sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Bruno Boghossian: Guerra de prazos

- Folha de S. Paulo

Ideal é que Justiça decida processo do petista o quanto antes, mas sem atropelos

Dois dias antes do registro da candidatura de Lula, Raquel Dodge já tinha em mãos uma certidão que confirmava a condenação criminal do ex-presidente. A procuradora-geral se antecipou e correu à Justiça para pegar o documento chave do processo que deve barrar o petista na disputa eleitoral.

Dodge não escondeu a pressa. Mal o pedido de Lula pingou no sistema do TSE e a procuradora-geral enviou um pedido para declará-lo inelegível. Passaram-se apenas 48 minutos entre um evento e outro.

O teatro do PT não era nenhum segredo. A procuradora poderia ouvir de seu gabinete o carro de som dos petistas estacionado no TSE. Era natural que Dodge se preparasse para impugnar Lula, mas poderia ao menos ter feito sua própria encenação.

A celeridade do Ministério Público e da Justiça já deu muita munição ao PT para alardear o que considera uma perseguição a Lula.

Ainda que uma velocidade diferente não alterasse o desfecho dos processos, cada passo apressado de procuradores e juízes mostra que não há sequer tentativa de disfarçar o tratamento diferenciado dispensado ao petista em múltiplas instâncias.

Dodge e seus colegas até agem por motivos nobres ao requerer uma decisão a jato sobre a candidatura. Uma eleição presidencial é coisa séria. A campanha já começou oficialmente e os brasileiros têm o direito de saber o quanto antes quem são os nomes aptos a receber seus votos.

A procuradora-geral chegou a pedir que o TSE comece a contar o prazo para manifestação da defesa de Lula, embora mal tenha começado a valer o período oficial de cinco dias para contestação das candidaturas.

O ministro Luís Roberto Barroso teve mais cuidado. Pediu que a presidente do tribunal pacificasse questões sobre a relatoria do caso antes de tomar qualquer decisão.

O ideal seria mesmo que a Justiça Eleitoral apresentasse uma conclusão para o processo o quanto antes, mas sem atropelos. As maquinações do PT servem para ampliar a confusão —mas ainda estão dentro da lei.

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