sábado, 30 de junho de 2018

Candidaturas de Pimentel e de Dilma nacionalizam eleição em Minas Gerais

Governador, que voltará a enfrentar o PSDB, escolhe Temer como alvo em meio à crise financeira

Carolina Linhares | Folha de S. Paulo

BELO HORIZONTE - Anfitrião do evento que lançou a pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto, em Contagem (MG), no último dia 8, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), aproveitou a ocasião para divulgar um vídeo em tom de campanha.

Em meio a cenas de protestos contra Michel Temer (MDB), a narração diz que o PT tem história de luta em defesa da democracia em Minas e, mencionando o emedebista, pede o fim do governo que ataca os direitos trabalhistas e a Previdência.

À frente de um estado em grave crise financeira, sem dinheiro para pagar o funcionalismo e as prefeituras, Pimentel elegeu Temer como inimigo principal.

Em discursos e nas redes sociais, o governador enfatiza que Minas é a trincheira de resistência ao impeachment e transfere a culpa da crise para o governo federal, acusando Temer de não liberar recursos.

São numerosos os embates, inclusive jurídicos, entre Pimentel e Temer. Neste mês, por iniciativa de Minas, 23 estados entraram na Justiçacontra a União para receber verbas desvinculadas de contribuições sociais.

Durante a paralisação dos caminhoneiros, quando Temer esteve em evento em Belo Horizonte, os dois bateram de frente em seus discursos: o governador dizendo que a culpa era do Planalto e o presidente cobrando cooperação dos estados.

A oposição a Temer não é, porém, a única razão do viés nacional da eleição mineira, que pode ter uma reedição da disputa de 2014 entre a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB).

O tucano, réu acusado de corrupção, não decidiu se será candidato. Dilma confirmou sua candidatura nesta quinta (28), afirmando que Minas será o local onde mais uma vez dois projetos para o Brasil serão confrontados.

“O que se vai discutir em Minas é o Brasil. Embora a pauta do estado seja de pagamento, de gestão, o eleitor vai ser influenciado por de que lado está nacionalmente”, diz Felipe Nunes, professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais.

No lançamento de Lula em Minas, lideranças petistas fizeram questão de expor a rivalidade. “Dois anos depois apenas, na terra do seu algoz, a Dilma vai entrar pela rampa no Senado e ele não pode pisar na calçada da sua própria casa”, disse Fernando Haddad.

O presidente do PSDB em Minas, deputado federal Domingos Sávio, porém, minimiza o embate entre Dilma e Aécio, já que, com duas vagas no Senado, a campanha não é de um contra o outro.

Ainda assim, a batalha de quatro anos atrás respinga na polarização entre Pimentel e o senador Antonio Anastasia (PSDB), candidatos considerados mais fortes ao governo de Minas. No discurso petista, o tucano aparece não só como ex-governador, mas como relator do impeachment.

“A nacionalização serve ao PT, mas não faz sentido para o PSDB. Anastasia vai falar de gestão e Pimentel vai falar de política”, resume Nunes.

Os tucanos querem o foco em Minas para explorar a crise estadual e se descolar de Aécio. “O principal objetivo é consolidar a eleição de Anastasia. O PSDB não vai entrar nesse jogo de desviar a discussão. E o Aécio comunga desse sentimento, não quer virar a discussão central”, afirma Sávio.

Segundo o deputado, Anastasia vai comparar as gestões tucanas do estado com a atual petista e, sobretudo, mostrará propostas para recuperar Minas.

“Anastasia tem colocado muito a campanha num discurso local, de reconstrução das bases de gestão que ele como governador implantou. A única nacionalização é que será preciso uma parceria com o próximo presidente para que Minas volte a ter investimento”, diz o deputado estadual João Vitor Xavier (PSDB).

Já o deputado estadual Durval Ângelo (PT), líder de governo, diz que, ao mirar em Temer, Pimentel acerta o PSDB de Minas. “Nosso inimigo é um consórcio que quer ilhar o estado. Temer estrangula Minas e atua a pedido de Aécio e Anastasia.”

Em texto deste mês, Dilma diz que a oposição a Pimentel obstrui seu governo como fizeram com o dela. Afirma ainda que tucanos e Temer agem em conluio: “são sócios no retrocesso econômico e social e no desastre político e moral”.

Outra narrativa que aproxima as esferas é a da perseguição da Justiça, da qual Lula seria vítima na Lava Jato e Pimentel, réu acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, na Acrônimo.

PAPEL DECISIVO
O professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais, Felipe Nunes, compara o papel de Minas ao de Ohio na eleição americana, estado considerado decisivo para a disputa.

“Quem ganha em Minas ganha no país, porque é sabido que de Minas pra cima vai ser vermelho e de Minas pra baixo vai ser azul”, diz.

Para os pré-candidatos ao governo federal, é importante consolidar palanque e manter agendas em Minas. Nas últimas duas semanas, foram dois eventos que reuniram pré-candidatos para discursar e responder perguntas no estado.

Em visita a Uberaba (MG), no dia 11, Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que Minas é “a síntese do Brasil”, frase que Álvaro Dias (Podemos) também costuma repetir.

O estado tem ainda nomes de alcance nacional, como do ex-prefeito de Belo Horizonte e pré-candidato ao governo de Minas, Márcio Lacerda (PSB), e do empresário e filho de José Alencar, Josué Gomes (PR).

Os dois foram alçados a posição de possíveis candidatos a vice, tanto na chapa de Ciro Gomes (PDT) como na de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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