sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Em debate presidencial morno, candidatos evitam confrontos

Sem presença de candidato do PT, Jair Bolsonaro é poupado de ataques e Geraldo Alckmin vira alvo de provocações de rivais

Pedro Venceslau, Marianna Holanda, Gilberto Amendola, Mateus Fagundes, Daniel Galvão | O Estado de S.Paulo

No primeiro debate da disputa pela Presidência da República, promovido na noite desta quinta-feira, 9, pela TV Band, os candidatos evitaram, na maior parte do tempo, o confronto direto. O encontro entre os presidenciáveis, que durou cerca de 3 horas, transcorreu em temperatura morna. A expectativa de que o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, fosse o principal alvo de questionamentos dos adversários não se confirmou. Dono da maior coalizão partidária, o tucano Geraldo Alckmin enfrentou provocações dos rivais.

Bolsonaro lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato. Lula foi oficializado como candidato do PT no fim de semana passada. A defesa do petista tentou garantir sua presença no debate, mas os pedidos foram negados pela Justiça.

Além de Bolsonaro e Alckmin, participaram do evento Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Alvaro Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Cabo Daciolo (Patriota).

Com um discurso mais técnico, o candidato do PSDB procurou, em suas falas, citar dados de suas gestões em São Paulo, enquanto adversários tentaram associá-lo ao governo Michel Temer. Foi confrontado por medidas econômicas da gestão emedebista e sobre a aliança com o Centrão. Marina Silva criticou a aliança do PSDB com o bloco partidário, que integra a base do Palácio do Planalto. A ex-ministra disse que o governo é responsável pelas “mazelas e tem assaltado o povo”. “Isso é fazer mudança?”, questionou ela ao tucano.

Alckmin afirmou que, para sair do “marasmo”, é preciso aprovar reformas e que isso depende de uma “maioria” no Congresso. “Alianças são por tempo de TV, para se manter no poder. É a governabilidade com base no exercício puro e simples do poder”, disse Marina. “Política é um caminho para mudanças e alianças são necessárias para implementar mudanças”, respondeu o tucano.

No debate, Ciro e Alckmin divergem sobre reforma trabalhista
Ciro e Alckmin divergiram em relação à reforma trabalhista, aprovada em 2017. O candidato do PDT perguntou ao tucano se ele iria manter a reforma trabalhista, que, na avaliação do ex-ministro, introduziu insegurança jurídica e é uma “aberração”. Alckmin defendeu a reforma, que ele classificou como “avanço”. “Mantenho a posição, reforma trabalhista vai estimular mais emprego", afirmou.

O Bolsa Família, marca de gestões petistas, foi elogiado por Meirelles e por Alckmin, que prometeram aprimorar o programa de distribuição de renda. O tucano aproveitou o tema para dizer que vai investir na área social, principalmente no Nordeste, levando “água ao semiárido”.

O ex-ministro da Fazenda questionou o tucano ao dizer que o PSDB chamou o Bolsa Família de “Bolsa Esmola” e que o DEM, partido do Centrão que apoia Alckmin, afirmou que o programa “escraviza as pessoas”. O tucano afirmou que vai ampliar o programa com dinheiro do “Bolsa Banqueiro”.

O debate foi aberto com uma questão única para todos os candidatos: como combater o desemprego. Alvaro Dias gastou o tempo concedido se apresentando aos telespectadores e foi interrompido quando citava novamente a sua intenção de, se eleito, convidar o juiz federal Sérgio Moro para o Ministério da Justiça.

Na rodada de perguntas entre os candidatos, o momento mais quente ocorreu quando Boulos começou perguntando para Bolsonaro, a quem chamou de “machista”, “racista” e “homofóbico”. O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) questionou o deputado sobre uma suposta funcionária fantasma mantida por Bolsonaro em Angra dos Reis. “Quem é a Wal”, disse Boulos. Bolsonaro afirmou que ela é uma funcionária em situação legal e retrucou: “Pensei que fosse discutir política.”

O candidato do PSL questionou uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre a funcionária. “Eles foram lá e não acharam nada”. Na tréplica, Boulos afirmou: “Wal é funcionária fantasma, que cuida dos cachorros do Bolsonaro em Angra dos Reis. Wal é vítima. Bolsonaro é a velha política corrupta. O senhor não tem vergonha?”, questionou Boulos. “Teria vergonha se invadisse casa dos outros”, respondeu o deputado.

O tema “mulheres” foi citado por Alvaro Dias, que fez uma pergunta a Bolsonaro. Dias falou sobre a questão da diferença de salário entre homens e mulheres e da violência contra a mulher. Segundo Bolsonaro, a questão da misoginia foi um “rótulo que botaram na minha conta". Disse que valoriza as mulheres e que, em breve, os homens é que vão querer ganhar igual às mulheres. Citou ainda seu projeto de castração química de estupradores que quiserem reduzir suas penas. “Mas as mulheres de esquerda são contra.”

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