quarta-feira, 13 de junho de 2018

Vinicius Torres Freire: Acalmar o país até 2019

- Folha de S. Paulo

Falta liderança política e social para levar um país transtornado até o próximo governo

A disputa do governo do Brasil em 2019 está na fase do vale-tudo. É o caso tanto dos candidatos para valer como daqueles que já caem pelas tabelas, para a segunda divisão dos coadjuvantes, representantes para inglês ver de grupos que procuram como se ajeitar em um barco vitorioso. "Business as usual", parece. Não é bem assim.

Gente do MDB diz, nas internas, que Henrique Meirelles será rifado, oficialmente ou na prática. O DEM-PP, na proa do centrão, procura fazer qualquer acordo. Jair Bolsonaro (PSL) pode pegar um pedaço de carne que cair desta mesa dos partidos maiores ou menos nanicos, o que lhe daria tempo de TV.

Isso é política politiqueira. Nosso buraco é mais para baixo. Candidatos para valer, PDT, PSDB, o PT e os coadjuvantes maiores aparecem com discursos e atitudes inconsequentes, dada a gravidade da crise, o risco de ingovernabilidade, na próxima Presidência inclusive.

Seria conveniente, por ora um devaneio irrealista, que o próximo presidente contasse com apoio no Congresso para arrumar a casa mesmo antes de tomar posse, ainda neste ano.

Seria prudente que lideranças assumissem a responsabilidade de levar o país em ordem até o fim do ano, mas faltam grandeza ou mesmo esperteza qualificada na praça: não há quem se dê conta dos riscos, de modo consequente. A atitude preponderante é saquear o que se pode até o fim deste governo ou de apoiar mais tumulto.

A disputa eleitoral pode causar instabilidade financeira grave; o que vemos desde maio é uma preliminar. Improvável que ocorram revoltas tão grandes quanto a do caminhonaço, mas o país está descontrolado e desconjuntado. Há possibilidade menor de tumulto político-judicial; processos contra Michel Temer tendem a ser empurrados com a barriga, mas tudo é problema neste ambiente ruim.

Trata-se de riscos, não de previsão de tumulto, mas há pouca cobertura de seguro, pois: 1) as lideranças são mesquinhas, mefíticas, incapazes ou irresponsáveis, vide a resposta de governo, Congresso, líderes partidários e da sociedade civil ao caminhonaço; 2) não há disposição para acordos ou armistícios, o clima é de vale-tudo, dane-se o que sobrar do país.

Ainda vai levar mais de mês antes que possa aparecer alguma luz. Até as vésperas das convenções, há apenas interesse bruto e cego de acumular meios de ficar no pelotão de frente das pesquisas e máquinas de apoio, com exceção de Marina Silva (Rede), que não sabemos bem o que está fazendo.

A disputa está muito aberta e, portanto, deve ser agressiva, em um ambiente de degradação partidária e sociedade desorientada.

Um petista pode ganhar de 10 a 30 pontos com um dedaço de Lula, a julgar pelo que dizem as pesquisas, o que poderia colocar pelo menos por um tempo o capitão da extrema direita e o PT na liderança, um fator de tumulto financeiro, tanto faz nossa opinião sobre a finança.

Há outros votos em disputa. Os nanicos, que muitos podem ficar pelo caminho, têm mais de 12 pontos no último Datafolha. Nulos, brancos e indecisos são um terço dos votos. Há pois muito pano para uma manga torta.

O assunto aqui não é o chute de possibilidades eleitorais, mas o risco de que a disputa política desembestada deixe o país em pandarecos, daqui em diante. Por ora, não há quase ninguém disposto a colocar ordem razoável na casa, afora defensores de trincheiras na área econômica, goste-se ou não do que eles pensam.

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