terça-feira, 12 de junho de 2018

Raymundo Costa: Tucanos tentaram botar o guizo no gato

- Valor Econômico

Alckmin jogou o guardanapo para não jogar a toalha

Apesar dos percalços, o PSDB vai mesmo de Geraldo Alckmin em 7 de outubro. A opção seria João Doria, mas o ex-prefeito de São Paulo ampliou sua área de atrito entre os tucanos de São Paulo, antes concentrada na turma mais próxima de Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Alberto Goldman e José Aníbal, entre os mais conhecidos. O fato de Alckmin marcar agendas no interior primeiro com o governador Márcio França, candidato do PSB ao governo, diz muito.

Alckmin de fato atirou um guardanapo sobre a mesa, no calor de uma discussão com outros tucanos "preocupados" com sua candidatura, para não ter de jogar a toalha. O ex-governador se queixou de que trabalha das 6h à meia-noite, mas não tem recebido o apoio esperado do partido. E ainda desafiou os descontentes a trocar de candidato. Só um nível de pressão muito alto para levar Alckmin a uma reação dessas. O ex-governador alterna entre o introspectivo e um bom contador de "causos" da política brasileira. Doria é o nome da pressão.

O ex-prefeito já enfrentou antes cara-feia de tucano e sempre levou a melhor. Tanto na escolha do candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, em 2016, como para governador, agora em 2018. Perdeu prestígio na capital, mas há pesquisas indicando que vai bem no interior. É considerado um candidato mais empolgante para os tucanos do resto do país, atualmente preocupados mais com suas próprias eleições do que com as agruras de um candidato a presidente da República.

O jantar realizado em um hotel de São Paulo juntou figuras do estado-maior tucano, com os ex-governadores Beto Richa (PR) e Marconi Perillo (GO), o deputado Marcus Pestana (MG), secretário-geral, o líder no Senado Paulo Bauer, e o "estado-menor" - na expressão de um dos convivas - do ex-governador, formado por nomes sem interlocução nacional como os deputados Nilson Leitão, Silvio Torres e Samuel Moreira ou o cientista político Luiz Felipe d'Avila, coordenador do programa de governo.

Uma opção proposta a Alckmin é a divisão de tarefas. Perillo é o primeiro vice-presidente do PSDB. Ele e Tasso Jereissati retiraram suas candidaturas em favor de Alckmin, mas sem o compromisso de afastamento de Alckmin durante a campanha. Perillo e outros presentes convergem no sentido de que Alckmin está com muitas atribuições e precisa dividir tarefas. O candidato não tem tempo para "arredondar" o palanque dos aliados em São Paulo e ao mesmo tempo ir discutir com José Sarney o palanque do Maranhão, por exemplo.

O jantar em São Paulo revelou insatisfações fotografadas nos bastidores. Há uma convergência no PSDB de que a campanha vai mal e algo tem que mudar. Favorito a uma cadeira no Senado pelo PSDB de Goiás, Perillo poderia assumir a presidência, por delegação de Alckmin, mas o que o ex-governador goiano cobra é a elaboração de uma agenda nacional. Alckmin poderia ser ajudado na empreitada por líderes regionais como o próprio Perillo, na região Centro-Oeste, ou Beto Richa na região Sul. Alckmin teria que se afastar de algumas coisas para se concentrar no prioritário - a candidatura presidencial.

Perilo é um político de agenda. Está sempre em movimento. Em 1998 entrou na campanha para o governo do Estado com menos do que Alckmin atualmente tem nas pesquisas, contra um candidato com mais de 70% das intenções de voto e contra a vontade do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que apoiava seu ex-ministro Iris Resende (MDB). Chegou a ser convidado a se retirar o comitê da reeleição de FHC, quando tentou organizar uma entrevista coletiva no local. É seu receituário para Alckmin.

No dia seguinte ao jantar no hotel de São Paulo, Perilo esteve tanto com Alckmin como com Doria e se dispôs a fazer essa agenda. Um exemplo "de agenda mal feita" citado por outro comensal foi o lançamento do programa de segurança do candidato do PSDB, na quarta-feira, no Rio de Janeiro. Havia mesas vazias passando a nítida impressão de esvaziamento.

No caldeirão da insatisfação ferve também a questão da montagem dos palanques regionais. Mas é possível que a mãe de todas seja o financiamento das campanhas. Há reclamação sobre a partilha dos recursos, centralizada nas mãos de Geraldo Alckmin, seja dos candidatos a deputado ou a governador. A campanha presidencial, até agora de baixa densidade, comerá a maior parte do dinheiro, numa temporada de escassez imposta pela mudança da legislação sobre financiamento eleitoral.

Um tucano resumiu os embates da semana: Alckmin fala pouco, não parece confiar em ninguém fora do grupo mais próximo que o acompanha e tem uma dificuldade atávica para delegar. Parece temer que lhe passem a perna, mas essa possibilidade, curiosamente, é hoje quase inteiramente afastada no PSDB. A impressão é que alguém tentou botar o guizo no gato e o gato, em vez de miar, rugiu.

Duas vezes candidato abandonado pelo partido em plena campanha (2002 e 2006) e gato escaldado nas fervuras tucanas, José Serra, informado do barraco, apostou na resiliência de Alckmin, mas deixou no ar uma frase enigmática: "O inesperado tem lugar permanente na assembleia dos acontecimentos".

PSB
Nas conversas entre os partidos, o PSB quer negociar os palanques estaduais com o PT sem amarração com o palanque nacional, ou seja, compromisso com o candidato a ser lançado pelo PT no lugar de Lula. O PT, por seu turno, estica decisões para negociar numa posição mais vantajosa, se Lula mantiver o atual desempenho nas pesquisas eleitorais. Mas a queda do ex-presidente de 13% para 10% na pesquisa espontânea do Datafolha divulgada no domingo, sendo inclusive ultrapassado por Jair Bolsonaro (PSL), animou os petistas que querem o fim do interdito de Lula sobre a discussão da candidatura alternativa.

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