segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Angela Bittencourt: A hora é de Lula ou é o PT que volta ao jogo?

- Valor Econômico

Haddad defende reformas e ganha pontos no mercado

Termina na quarta-feira, 15 de agosto, o prazo para que os partidos registrem, na Justiça Eleitoral, seus candidatos às eleições de outubro. A campanha mal começou, mas já revela alta complexidade, seja pelo ineditismo da informal chapa "tríplice" de esquerda que será depurada se o PT pretende seguir rumo ao Palácio do Planalto; seja pela fragilidade da economia brasileira e a permanente carestia dos cofres públicos; ou, ainda, pelo fato de o cenário internacional estar mudando. E para pior. Nesta segunda-feira, a Turquia volta a ser termômetro sobre o humor dos investidores globais com relação às economias emergentes depois que a lira entrou em colapso, na sexta-feira, e o presidente Donald Trump colocou um prego no caixão da Turquia ao dobrar as alíquotas de importação do aço e do alumínio daquele país.

Turbulência externa é uma constante desde que Trump desembarcou no Salão Oval da Casa Branca. Mas uma turbulência externa prolongada é um problema adicional para o Brasil neste 2018 por agravar um leque de incertezas que se abre com as eleitorais.

Sensíveis aos movimentos cambiais, as contas externas do Brasil vão bem, mas podem ser comprometidas e, no médio prazo, frustrar investimentos essenciais a um ciclo de crescimento. O governo Temer tem quatro meses pela frente, mas dois deverão ser dedicados à transição. E, no Congresso, não faltam decisões relevantes pendentes. Duas delas: as condições em que vão ocorrer os leilões do petróleo pré-sal e a privatização da Eletrobras. Também não se deve desprezar que a taxa de juro brasileira deixou de ser a mais atraente do mundo e que as maiores economias voltaram a pagar juros positivos, após anos de taxas negativas.

A conta de capital do Brasil mostra que, nos 12 meses até junho, os investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 64,3 bilhões, 3,25% do PIB. De janeiro a junho deste ano, porém, esse tipo de investimento alcançou US$ 29,878 bilhões, uma queda de 17,5% ante US$ 36,221 bilhões registrados em igual período de 2017. No ano passado inteiro, o Brasil recebeu US$ 70,6 bilhões de investimento direto, mas, em 2014, às vésperas de perdas inéditas de Produto Interno Bruto (PIB), o ingresso superou US$ 97 bilhões.

Os investimentos de estrangeiros em portfólio estão positivos em US$ 1,854 bilhão de janeiro a junho deste ano, mas foram negativos em US$ 1,074 bilhão em 2017 e em US$ 19,361 bilhões em 2016.

Hoje, a economia brasileira tem de consistente uma inflação sob controle e a menor taxa de juro de sua história. Contudo, esse saldo pode ser modesto num cenário de aperto global de condições financeiras - cenário que torna a eleição presidencial ainda mais relevante, porque se espera que da eleição saiam os principais agentes de mudança.

Também por essa razão, cresce a expectativa em torno do registro da candidatura do ex-presidente Lula, pelo PT, à presidência da República. Nome mais votado nas pesquisas de opinião quando mencionado, Lula tem no candidato da direita Jair Bolsonaro (PSL) seu principal adversário. Sem Lula na parada, Bolsonaro é líder na preferência do eleitor.

Inelegível, segundo especialistas em Direito eleitoral, por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa, Lula já fortalece seu candidato a vice, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Por sua vez, Haddad, que pode vir a ser cabeça de chapa caso a candidatura do ex-presidente seja impugnada, também tem sua candidata a vice: a deputada Manuela D'Ávila, do PC do B.

Esse arranjo de difícil compreensão para quem não está familiarizado com a política brasileira põe Haddad sob holofotes como se viu na semana passada, durante um evento promovido pelo banco BTG Pactual, em São Paulo. Caiu bem entre os convidados da instituição Haddad ter considerado exemplar o "método de trabalho" de Lula quando no governo, ao reconhecer quando não conhece um assunto e chamar para o diálogo".

Durante o debate do BTG, o ex-prefeito perdeu pontos ao classificar o teto gastos de "ingenuidade política porque não inibiu nenhuma das pautas-bombas", mas os pontos foram recuperados por ter defendido urgência para a reforma da Previdência.

Esta fase terminal para os registros das candidaturas é relevante. Pode haver desistência de pré-candidatos que vinham negociando apoio com outras legendas tendo, como consequência, o fortalecimento desta ou daquela chapa. E sua capacidade de articulação no Congresso.

Até duas semanas atrás, o mercado financeiro se mostrava refratário a qualquer candidato além de Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT). Eles eram apontados como os mais prováveis protagonistas de um embate que poderia ser o ápice da campanha para presidente do Brasil. Contudo, nos últimos dias, alguns profissionais já não consideravam despropositada a possibilidade da dupla ser desbancada por Geraldo Alckmin (PSDB) e Haddad.

É prematuro interpretar um eventual revezamento dessas duplas de opositores como desenlace da disputa eleitoral, até porque (por ora) Lula é o presidenciável alavancado pelo PT. Mas a possibilidade de vir a ocorrer um enfrentamento entre PSDB e PT poderá impor um novo padrão de risco no mercado financeiro. A maior instabilidade dos preços dos ativos, observada nas últimas sessões, refletiu, além do temor com desdobramentos da crise na Turquia, a percepção de que Haddad pode ganhar espaço no quadro eleitoral.

Ciro Gomes, candidato ao Palácio do Planalto pelo PDT, ganhou rápido destaque nas avaliações feitas por executivos do mercado por ser visto como uma ameaça à expectativa de consolidação das reformas econômicas necessárias para que o país desate o nó fiscal que, entre outros fatores, barra o caminho do crescimento. Bolsonaro, postulante ao cargo pelo PSL, arrepiou por suas posições radicais. Conquistou opiniões generosas, é fato. Porém, ancoradas na credibilidade do seu assessor econômico Paulo Guedes.

A frustração despertada pela dificuldade do tucano Alckmin de angariar votos minou sua imagem de candidato dos sonhos do mercado. Porém, essa frustração sofreu um desconto com o apoio do Centrão e posterior indicação da senadora Ana Amélia (PP-RS) para vice-presidente em sua chapa.

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