quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Intenção de voto nunca foi tão baixa nesta altura da disputa

Número de indecisos ou que pretendem anular é recorde na série do Ibope

Marco Grillo e Miguel Caballero | O Globo

Faltando 11 dias para a eleição, os líderes em intenção de voto nunca estiveram em um patamar tão baixo —a pesquisa Ibope divulgada na noite de segunda-feira mostrou Jair Bolsonaro (PSL) na ponta com 28% e Fernando Haddad (PT) em segundo, com 22%. Ao mesmo tempo, nunca foi tão alta a soma dos eleitores que se declaram indecisos com os que pretendem anular ou votar branco: está em 18%. A comparação é feita com as pesquisas do Ibope divulgadas a duas semanas da eleição nos pleitos de 2002, 2006, 2010 e 2014.

Em geral, os líderes costumavam aparecer na casa dos 40%. Somados, Bolsonaro e Haddad conquistaram até agora a preferência de 50% dos eleitores, bem abaixo do que ocorreu nas vezes anteriores. Em 2002, Lula (41%) e José Serra (18%) eram escolhidos por 59%; em 2006, Lula (47%) e Alckmin (36%) dominavam 83% do eleitorado; em 2010, Dilma Rousseff (50%) e Serra (28%) somavam 78%; e, em 2014, Dilma (38%) e Marina (29%) aglutinavam 67%.

Se as últimas pesquisas vêm consolidando a polarização entre Bolsonaro e Haddad, o fato de seus patamares ainda não serem tão altos dá alguma esperança aos candidatos que estão bem atrás. Ainda há uma quantidade de votos a se buscar entre os que vão anular ou estão indecisos, que hoje somam 18%. Nos pleitos anteriores, a essa altura, esse índice era de 12% (2014); 10% (2010); 9% (2006) e 14% (2002).

TEMPO CURTO
Por diversos fatores, analistas políticos têm destacado que a eleição deste ano tem sido atípica. Depois do impedimento do ex-presidente Lula, que liderava as pesquisas mas foi barrado pela Justiça com base na Lei da Ficha Limpa, o novo primeiro colocado, Bolsonaro, sofreu um inédito atentado em pleno ato de campanha. Tudo isso no ano em que o calendário eleitoral foi reduzido à metade, de 90 para 45 dias.

— Esse tempo mais curto de campanha certamente tem peso no número ainda alto de indecisos. Além disso,

são vários candidatos com competitividade. Apenas nos últimos dias vem se configurando uma polarização entre Bolsonaro e Haddad. Nos anos anteriores, o confronto PT versus PSDB já esteve desenhado muito tempo antes, o que facilita a decisão do eleitor — analisa Carlos Ranulfo, cientista político e professor da UFMG.

De olho nesse eleitorado indeciso e mesmo na possibilidade de arrancar votos dos adversários, um fato curioso tem acontecido nesta campanha: o discurso por um voto útil já no primeiro turno tem sido adotado tanto por candidatos que estão entre os líderes quanto pelos que tentam recuperar terreno.

Foi o que ocorreu após o crescimento de Haddad: Alckmin pede voto útil apontando suposta fragilidade de Bolsonaro no 2º turno, enquanto o líder adota o mesmo discurso, mas para tentar encerrar a corrida já em 7 de outubro.

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