gerais

Fernanda Krakovics | O Globo


A pré-candidatura da ex-presidente Dilma Rousseff ao Senado por Minas Gerais, confirmada na noite de anteontem, dificultou a reedição da aliança com o MDB no estado e deve nacionalizar o debate eleitoral. O principal adversário do PT na tentativa de reeleger o governador Fernando Pimentel será o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que foi relator do processo de impeachment de Dilma e deu parecer favorável.

Presidente da Assembleia Legislativa de Minas, Adalclever Lopes (MDB) trabalhava para ser candidato ao Senado na chapa de Pimentel. Ele é filho do deputado federal Mauro Lopes (MDB-MG), que, mesmo tendo sido ministro de Dilma, votou a favor do impeachment. O PT negocia a outra vaga para o Senado com o empresário Josué Gomes , filho do ex-presidente José Alencar.

— A candidatura da Dilma vem sepultar qualquer possibilidade de o MDB compor com o PT — disse o vice-governador Antônio Andrade (MDB), que é rompido com Pimentel.

Independentemente de Dilma, a aliança com o MDB já era difícil, porque Andrade tem a maioria do diretório e é contra o acordo. Mas o lançamento da pré-candidatura da ex-presidente acirrou os ânimos com os antigos aliados.

— A Dilma fez o lançamento da pré-candidatura e veio dizer que a pauta do PT este ano é o combate aos golpistas. A gente quer entender o que é isso — disse o deputado Newton Cardoso Jr. (MDB-MG), que votou a favor do impeachment.

“TERCEIRO TURNO”
A intenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo petistas, ao bater o martelo sobre a transferência do domicílio eleitoral de Dilma do Rio Grande do Sul para Minas, foi fazer um “terceiro turno” contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG), com quem ela disputou a eleição de 2014. Inicialmente, Aécio tentaria a reeleição para o Senado, mas, depois de virar réu por corrupção passiva e obstrução da Justiça, avalia concorrer para a Câmara. Ele é acusado de receber propina de R$ 2 milhões da JBS e também de tentar atrapalhar as investigações da Lava-Jato.

— Aqui nós vamos defrontar os dois projetos para o Brasil. Um defende o desenvolvimento e o combate à desigualdade — afirmou Dilma, em entrevista após o lançamento de sua pré-candidatura, aproveitando para ressaltar que nasceu em Minas e fugiu de lá para não ser presa na ditadura.

Candidaturas de Pimentel e de Dilma nacionalizam eleição em Minas Gerais

Governador, que voltará a enfrentar o PSDB, escolhe Temer como alvo em meio à crise financeira

Carolina Linhares | Folha de S. Paulo

BELO HORIZONTE - Anfitrião do evento que lançou a pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto, em Contagem (MG), no último dia 8, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), aproveitou a ocasião para divulgar um vídeo em tom de campanha.

Em meio a cenas de protestos contra Michel Temer (MDB), a narração diz que o PT tem história de luta em defesa da democracia em Minas e, mencionando o emedebista, pede o fim do governo que ataca os direitos trabalhistas e a Previdência.

À frente de um estado em grave crise financeira, sem dinheiro para pagar o funcionalismo e as prefeituras, Pimentel elegeu Temer como inimigo principal.

Em discursos e nas redes sociais, o governador enfatiza que Minas é a trincheira de resistência ao impeachment e transfere a culpa da crise para o governo federal, acusando Temer de não liberar recursos.

São numerosos os embates, inclusive jurídicos, entre Pimentel e Temer. Neste mês, por iniciativa de Minas, 23 estados entraram na Justiçacontra a União para receber verbas desvinculadas de contribuições sociais.

Durante a paralisação dos caminhoneiros, quando Temer esteve em evento em Belo Horizonte, os dois bateram de frente em seus discursos: o governador dizendo que a culpa era do Planalto e o presidente cobrando cooperação dos estados.

A oposição a Temer não é, porém, a única razão do viés nacional da eleição mineira, que pode ter uma reedição da disputa de 2014 entre a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB).

O tucano, réu acusado de corrupção, não decidiu se será candidato. Dilma confirmou sua candidatura nesta quinta (28), afirmando que Minas será o local onde mais uma vez dois projetos para o Brasil serão confrontados.

“O que se vai discutir em Minas é o Brasil. Embora a pauta do estado seja de pagamento, de gestão, o eleitor vai ser influenciado por de que lado está nacionalmente”, diz Felipe Nunes, professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais.

No lançamento de Lula em Minas, lideranças petistas fizeram questão de expor a rivalidade. “Dois anos depois apenas, na terra do seu algoz, a Dilma vai entrar pela rampa no Senado e ele não pode pisar na calçada da sua própria casa”, disse Fernando Haddad.

O presidente do PSDB em Minas, deputado federal Domingos Sávio, porém, minimiza o embate entre Dilma e Aécio, já que, com duas vagas no Senado, a campanha não é de um contra o outro.

Ainda assim, a batalha de quatro anos atrás respinga na polarização entre Pimentel e o senador Antonio Anastasia (PSDB), candidatos considerados mais fortes ao governo de Minas. No discurso petista, o tucano aparece não só como ex-governador, mas como relator do impeachment.

“A nacionalização serve ao PT, mas não faz sentido para o PSDB. Anastasia vai falar de gestão e Pimentel vai falar de política”, resume Nunes.

Os tucanos querem o foco em Minas para explorar a crise estadual e se descolar de Aécio. “O principal objetivo é consolidar a eleição de Anastasia. O PSDB não vai entrar nesse jogo de desviar a discussão. E o Aécio comunga desse sentimento, não quer virar a discussão central”, afirma Sávio.

Segundo o deputado, Anastasia vai comparar as gestões tucanas do estado com a atual petista e, sobretudo, mostrará propostas para recuperar Minas.

“Anastasia tem colocado muito a campanha num discurso local, de reconstrução das bases de gestão que ele como governador implantou. A única nacionalização é que será preciso uma parceria com o próximo presidente para que Minas volte a ter investimento”, diz o deputado estadual João Vitor Xavier (PSDB).

Já o deputado estadual Durval Ângelo (PT), líder de governo, diz que, ao mirar em Temer, Pimentel acerta o PSDB de Minas. “Nosso inimigo é um consórcio que quer ilhar o estado. Temer estrangula Minas e atua a pedido de Aécio e Anastasia.”

Em texto deste mês, Dilma diz que a oposição a Pimentel obstrui seu governo como fizeram com o dela. Afirma ainda que tucanos e Temer agem em conluio: “são sócios no retrocesso econômico e social e no desastre político e moral”.

Outra narrativa que aproxima as esferas é a da perseguição da Justiça, da qual Lula seria vítima na Lava Jato e Pimentel, réu acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, na Acrônimo.

PAPEL DECISIVO
O professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais, Felipe Nunes, compara o papel de Minas ao de Ohio na eleição americana, estado considerado decisivo para a disputa.

“Quem ganha em Minas ganha no país, porque é sabido que de Minas pra cima vai ser vermelho e de Minas pra baixo vai ser azul”, diz.

Alckmin e Doria: agendas em conjunto na campanha

Reunião entre pré-candidatos acertou encontros a partir de julho

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - O pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, e o pré-candidato tucano ao governo de São Paulo, João Doria, chegaram a um acordo sobre a realização de agendas em conjunto na campanha eleitoral deste ano.

Ficou acertado que o presidenciável participará de eventos ao lado de Doria, mas também do governador e pré-candidato à reeleição, Márcio França (PSB), que era vice de Alckmin. França e Doria têm trocado críticas, o que estava complicando a situação do palanque duplo do pré-candidato do PSDB à Presidência.

O acordo pretende reduzir o conflito entre as equipes de Doria e França. Alckmin e o ex-prefeito de São Paulo tiveram um encontro em maio para tratar do assunto, acompanhado por assessores. A previsão é que as agendas em conjunto aconteçam entre o fim de julho e agosto.

Na quinta-feira, Alckmin não foi ao lançamento da précandidatura do apresentador José Luiz Datena (DEM) ao Senado. Doria foi uma espécie de “mestre de cerimônias” do evento.

Desconfianças à parte, a campanha de Alckmin avalia que o palanque de Doria poderá ser mais eficiente na tarefa de alavancar a candidatura do presidenciável no maior colégio eleitoral do país. Doria lidera a corrida pelo governo paulista, enquanto França aparece com apenas um dígito nas pesquisas de intenções de voto.

Miro Teixeira: ‘Estamos trabalhando com a hipótese de não coligar’

Deputado diz que Marina Silva (Rede) não vai oferecer cargos em um eventual governo em troca de apoio na campanha eleitoral

Maria Lima | O Globo

BRASÍLIA

• Como avalia a pesquisa CNI/Ibope, que mostra Marina em empate técnico com o Jair Bolsonaro?

Eu credito o empate à luz própria da Marina. A campanha ainda não começou, mas Marina é uma incansável peregrina: vai a todos os lugares para onde é convidada e fala para pequenos grupos. Ela não tem orgulho, vaidade nem arrogância.

• Em 2014, ela tinha o apoio do Guilherme Leal, da Natura, da Neca Setúbal, do Itaú, do Alessandro Molon, que foi para o PSB. Houve uma debandada. Isso tem a ver com a personalidade da Marina? Ela é uma pessoa difícil?

A Marina não é nada difícil. É uma pessoa que tem um padrão de liturgia que impõe respeito nas conversas, mas é muito amistosa. Não creio que as pessoas tenham saído por causa de divergências com a Marina. Muitas saíram porque estavam prestando uma colaboração pelo Brasil e começaram a apanhar nas redes sociais. Presumo que tenha sido por isso. O que fizeram com a Neca e com o Guilherme Leal foi massacrante. Não é confortável para ninguém.

• Essa posição que se consolida nas pesquisas pode tirá-la do isolamento e atrair alianças com partidos do centro?

Não é a pesquisa que atrai alianças. No nosso caso, eu entendo que a coligação, se existir, será com base na análise de propósitos. Não haverá trocas, não haverá um governo de cooptação. Nós queremos criar, efetivamente, uma administração republicana. E isso não é uma frase de efeito pura e simplesmente. Sempre existe muita cooptação, jogos subterrâneos, e nós estamos distantes disso. Agora, conversar, pode-se conversar sempre. Sempre se poderá ter um espaço aberto para verificar a identidade de propósitos, objetivos determinados, tudo feito publicamente.

• Mas esse isolamento não inviabiliza a candidatura?

O que posso te dizer é que estamos trabalhando com a hipótese de não coligar. Se vier, será em torno de objetivos e propósitos. Não de negociações de cargos no governo. Para integrar o governo da Marina, será fundamental ser competente e ter a ficha limpa.

• Como governar sem uma base consistente?

Não há Congresso que mande no governo e não há governo que mande no Congresso Nacional

• Mas quando os líderes com mais força não são atendidos, dão um jeito de minar o governo...

A integridade do presidente já impede isso, porque eleva o nível da conversa. Se você tem um presidente que não merece respeito, o Congresso identifica essa fraqueza e toma o poder na mão, que é o que vem acontecendo. O exemplo é Itamar Franco. Se tem um presidente íntegro, a relação com o Congresso é boa.

• Caso ela seja eleita, o PT vai participar do governo?

A Marina diz que governará com os melhores de cada partido. O fato de ser vinculado ou filiado a um partido político não excluirá a pessoa. Mas também se constituirá um Ministério com especialistas sem qualquer vinculação partidária. O que não se pode é considerar a filiação partidária um obstáculo intransponível ao aproveitamento de uma pessoa de alta qualidade.

Lula sofre derrotas e STF só deve analisar caso após julho

No dia em que dois recursos foram negados, presidente do Supremo mantém fora da pauta da Corte decisão sobre prisão

Rafael Moraes Moura e Amanda Pupo/O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou pedido de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e arquivou reclamação apresentada pela defesa do petista para que o recurso fosse analisado pela 2.ª Turma, e não pelo plenário da Corte, como determinado pelo relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin. Com isso, o caso de Lula só deverá ser analisado pelo plenário da Corte em agosto, já que ontem, na última sessão antes do recesso, a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, não colocou em pauta o pedido do petista. Também ontem, Gilmar Mendes negou liminar ao PT e ao PCdoB para impedir ordens de prisão de réus que ainda têm o direito de recorrer, mesmo após condenação em segunda instância, como é o caso de Lula.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, negou ontem um pedido de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e arquivou a reclamação apresentada pela defesa do petista para que o recurso fosse analisado pela Segunda Turma – e não pelo plenário da Corte, como determinado pelo relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin. Com isso, o pedido que está nas mãos de Fachin só será analisado pelo plenário da Corte após o recesso, em agosto.

A decisão foi antecipada ontem à tarde pelo site BR-18, do Grupo Estado. Pela manhã, a reclamação de Lula foi distribuída em sorteio eletrônico a Moraes, integrante da Primeira Turma. A defesa do ex-presidente queria que o processo fosse redistribuído entre os ministros da Segunda Turma, à exceção de Fachin, mas esse pedido também foi rejeitado por Moraes.

Além do relator da Lava Jato, que enfrenta um processo de isolamento no colegiado, fazem parte da Segunda Turma Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski – críticos aos métodos de investigação da Lava Jato – e o decano da Corte, Celso de Mello. No último dia de sessão antes do recesso, na terça-feira, Fachin sofreu uma série de revezes no colegiado. Foi, por exemplo, voto vencido no julgamento que libertou o ex-ministro petista José Dirceu.

No despacho de ontem, Moraes questionou o cabimento da reclamação no caso e concluiu que não há razão “a nenhuma das pretensões da defesa”. De acordo com o ministro, Fachin submeteu o recurso de Lula ao plenário em uma decisão “devidamente fundamentada” no regimento interno do STF, “exercendo seus poderes de instrução e ordenação do processo”.

“Inexistiu qualquer violação ao princípio do juiz natural, pois a competência constitucional é desta Suprema Corte, que tanto atua por meio de decisões individuais de seus membros, como por atos colegiados de suas Turmas ou de seu órgão máximo, o plenário”, ressaltou.

Cármen Lúcia deixa pedido de liberdade de Lula fora da pauta do STF de agosto

Pauta de julgamentos no plenário foi divulgada nesta sexta em meio a batalha de recursos

Reynaldo Turollo Jr. | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O STF (Supremo Tribunal Federal) divulgou nesta sexta (29) a pauta de julgamentos previstos para agosto, quando a corte volta do recesso. A presidente, ministra Cármen Lúcia, não incluiu nela o pedido de liberdade feito pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O pedido de liberdade ou de substituição da prisão por medidas cautelares foi liberado nesta quinta (28) pelo relator, Edson Fachin, para análise em plenário. Até agosto, a pauta de julgamentos ainda poderá mudar.

Nos últimos dois dias, a defesa de Lula apresentou três recursos diferentes ao STF. Todos pedem sua soltura, e dois giram em torno de uma questão estratégica para a defesa: se o pedido de liberdade deve ser julgado pelo plenário (formado pelos 11 ministros) ou pela Segunda Turma, da qual Fachin faz parte.

A defesa quer a análise na turma, formada por cinco ministros, porque nela as decisões têm sido mais favoráveis a investigados e condenados na Lava Jato. Na última terça (26), por exemplo, a turma soltou, por 3 a 1, o ex-ministro petista José Dirceu. Os advogados entendem que a Segunda Turma é o juiz natural para analisar pedidos de Lula.

A batalha dos recursos começou depois que, na segunda-feira (25), Fachin decidiu remeter para julgamento em plenário um pedido de Lula para suspender os efeitos de sua condenação em segundo grau e esperar em liberdade o julgamento dos recursos nas instâncias superiores.

Os advogados recorreram nesta quinta (28) dessa decisão (de envio do caso ao plenário), pedindo que Fachin esclareça pontos dela. A defesa alega que Fachin justificou que o pedido deveria ir ao plenário para análise da questão da inelegibilidade de Lula, mas sustenta que a petição original não tratava da questão eleitoral.

Moraes rejeita recurso pela liberdade de Lula

Petista atua em três frentes no Supremo para sair da prisão; plenário só deve analisar o caso em agosto

Carolina Brígido e Renata Mariz | O Globo

BRASÍLIA - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes negou um recurso, protocolado ontem pela defesa do ex-presidente Lula, que pedia a liberdade do petista. Por entender que Lula teria mais chances de ser solto num julgamento da Segunda Turma, a defesa também queria que o julgamento definitivo desse pedido de liberdade fosse realizado no colegiado, e não no plenário da Corte, como determinou o ministro Edson Fachin em outro recurso apresentado pelo petista na semana passada. Seguindo o colega, que é relator da Lava-Jato, Moraes decidiu manter o caso no plenário. A análise do recurso pelos 11 ministros só deve ocorrer em agosto, quando terminar o recesso da Corte. Condenado a 12 anos e 1 mês pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex do Guarujá, o petista está preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde 7 de abril.

Para o ministro, não houve ilegalidades na decisão de Fachin de remeter o primeiro recurso do petista ao plenário. “Inexistiu qualquer violação ao princípio do juiz natural, pois a competência constitucional é desta Suprema Corte, que tanto atua por meio de decisões individuais de seus membros, como por atos colegiados de suas Turmas ou de seu órgão máximo, o plenário”, anotou.

Além do recurso relatado por Moraes, o ex-presidente tenta obter a liberdade no Supremo em outras três frentes. Ontem, último dia de funcionamento da Corte antes do recesso, a defesa apresentou novas petições e nutre esperança de conseguir a liberdade durante o recesso do Judiciário, por meio de uma liminar. Ao longo de julho, a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, é responsável por decidir questões urgentes. Entre as emergências, estão processos com réu preso.

Trilhões de dívida sem freio: Editorial | O Estado de S. Paulo

Cada um dos 210 milhões de brasileiros devia em maio, mesmo sem saber disso, pouco mais de R$ 24 mil – sua parte na conta de R$ 5,13 trilhões pendurada pelo governo geral. Essa dívida aumenta mês a mês, porque o buraco nas contas oficiais cresce muito mais rapidamente que a população. A lista dos devedores inclui desde bebês ainda no berço até velhinhos centenários. Sem meter a mão no bolso, até porque nem todos têm bolso, cada um já suporta, no dia a dia, os efeitos econômicos da insegurança quanto ao futuro das finanças públicas, agravada neste ano pela incerteza política, pela paralisação da agenda de reformas e por novos maus-tratos impostos aos orçamentos, principalmente ao federal.

Os R$ 5,13 trilhões devidos pelo governo geral correspondiam em maio a 77% do valor anual do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o balanço das contas públicas divulgado pelo Banco Central (BC) na sexta-feira passada. No mês anterior a proporção ainda estava em 75,9%. O avanço do programa de ajustes e reformas permanece “fundamental para a reversão da trajetória ascendente da dívida pública”, havia informado o BC em seu relatório trimestral de inflação, divulgado um dia antes das novas estatísticas fiscais.

A mesma preocupação quanto às finanças do governo aparece na Carta de Conjuntura publicada na quinta-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea): “A grande fonte de incerteza na economia brasileira continua sendo a questão fiscal – agravada no momento pela indefinição do quadro eleitoral”. O aumento do déficit público, segundo os autores da Carta, “reflete a pressão das despesas obrigatórias”, puxadas principalmente pelos gastos da Previdência.

O efeito desastroso das despesas previdenciárias aparece, mais uma vez, no balanço de maio das contas públicas. Pelos cálculos do BC, o governo central fechou o mês com um déficit primário, isto é, excluídos os juros, de R$ 11,12 bilhões, embora o resultado conjunto do Tesouro e do BC tenha sido um superávit de R$ 3,98 bilhões. Houve saldo negativo porque o buraco de R$ 15,10 bilhões do INSS devorou aquela sobra e poderia ter devorado mais um pouco.

Supremo garante a modernização sindical: Editorial | O Globo

Ao confirmar a substituição do imposto pela contribuição espontânea, a Corte permite que sindicatos se tornem mais representativos e fortes

A confirmação, por maioria de votos no Supremo (6 a 3), da substituição do imposto sindical pela contribuição espontânea do associado vale quase como uma reforma trabalhista inteira, pelo impacto positivo direto na questão crucial da representatividade no mundo das relações de trabalho.

Tratou-se do julgamento de 19 Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) impetradas por sindicatos, das quais foi relator o ministro Edson Fachin, simpático à reclamação dos sindicalistas, como exposto por ele em despacho liberado no dia 30 de maio.

Sempre cabe lembrar que o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva tornou-se líder do “novo sindicalismo”, na década de 70, defendendo uma pauta de modernização — contra a “herança varguista”. Das propostas de Lula fazia parte a extinção do imposto sindical, embutido na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), aprovada em 1943, na ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas.

Inspirada na Carta del Lavoro do italiano Mussolini, a CLT é a argamassa que deu forma ao modelo fascista de subordinação dos sindicatos ao Estado, fossem de trabalhadores ou de patrões. E o imposto sindical surgiu como pilar financeiro desta construção.

Lula e seus metalúrgicos da década de 70 queriam, com razão, acabar com o imposto, para que os sindicatos se aproximassem das categorias, tornando-se de fato representativos. Pois, depois da reforma trabalhista, com a extinção do imposto sindical, agora confirmada pelo Supremo, se os dirigentes não prestarem eficientes serviços às bases, para serem premiados pela contribuição espontânea, não terão, por óbvio, como sobreviver financeiramente.

No julgamento de ontem, o relator, Edson Fachin, e os ministros Dias Toffoli e Rosa Weber formaram a minoria diante da posição vencedora de Luiz Fux, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e Cármen Lúcia. A maioria não concordou com supostas barreiras constitucionais ao fim do imposto. Afinal, como se argumentou, impedir a conversão do imposto em contribuição espontânea significaria ferir o princípio da liberdade sindical. Aliás, o mesmo ocorre com um outro entulho getulista, a unicidade, norma que cartorialmente só permite um sindicato por região.

Olhos na Copa: Editorial | Folha de S. Paulo

Primeira fase do torneio tem números satisfatórios e novidades bem-sucedidas

Depois de 48 partidas, 43.542 passes, 1.295 faltas e 122 gols, a primeira fase da Copa da Rússia chegou ao fim. A partir deste sábado (30), 16 equipes dão início à etapa mais eletrizante —e mais cruel— do torneio, na qual os perdedores serão implacavelmente eliminados até a grande final, marcada para 15 de julho, um domingo.

Com algumas oscilações, as estatísticas são até aqui compatíveis com as disputas mais recentes. Destoam de maneira significativa, porém, na quantidade de pênaltis assinalados.

Foram 24 em três rodadas. Desde que os Mundiais passaram a reunir 32 seleções, a partir de 1998, o recorde, em período equivalente, era de 18 penalidades. Ao que tudo indica, o motivo do incremento reside em novidade introduzida nesta edição da Copa —a adoção do VAR, o árbitro de vídeo.

Em meio a inevitáveis polêmicas e divergências, a utilização deimagens para elucidar dúvidas em lances relevantes se mostrou vantajosa. Não há dúvida de que há aspectos a aperfeiçoar, mas depois desta Copa será difícil prescindir do recurso para auxiliar o juiz de campo.

A Fifa, entidade máxima do futebol, já anunciou que fará um balanço após o torneio para avaliar possíveis modificações.

Maria Rita: Saudosa maloca

Carlos Pena Filho: Soneto da Busca

Eu quase te busquei entre os bambus
para o encontro campestre de janeiro
porém, arisca que és, logo supus
que há muito já compunhas fevereiro.

Dispersei-me na curva como a luz
do sol que agora estanca-se no outeiro
e assim também, meu sonho se reduz
de encontro ao obstáculo primeiro.

Avançada no tempo, te perdeste
sobre o verde capim, atrás do arbusto
que nasceu para esconder de mim teu busto.

Avançada no tempo, te esqueceste
como esqueço o caminho onde não vou
e a face que na rua não passou.
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Poema extraído do livro A Vertigem Lúcida

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Opinião do dia: William Waack

A narrativa que impera hoje na sociedade brasileira é a de que a corrupção é o problema central, e que tudo o mais se resolve a partir do combate aos corruptos. Cujo completo domínio da esfera do sistema político-partidário – ao mesmo tempo resultado e causa da atuação dos políticos – justifica a sua destruição. E encarregada dessa destruição, com feroz apoio popular, é “a” corporação.

Incapaz de definir o jogo, ou de deslocá-lo para um outro eixo de debate, a instância política foi substituída, para efeito de grandes decisões, pela política no STF (que cuida hoje até de tabela de frete). Composto por donos e donas de cargo vitalício que, mesmo se fossem 11 santos iluminados, por definição jamais conseguiriam dar as respostas que sociedades organizadas em sistemas democráticos precisam que venham do sistema que, no Brasil, imensa maioria combinou odiar: o sistema político.

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William Waack é jornalista. Em artigo: ‘O barro é esse’, O Estado de S. Paulo, 28/6/2018.

César Felício: Rejeição da classe política chega ao ápice

- Valor Econômico

Eleitores terão que escolher conforme a oferta; o barro é esse

"Que se vayan todos!" O grito de rejeição que marcou a eleição presidencial da Argentina em 2003 carece apenas de tradução para ser o retrato do quadro eleitoral do Brasil, a se projetar o cenário desenhado pela pesquisa do Ibope divulgada ontem.

O furor antissistema na Argentina fez com que a primeira eleição após o desastre econômico e político da Presidência Fernando De la Rúa fosse a que tivesse a maior abstenção em 66 anos. Na urnas, entretanto, esta revolta não encontrou veio para se manifestar. "Outsider" não existia, todo mundo era do ramo.

Havia Carlos Menem, o ex-presidente, que veio a ser o mais votado no primeiro turno e era dono de enorme rejeição. Um ex-ministro da Fazenda, Ricardo Lopez Murphy, conhecido pela capacidade de gerar polêmica e Elisa Carrió, candidata então famosa pelo purismo no momento de fazer alianças. O paralelismo termina aí. Não há um candidato hoje no Brasil parecido com Néstor Kirchner (1950-2010), o governador de uma obscura província que ganhou aquela eleição. Jair Bolsonaro também só existe um.

O 2003 na Argentina e o 2018 no Brasil se aproximam, contudo, pela extrema fragmentação. Na Argentina houve a implosão definitiva da polarização entre peronistas de um lado e União Cívica Radical, de outro. No Brasil, quando se fala em cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva, o eixo PT/PSDB não soma 10% das preferências. Tanto no Brasil como na Argentina, a eleição parece incapaz de revestir o seu ganhador de legitimidade.

Impressiona ver que a opção "em branco e nulo" marca 31% das preferências na pesquisa espontânea, ante 21% de Lula e 11% de Bolsonaro. Na pesquisa estimulada com o petista, o número como era de se esperar recua, mas apenas 11 pontos percentuais. Mesmo com Lula no cenário, ainda são 22% os que optam por ninguém, o que sinaliza com força que há um contingente poderoso de brasileiros que rejeita o processo eleitoral atual, e não uma disputa sem Lula.

A dispersão do voto lulista, ou seja, o destino do manancial do petista quando ele é retirado da competição mostra a limitação da transferência de votos. Se o total dos que pretendem votar em branco e nulos cresce 11 pontos percentuais, 5 pontos vão para candidatos do espectro da direita ou centro-direita (Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Alvaro Dias), dez pontos para o centro e centro-esquerda (Marina Silva e Ciro Gomes), somente dois para alternativas petistas e nada, nenhum único ponto, para as demais opções de esquerda (Guilherme Boulos e Manuela d'Ávila).

Míriam Leitão: Parte da crise

- O Globo

STF está deixando de ser solução para virar parte do problema. O STF ficou mais difícil de entender. Ou mais fácil. O ex-ministro José Dirceu é reincidente específico. Já foi condenado pelo mesmo crime no Mensalão e na Lava-Jato. O que leva o ministro Dias Toffoli a soltá-lo em um habeas corpus não pedido pela defesa? O ministro Ricardo Lewandowski interferiu numa área de competência do Executivo às vésperas do recesso, repetindo manobra já usada.

No dia 18 de dezembro de 2017, Lewandowski suspendeu a MP que adiava os aumentos do funcionalismo. O argumento do ministro não poderia ser menos jurídico: “Não se mostra razoável suspender um reajuste de vencimentos que, até cerca de um ano atrás, foi enfaticamente defendido por dois ministros e o presidente da República.” Ele é livre para não gostar de uma mudança de opinião do governo, mas isso não é base para a liminar. Como tomou a decisão um pouco antes do recesso, o governo teve que dar o aumento e a liminar virou decisão definitiva. Agora, em nova interferência em área do Executivo, proibiu a venda de qualquer estatal.

Na terça-feira, na 2ª Turma do STF, o ministro Dias Toffoli não poderia simplesmente acolher o argumento da defesa do ex-ministro José Dirceu porque ela confrontava a condenação em segunda instância. Toffolli, então, deu o que a defesa não pedira: habeas corpus de ofício, afirmando que havia “plausibilidade” no recurso sobre a dosimetria da pena. Ou seja, como pode ser que o STJ considere a pena alta, apesar de ele ter sido condenado em dois escândalos pelo mesmo crime, ficará em casa.

Eliane Cantanhêde: Volta ao pré-Lava Jato

- O Estado de S.Paulo

STF ‘está voltando a ser STF’? Ou a era da impunidade é que está voltando?

Estava demorando, mas o ministro Marco Aurélio Mello conseguiu alcançar os três colegas da Segunda Turma, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, que tomaram a dianteira no confronto à Lava Jato e à opinião pública. Ontem, Marco Aurélio deu clara contribuição à sensação de que há uma corrida pela impunidade: por liminar, mandou soltar o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha no caso de desvios na Arena das Dunas (RN).

Por sorte – ou por azar, dependendo da ótica –, Cunha coleciona processos e teve a prisão decretada por outras acusações, inclusive uma condenação em segunda instância por desvios da Petrobrás na compra de um campo petrolífero no Benin, na África. Assim, o todo ex-poderoso presidente da Câmara continua atrás das grades.

Marco Aurélio, porém, conseguiu dar seu recado: ele é da Primeira Turma do STF, mas com coração e mente na Segunda, ao lado de Gilmar, Lewandowski e Toffoli. Afora o fato de que Gilmar vivia às turras com Lewandowski e Marco Aurélio no julgamento do mensalão do PT, os quatro agora parecem firmemente determinados a dar um chega prá lá na Lava Jato, numa posição de confronto ostensivo.

Hélio Schwartsman: Guerra intestina

- Folha de S. Paulo

Decisões desencontradas corroem o que resta de credibilidade ao Supremo Tribunal Federal

Na percepção popular, o Judiciário ainda é o menos avariado dos Poderes da República, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) dá a nítida impressão de que está se empenhando em alcançar os outros dois nas avaliações negativas.

Pesquisa Datafolha deste mês mostrou que o Congresso Nacional é objeto de desconfiança de 67% dos brasileiros, seguido da Presidência, que é desprezada por 64%. O Judiciário em geral é reprovado por mais modestos 31%. Considerando apenas o STF, a taxa sobe para 39%.

É difícil até imaginar por que a Justiça ainda goza de certo prestígio. Boa parte das disfuncionalidades do país pode ser ligada a decisões tomadas nos tribunais. Para citar um caso recente, o TST acaba de alterar os termos de um acordo coletivo firmado em 2007 entre a Petrobras e trabalhadores, impondo do nada um prejuízo de mais deR$ 15 bilhões à estatal.

Reinaldo Azevedo: Chegou a hora de adotar o politicamente adequado

- Folha de S. Paulo

Acreditem na civilização, as pessoas podem aprender

Também eu reagi com indignação à estupidez de brasileiros que gravaram um vídeo divertindo-se com o fato de uma russa não falar português. Ou não teria caído na pegadinha dos malandros que acharam superiormente engraçado ver a garota aderir a um corinho que repetia o tom da pele de sua genitália.

No país em que publicitários vendem o “cimento do saco roxo” e em que letras de funk fazem a apologia da violação coletiva das “novinhas”, o despropósito talvez pareça integrar um paradigma cultural. Pergunta à margem: por que os progressistas em geral, e as feministas em particular, nunca se incomodaram com a “cultura do estupro” que impera no funk?

Tão logo vi aquele troço, afirmei no rádio que contava as horas para duas ocorrências: os esquerdistas sairiam por aí a acusar o machismo dos brasileiros. Culpados, pois, não seriam aqueles machos em particular, mas os machos no geral. A ilação transforma agressores em vítimas. Afinal, se alguém é estúpido por atavismo cultural, não tem como lutar contra o inevitável. A esquerda vive caindo nessas ciladas lógicas.

E apostei que direitistas e antiesquerdistas genéricos fariam a defesa da rapaziada, alegando exagero, excesso de patrulha politicamente correta e criminalização da piada. Vamos a uma digressão elucidativa.

A luta da direita liberal no Brasil será longa. Somos poucos. Ainda não lotamos uma van, sucedânea das Kombis. Infelizmente, o que se tem caracterizado por aqui como “direita liberal” reúne malcriados em sentido amplo: faltam-lhes leitura, reflexão e bons modos. São, na verdade, reacionários. Estão empenhados em fazer o país andar para trás no que respeita aos direitos individuais, ainda que revistam seu antiliberalismo com memes de combate às esquerdas.

*Almir Pazzianotto Pinto: Povo, massa e horda

- O Estado de S.Paulo

Doze dias de ‘greve’ dos caminhoneiros foram suficientes para revelar a ausência de governo

A paralisação dos caminhoneiros autônomos não foi greve, no sentido jurídico da palavra. Principiou como manifestações sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização (artigo 5.º, XVI, da Constituição da República). Insurgiram-se os motoristas, espalhados por diversos Estados, contra sucessivos aumentos do preço do óleo diesel, insumo indispensável ao transporte rodoviário de cargas. Não há quem ignore a importância da atividade exercida pelos condutores autônomos, que, por necessidade ou falta de opção, escolheram dirigir caminhões em coletas e entregas urbanas, intermunicipais, interestaduais e internacionais.

A profissão é disciplinada pela Lei n.º 11.442, de 5 de janeiro de 2007, cujo artigo 2.º, I, define o transportador autônomo de cargas (TAC) como “pessoa física que tenha no transporte rodoviário de cargas a sua atividade profissional”. Para ser TAC exige-se, segundo a lei, prova de “ser proprietário, coproprietário ou arrendatário de, pelo menos, 1 (um) veículo automotor de cargas” e “ter experiência de, pelo menos, 3 (três) anos na atividade, ou ter sido aprovado em curso específico” (artigo 2.º, § 1.º, I e II).

Que razões levariam milhares de pessoas honestas, rústicas e simples a se mobilizar contra a Petrobrás, sociedade de economia mista controlada pela União, integrante da administração pública indireta? Não buscavam aumento de salários, melhores condições de trabalho ou elevação do valor do frete. Protestavam em massa contra o reajustamento diário do preço do combustível, prática que tornava antieconômico o exercício da profissão.

Fernando Gabeira: Uma janela para o mundo

- O Estado de S.Paulo

Só existe um perdedor com o silêncio dos candidatos sobre política externa: a sociedade

Escrevo de São Petersburgo. Afinal, qual é o papel do Brasil no mundo? É o de tipo de assunto do qual muitos correm. Já temos problemas demais no âmbito doméstico, por que não deixar isso com os especialistas, concentrando na violência urbana, na corrupção ou mesmo nas peripécias da campanha eleitoral?

Para quem está fora, mesmo por um curto período, o tema não é tão marginal assim. Impossível ignorar o drama dos refugiados. Só se fala nisso, crise nos Estados Unidos por causa da decisão de Trump, arestas entre Franca e Itália, crianças separadas da família, ciganos na mira da expulsão na Itália. É o tipo de problema sem solução em curto prazo, com viés de agravamento.

Se consideramos nossa fronteira setentrional, lá também essa questão se vem complicando ao longo dos três últimos três anos. Apesar de a Colômbia ser ainda o destino preferido, por causa do idioma comum, os refugiados da Venezuela entram em massa por Roraima. Essa presença já produziu alguns atritos entre o governo local e Brasília.
Forçou a elaboração de um plano e jogou as Forças Armadas em parte de sua execução.

Nos Estados Unidos, mais precisamente na fronteira mexicana, vivemos um problema inverso, no momento em que Trump decide adotar normas mais rígidas para conter o processo migratório. Na verdade, talvez seja essa a contradição mais importante no mundo contemporâneo: a fluidez dos capitais e mercadorias ante as barreiras crescentes ao movimento da força de trabalho.

Todo país deve ter sua política sobre o tema. Mas é preciso admitir que soluções mais amplas dependem de muitos atores internacionais. Minha hipótese para uma política de longo prazo é de que países como Brasil e Canadá, por suas dimensões, poderiam representar um alívio para o tenso clima associado ao tema dos refugiados.

José de Souza Martins: A Copa de "seu" Carlos

- Eu &Fim de Semana | Valor Econômico

Há diversos modos de ver a Copa do Mundo de Futebol. A imensa maioria a vê de longe. Não vê o lado oculto da festa. Nesses modos de ver estão muitos e desencontrados sentimentos. E está muito de nós mesmos. Comparando algumas Copas do Mundo, como as vi nos olhos e no comportamento da torcida nas ruas do centro de São Paulo, posso vê-las na lentidão do tempo e relativizar as ilusões do agora. E até rastrear como fomos, aos poucos, nos tornando outra gente. No campeonato da vida e da civilidade já fomos bem melhores do que somos hoje.

Quando da Copa do Mundo de 1998, na França, o grupo de fotografia de que faço parte, o Phora-de-phoco, decidiu acompanhar os jogos no vale do Anhangabaú, em São Paulo. O vale estava lotado, do Viaduto do Chá até a avenida São João. E, também, na praça Ramos de Azevedo, na frente do Theatro Municipal. Veio gente dos bairros distantes e gente dos bairros ricos da cidade. Trombadões, trombadinhas, madames comemorando juntos. Até os desiguais abraçados, nos gols que iam nos levando para uma provável vitória. Moradores de rua, agindo como anfitriões, recebiam os forasteiros no que, via-se, consideravam sua casa. E era.

Em todo o mês da Copa não houve roubos nem crimes de sangue no centro da cidade, segundo um relatório da polícia. No país inteiro, aliás, houve redução na criminalidade. No país dos linchamentos, o primeiro linchamento só foi ocorrer 24 horas depois do término da Copa e da derrota do Brasil pela França.

Luiz Carlos Azedo: Cunha livre?

- Correio Braziliense

Se a regra fosse adotada para todos os presos, as cadeias brasileiras se esvaziariam em 40%, média de detidos em caráter provisório

O ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ontem um habeas corpus para revogar a prisão preventiva do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decretada pelo juízo da 14ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio Grande do Norte. Cunha continua preso, por causa de outros decretos de prisão em Brasília e no Rio de Janeiro, mas a decisão sinaliza mais uma vez que a confusão na Corte é grande, por causa das divergências de entendimento dos ministros em relação à própria jurisprudência. O Supremo parece uma biruta de aeroporto, desnorteia a opinião pública e gera instabilidade política, em meio à crise ética que desmoraliza a elite política do país.

Tecnicamente, a decisão de Marco Aurélio tem fundamento constitucional. Está em linha com as declarações recentes do ministro, entre as quais, suas reiteradas críticas ao fato de o Supremo não rediscutir o mérito da execução das penas em segunda instância. A prisão de Cunha foi decretada em junho do ano passado, com base em “evidências da atuação delitiva no favorecimento do grupo OAS na concessão de aeroportos”. Depoimento de colaborador e dados bancários atestam a transferência de R$ 4 milhões da Odebrecht ao diretório do PMDB no Rio Grande do Norte, utilizados na campanha eleitoral de Henrique Eduardo Alves ao governo do estado.

Em recentes decisões, a segunda turma do Supremo, apelidada de Jardim do Éden, mitigou o instituto da delação premiada, que foi apartado das provas, e desconsiderou doações legais como comprovação de corrupção e lavagem de dinheiro. Marco Aurélio participa da primeira turma, chamada nos bastidores do tribunal como “Câmera de Gás”. A existência das turmas no Supremo, jabuticaba criada para desafogar a Corte, está virando um problema institucional.

A defesa de Cunha alega, entre outros pontos, a invalidade dos fundamentos da custódia cautelar, por considerar inexistente risco à ordem pública diante da ausência de contemporaneidade entre os fatos, ocorridos entre 2012 e 2015, e a prisão. Destaca também que seu cliente não mais concorrerá a cargo eletivo, fato que impede possível atuação na arrecadação de fundos para campanhas eleitorais.

Ibope expõe insatisfação do eleitor

Por Raymundo Costa, Raphael Di Cunto e Fabio Murakawa | Valor Econômico

BRASÍLIA - Às vésperas das convenções de julho, a pesquisa CNI/Ibope dificulta ainda mais a definição dos candidatos dos partidos à sucessão presidencial. O líder é um provável não candidato (Lula) e a taxa de votos em branco e nulos, em pelo menos uma hipótese testada, é quatro vezes maior que a registrada na eleição de 2014. A pesquisa também põe em xeque as estratégias sobretudo do PT e do PSDB para o 7 de outubro.

No PT o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estica ao máximo uma candidatura que provavelmente será derrubada nos tribunais, com base na Lei de Ficha Limpa. Enquanto isso, o nome tido como o mais provável para substituí-lo na cabeça de chapa, Fernando Haddad, patina na faixa dos 2% - o ex-prefeito tem rendimento melhor em pesquisas em que foi apontado como o candidato preferido de Lula.

A estratégia de Geraldo Alckmin (PSDB) também é considerada de alto risco: o tucano espera o horário eleitoral gratuito para melhorar seus baixos índices nas pesquisas - 6% no cenário sem Lula e 4% no cenário em que o nome do ex-presidente foi apresentado ao eleitor. Alckmin perde para Jair Bolsonaro (PSL) nos tradicionais redutos eleitorais dos tucanos, como São Paulo, o Centro-Oeste e o Sul do país.

Para o Rede, com Marina Silva como a perseguidora mais próxima de Bolsonaro, o erro na estratégia é o isolamento.. Estrutura partidária, alianças e tempo de televisão (alguns segundos, até agora) devem fazer falta na reta final da campanha, como fizeram em 2014, quando a candidata liderou até a véspera da eleição. Bolsonaro está com 17% e Marina 13%, no cenário sem a presença de Lula, uma diferença que fica dentro da margem de erro do levantamento

A agressividade de Ciro Gomes também parece não estar dando resultado - o pedetista praticamente não saiu do lugar, comparado a outras pesquisas. Faz bem em investir em alianças.

A tendência de uma eleição com alto número de votos em brancos e nulos já fora detectada em outras pesquisas e, sobretudo, em eleições complementares realizadas em recentemente. No Amazonas, em 2017, o número de votos em branco, nulos e abstenção chegou a 36,35% do total. No Tocantins, em eleição realizada neste ano, o não voto bateu 43,54%. O cenário da CNI/Ibope para a eleição presidencial de outubro é ainda mais preocupante.