quinta-feira, 5 de julho de 2018

Pré-candidatos têm baixa interação com demandas dos eleitores

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - Levantamento realizado em maio e junho pela consultoria.MAP, proprietária do Índice de Positividade Brasil Opinião (IP Brasil-Opinião), que mede, nas redes sociais, o apoio da sociedade aos principais temas da atualidade, revela uma baixa interação entre as demandas dos eleitores e os principais temas discutidos pelos pré-candidatos à Presidência da República.

Líder nas pesquisas de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) aparece como o presidenciável mais citado nas redes sociais (34,8%), com 39% de manifestações positivas. O parlamentar fluminense, no entanto, concentrou a maior parte de seus posts (60%) nos últimos dois meses para falar de si ou de sua pré-campanha.

A pré-campanha de cada postulante foi neste período o fato político mais destacado pela sociedade nas redes sociais, embora por apenas 18%. "Esse dado revela um descasamento entre o eleitorado e os pré-candidatos de um modo geral, e não só o Bolsonaro, já que nenhum deles aborda outros assuntos demandados de uma forma mais ampla em seus posts", afirma Marília Stábile, diretora-geral da.MAP.

Citado por 31,7% dos usuários, Lula conta com mais menções favoráveis (45%) que Bolsonaro. O petista, que está preso desde abril, dividiu seus comentários entre sua pré-campanha (37,3%) e a Operação Lava-Jato (35,1%), pela qual foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e que com 9% foi a segunda questão política mais debatida pelos usuários.

O ex-ministro Ciro Gomes aparece como o terceiro mais comentado (13,5%), com 28% de menções favoráveis. O pedetista também focou em si próprio (60,5%), embora, ao contrário de Bolsonaro, tenha apresentada uma pauta mais diversificada e alinhada com o eleitorado ao tratar, ainda que em alguns casos de forma residual, de outros temas debatidos nas redes sociais, como o governo Michel Temer, o desemprego, a corrupção, o machismo e o racismo.

Com menos citações, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o empresário Flávio Rocha (PRB) tiveram percentuais parecidos com os registrados por Bolsonaro e Ciro em suas interações com os usuários no que se refere à própria pré-candidatura. Mas a exemplo do pedetista e na contramão do parlamentar, os três presidenciáveis falam, mesmo que de maneira breve, de outros assuntos.

A deputada estadual Manuela d'Ávila é a pré-candidata ao Planalto que menos fala de sua pré-campanha (18,4%), enquanto o Henrique Meirelles (MDB) aparece na outra ponta (79,3%). O ex-ministro da Fazenda, por outro lado, tem a melhor avaliação (55%). Mas isso somente porque, ao lado do empresário João Amoêdo (Novo), os dois são os menos mencionados, com apenas 0,4% de comentários.

Na avaliação da consultoria.MAP, Guilherme Boulos (Psol) desponta como o presidenciável que mais dialoga com os usuários, uma vez que dos 10 assuntos políticos mais discutidos nas redes sociais, ele aborda oito em seus posts. O líder do MTST, entretanto, conta com 2,1% de manifestações, sendo 38% positivas.

Com base em um levantamento das redes sociais, a.MAP divulga hoje o IP Brasil Opinião, que representa um indicador de antecedente das expectativas dos brasileiros. Quanto mais próximo de 100%, maior a aprovação dos temas escolhidos pela sociedade. O levantamento, que contempla um período de três anos, entre julho de 2015 e junho de 2018, aponta para um índice de 36%.

"O ambiente político está deteriorado e isso cria uma percepção de crise", pondera Marília. A política domina a maior parte das manifestações (55%) nas redes sociais, seguida por questões de bem-estar (27%) e economia (18%). A política conta com uma média de 40% de menções favoráveis ao longo deste período.

Essas manifestações positivas foram puxadas, sobretudo pelo apoio à Lava-Jato, que depois de atingir um pico de 81% no início de 2017, aponta para uma tendência de queda ao registrar uma taxa de 47% no mês passado. Marília observa que a ascensão de Temer também gerou um otimismo momentâneo, mas que desde o vazamento do áudio de um diálogo entre o dono da JBS, Joesley Batista, e o presidente, a percepção da sociedade sobre o país nunca mais se recuperou.

O desemprego, por sua vez, puxa para baixo a expectativa com a economia, a exemplo da paralisação dos caminhoneiros após as negociações conduzidas pelo governo federal. Para Marília, a crise de desabastecimento serviu como catalisador para insatisfações da sociedade, em um cenário parecido com as manifestações de 2013 contra o aumento nas tarifas do transporte público.

A desilusão da sociedade com a política e a economia, segundo Marília, contrasta com o ativismo dos usuários em temas como educação e diversidade.

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