quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Adversários atacam Haddad para tentar alcançar vaga no 2º turno

Por Malu Delgado, Fabio Murakawa e Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - Com Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas, ausente do debate entre os presidenciáveis promovido pelo SBT, jornal "Folha de S. Paulo" e portal UOL, Fernando Haddad (PT), o segundo colocado, tornou-se o alvo preferencial dos adversários da "terceira via" que ainda almejam uma vaga no segundo turno contra o ex-capitão do Exército.

Os ataques mais ácidos contra Haddad vieram justamente da ex-petista Marina Silva (Rede) e de Ciro Gomes (PDT), que saiu direto para o evento de uma internação para uma cirurgia na próstata no Hospital Sírio-Libanês. Os dois se colocam como possíveis receptores de votos de eleitores de esquerda desiludidos com o PT e daqueles que querem fugir de radicalismos.

"Francamente, se puder governar sem o PT, eu prefiro. Porque neste momento o PT representa uma coisa muito grave no país. Porque ele gerou essa confrontação odienta no país, que gerou o Bolsonaro", afirmou Ciro.

Haddad, ao responder a pergunta de um jornalista sobre alianças, lembrou que Ciro "há pouco tempo" o convidou para ser vice em sua chapa e que o pedetista classificou a união entre eles como "dream team". À saída do evento, o petista minimizou o entrevero: "Essas coisas mudam".

Mas foi Marina Silva que, na avaliação dos próprios petistas, fez a crítica mais incômoda ao ressaltar a parceria de Haddad com nomes do MDB, como o senador Renan Calheiros, que apoiou o impeachment de Dilma Rousseff.

Ao contrário do primeiro debate, em que Haddad fez uma deferência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PT foi bem menos enfático em relação a seu padrinho político.

Cobrado pela dependência política do padrinho, Haddad adotou a estratégia de enfatizar a necessidade de gerar empregos em seus discursos. E tentou destacar feitos de sua passagem como ministro da Educação.

Ao responder a Haddad sobre a emenda constitucional que limita o gasto público, Marina Silva foi dura com o candidato petista. "O governo Temer foi colocado onde está pelo PT, no governo Dilma [Rousseff]. Marina afirmou, ainda, que a primeira medida para aumentar a geração de empregos é "recuperar a credibilidade do país" após uma onda de corrupção dos governos de PT, MDB e PSDB.

Haddad reagiu, dizendo que "quem botou o Temer lá foram vocês, a oposição", que votou a favor do impeachment. E enfatizou que Marina foi favorável ao fim do mandato de Dilma Rousseff. "O Temer traiu a Dilma e quem colocou ele lá foi a oposição".

Marina, na réplica, foi ainda mais ácida: "Você foi lá pedir bênção ao Renan Calheiros, que também apoiou o impeachment", em referência ao senador do MDB que, como presidente do Senado, comandou a votação que confirmou o afastamento de Dilma do poder.

Esse o pior momento para a imagem do Haddad no debate, uma vez, segundo petistas, fragiliza o discurso de que o impeachment foi "um golpe".

O candidato do Podemos a presidente, Alvaro Dias, também mirou o PT ao acusar a sigla de ser "medalha de ouro" na Olimpíada da "ficção" e da "mentira".

Dias já tinha feito críticas a Haddad ao tratá-lo como "representante do preso que está Curitiba", numa referência ao ex-presidente Lula, condenado por corrupção e lavagem. Em suas considerações finais, o senador paranaense ainda voltou a atacar o PT ao dizer que o petismo deixou um "rastro de sangue" após duas administrações no governo federal e que por isso é preciso impedir a volta desta "organização criminosa".

"O senhor foi senador do PSDB e apoiou FHC [Fernando Henrique Cardoso]. No governo dele, aumentou carga tributária de 26% para 31% do PIB. Não aumentamos, ao contrário, fizemos o povo ter acesso aos recursos públicos. O pobre, negro, mulheres chegaram a universidade por causa desses programas", rebateu Haddad.

Na toada do voto útil, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, foi questionado sobre a carta escrita pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em que pediu a união da terceira via. "O presidente Fernando Henrique fez um documento dirigido às pessoas, não aos partidos", justificou.

As negociações nos bastidores para uma unidade da terceira via fracassaram, até pela difícil situação do tucano, que ainda não ultrapassou um dígito nas pesquisas de intenção de votos e aparece em quarto lugar. Na carta, FHC pediu uma reflexão contra a "marcha da insensatez".

Segundo Alckmin, o ex-presidente agiu para "evitar que o PT volte ao poder e evitar a insensatez de um candidato que representa o que há de mais atrasado, na política brasileira num país tão plural como o Brasil". O candidato do PSDB disse que o eleitor ainda fará uma "reflexão". O tucano, no entanto, poupou de maneira geral o adversário do PSL, ao contrário do que tem feito no horário eleitoral. À parte essa menção, Alckmin voltou a se referir a Bolsonaro como o "candidato da discriminação" em suas considerações finais.

O ex-governador de São Paulo também foi questionado sobre o envolvimento de governadores do PSDB e outros tucanos em escândalos de corrupção. Na semana passada, o ex-governador Beto Richa foi preso em mais uma fase das investigações da Operação Lava Jato. Também o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, foi alvo investigações da Polícia Federal. "Todos os partidos estão fragilizados", disse.

Ele repetiu que o partido "não passa a mão na cabeça de ninguém" e que "quem errou paga por isso". Ao finalizar sua resposta, Alckmin enfatizou que é o nome capaz de fazer reformas estruturais, porque conta com o apoio da maioria. O candidato fechou uma aliança ampla com os partidos que integram o chamado Centrão. "No Brasil só faz reforma se tiver maioria. O resto é conversa fiada."

Ele ainda protagonizou uma discussão com Guilherme Boulos, quando o candidato do Psol ressaltou que, como professor, sabia que "faltava giz na sala de aula, papel higiênico no banheiro das escolas e os professores são desvalorizados". "Agora, o que eu e o Brasil todo queremos saber sobre a educação, Alckmin, é: cadê o dinheiro da merenda?", provocou, ao lembrar o episódio de corrupção investigado na gestão tucana.

Alckmin defendeu os indicadores do Estado na área e negou fechamento de escolas. "Tenho 40 anos de vida pública, sempre trabalhei, não fui desocupado, não invadi propriedade, não tenho nenhuma condenação", reagiu.

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