quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Esquerda se divide em eleição presidencial e nos estados

Sem acordo sobre uma candidatura única à Presidência da República, os partidos de esquerda também se dividem na disputa dos governos estaduais. A cinco dias do prazo final para as convenções, PT, PCdoB, PDT e PSB só se uniram em cinco estados.

Esquerda fragmentada

Impasse de PT, PSB, PCdoB e PDT vai da Presidência à luta nos estados

Amanda Almeida e Bruno Góes | O Globo

BRASÍLIA/Evidenciadas mais uma vez ontem, durante reunião em Brasília, as divergências entre os partidos de esquerda, que impedem a formação de um bloco na corrida presidencial, extrapolam para as disputas locais. Levantamento realizado pelo GLOBO mostra que, se o prazo para registro de coligações terminasse hoje, PT, PDT, PSB e PCdoB marchariam juntos em apenas cinco estados: Maranhão, Ceará, Bahia, Acre e Roraima. A menos de uma semana do fim do período de convenções, na maioria das unidades da federação as legendas estariam em parte ou totalmente separadas. Há uma série de indefinições que só devem ser desfeitas nos próximos dias.

Ontem, os partidos não conseguiram chegar a um acordo sobre a eleição presidencial. Depois de ver a candidatura de Geraldo Alckmin ganharfôlegocomoapoiodas legendas de centrão, as legendas tentaram articular uma candidatura única. Mas a insistência do PT e do PDT em lançar o ex-presidente Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) ao Planalto, respectivamente, impediu qualquer avanço.

— Vivo o carnaval do Rio há 40 anos. O que acontece é que as escolas coirmãs desfilam sozinhas. Depois, comemoram todas juntas a vitória da campeã —resume o presidente do PDT, Carlos Lupi, sobre a falta de acordo entre os quatro partidos.

Em 2014, a candidatura de Dilma Rousseff teve o apoio formal do PDT e do PCdoB, enquanto o PSB lançou Eduardo Campos, aliado à Rede, de Marina Silva, que acabou assumindo a disputa depois da morte de Campos em acidente aéreo.

O PSOL, que lançou Guilherme Boulos à Presidência, chegou a participar das conversas por unidade, mas não esteve presente na reunião de ontem e não tem histórico de alianças com os outros partidos do mesmo campo político.

O PCdoB foi o único partido com candidatura própria a demonstrar, mais uma vez, disposição em retirá-la. Lupi, no entanto, descartou qualquer acordo. A presidente do PT,Gleisi Hoffmann, se guiu o colega e deixou claro que a legenda insistirá na candidatura de Lula, preso em Curitiba desde abril e condenado em segunda instância no caso do tríplex, o que o torna inelegível pela Lei da Ficha Limpa.

A posição de Gleisi foi interpretada como um recado do PT de que, mesmo se Lula for barrado pela Justiça, o partido não deixará de ter candidato próprio.

—É uma teimosia que acaba com o diálogo — reclamou um dos presentes.

Com a possibilidade quase nula de uma aliança nacional entre as cinco legendas, a principal expectativa agora é sobre o caminho do PSB, que se reúne para decidir seu futuro no domingo. O partido teve de adiar sua convenção porque ainda não conseguiu chegar a um acordo e se tornou o principal alvo do PT e PDT. A legenda está dividida entre três possibilidades: apoiar o PT, fechar com o PDT ou manter-se neutra.

Ciente do risco de perder o aliado para o PDT, o PT insiste que os socialistas optem pela neutralidade. Em troca, oferece a retirada da candidatura de Marília Arraes (PT) em Pernambuco, rumo a um acordo com o governador Paulo Câmara (PSB).

Já o PDT oferece a vice de Ciro ao PSB. Os nomes cotados são Marcio Lacerda e o ex-prefeito de Curitiba Luciano Ducci. O primeiro disse ontem que é candidato ao governo de Minas e não há mais tempo para tratar de vice. Sobre o segundo, Siqueira disse que é um "excelente nome".

— Mas reforcei que não estamos discutindo qualquer vice, uma vez que ainda não temos uma decisão. Apenas no domingo, saberemos qual vai ser a escolha do partido —diz Siqueira.

Nos cinco estados em que o bloco de esquerda caminha junto, três são coligações com candidatos do PT ao governo do estado: Marcus Alexandre (AC), Rui Costa (BA) e Camilo Santana (CE). As exceções são Flávio Dino, do PCdoB no Maranhão, e Suely Campos, do PP em Roraima.

No Sul e no Sudeste, regiões em que o PT perdeu mais espaço após o impeachment de Dilma Rousseff, a fragmentação é maior. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o PT terá candidato próprio: Miguel Rosetto. Mas o PCdoB pode lançar Abigail Pereira. Já o PDT vai lançar Jairo Jorge. E o PSB vai apoiar a reeleição de José Sartori, do MDB.

Outras alianças regionais são incompatíveis com as conversas que ocorrem no âmbito nacional. No Pará, PSB e PDT apoiam o candidato um candidato do DEM: Márcio Miranda. Já o PT terá a candidatura própria de Paulo Rocha, com apoio do PCdoB. No Piauí, onde o atual governador Wellington Dias tem uma ampla coalização — inclusive com apoio de PCdoB e PDT—, o PSB apoiará um tucano: Luciano Nunes.

No Rio, os quatro partidos de esquerda estão divididos: Márcia Tiburi, do PT, negocia apoio do PCdoB. O PDT tem a pré-candidatura de Pedro Fernandes, mas flerta com Eduardo Paes. E o PSB depende de um aval da direção nacional para saber com quem irá caminhar.

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