terça-feira, 7 de agosto de 2018

Industria se recupera, mas projeções não melhoram: Editorial | Valor Econômico

A recuperação da indústria em junho neutralizou as perdas registradas após a greve dos caminhoneiros, em maio, mas ficou aquém do esperado e é insuficiente para suscitar maiores entusiasmos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial cresceu 13,1% em junho, depois de ter desabado 11% em maio, no pior desempenho desde dezembro de 2008, quando a economia global foi abatida pela crise financeira internacional.

Junho registrou crescimento recorde da série histórica da pesquisa, que começou em 2002, inferior, porém ao projetado. No mercado financeiro, se esperava um crescimento até ligeiramente acima de 14%. Alguns indicadores de atividade econômica já sinalizavam uma reação, como o maior fluxo dos veículos nas estradas, a expansão das vendas de caixas, acessórios e papelão ondulado, maior movimento no comércio e na demanda por serviços, além do aumento das vendas de veículos comerciais leves e de caminhões, registrado tanto na ponta da fabricação pela Anfavea quando nas concessionárias, pela Fenabrave.

Houve crescimento recorde nas quatro categorias econômicas, com destaque para a de bens de consumo duráveis, que avançou 34,4%, o suficiente para reverter a perda de 26,1% de maio. Também compensaram as perdas os segmentos de bens de capital, com crescimento de 25,6%; de bens de consumi semi e não duráveis, com 15,7%; e de bens intermediários, com 7,4%. Dos 26 ramos pesquisados pelo IBGE, 22 apresentaram crescimento. Além disso, 15 deles voltaram ao patamar de abril, antes da paralisação. A indústria de transformação cresceu 14,4%. Já a extrativa, que foi pouco afetada pela greve por depender mais do transporte ferroviário, teve expansão de 0,3%. Como se previa, as principais influências positivas vieram de da produção de automóveis e de alimentos, que haviam sido os mais prejudicados pela greve. A produção de veículos automotores, reboques e carrocerias saltou 47,1%, depois de ter afundado 30,1% em maio; a de bebidas cresceu 33,6%; e a de alimentos, 19,4%.

Apesar da reação vistosa, o tombo de maio prejudicou a média trimestral, que ficou 2,5% abaixo do patamar do primeiro trimestre, feito o ajuste sazonal. A indústria ainda está 13,7% abaixo do pico de produção, alcançado em maio de 2011, estima o IBGE, e ligeiramente acima do patamar anterior à greve. Diante do resultado, alguns analistas já esperam que a indústria contribua para um Produto Interno Bruto (PIB) negativo ou estável no segundo trimestre, dado que o varejo e os serviços não têm mostrado vibração especial. No ano, o aumento acumulado da produção industrial é de 2,3%; e, em 12 meses, de 3,2%. A avaliação é que a indústria apenas voltou ao patamar de 2017, quando cresceu 2,5% após três anos seguidos de quedas.

Embora a maior parte dos setores industriais acompanhados pelo IBGE apresente crescimento, ele é mais significativo em alguns, notadamente o de veículos automotores, reboques e carrocerias. A dependência não deixa de ser preocupante uma vez que o mercado externo chega a ser determinante nesse desempenho e depende de mercados instáveis como o argentino. Ainda ontem a Anfavea divulgou o aumento de 9,3% da produção de automóveis no mês passado, na comparação com o mesmo período de 2017, e de 13% no acumulado do ano. As vendas de veículos cresceram 17,7% em julho em relação a julho de 2017, e 14,9% no ano.

Antes da divulgação desses novos números da Anfavea, instituições do mercado financeiro projetavam para julho ligeira queda da produção industrial, pouco superior a 1%, e não mostravam ânimo especial com os últimos meses do ano. Geralmente o segundo semestre é melhor para a indústria por conta do aumento de encomendas. Mas, neste ano, tudo indica que será diferente dadas as elevadas incertezas eleitorais, que devem acentuar a volatilidade no câmbio, intensificando a baixa dos índices de confiança, já abalados, dos consumidores e dos empresários.

Ainda influencia negativamente esse quadro a anemia do mercado de trabalho, apoiado no emprego informal, que não sustenta um consumo vigoroso. Pior ainda é que, se a indústria não cresce, a economia também não ganha tração. Antes da greve, o mercado financeiro chegou a projetar na pesquisa Focus crescimento de até 4,5% para a indústria neste ano. Agora, o índice está em 2,85%. A estimativa para o PIB, que atingiu até 3%, segue agora em 1,5%.

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