domingo, 14 de outubro de 2018

Bruno Boghossian: Moinhos de vento

- Folha de S. Paulo

Mentiras e vilões imaginários afastam campanha do mundo real

Os problemas do Brasil são gigantes, mas há gente em campanha para derrotar moinhos de vento. Fantasmas, notícias falsas e teorias da conspiração vêm produzindo nesta eleição inimigos tão enganosos quanto os rivais imaginários que viviam na cabeça de Dom Quixote.

É mentira que um filho de Jair Bolsonaro tenha saído às ruas com uma camiseta com inscrição preconceituosa contra eleitores nordestinos. A montagem malfeita foi compartilhada 73 mil vezes por um único perfil no Facebook até ser contestada.

É mentira que o PT tenha aprovado um “plano de dominação comunista”. A frase circula há anos, com base em teses de uma corrente do partido que nunca foram adotadas pela sigla ou por seus candidatos.

É mentira que Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, tenha proposto o confisco de cadernetas de poupança no mesmo dia em que fez críticas ao 13º salário. Um blog publicou a informação falsa, que foi replicada por milhares de pessoas —incluindo um deputado federal.

É mentira que Fernando Haddad tenha dito que Lula é “o verdadeiro filho de Deus” e que “a igreja vai pagar caro” por sua prisão. A frase inventada tenta ressuscitar um pânico religioso sem fundamento. Foi divulgada por um eleitor de Bolsonaro e reproduzida mais de 80 mil vezes.

A imprensa verificou e desmentiu essa boataria. O combate a notícias falsas e a indignação com absurdos, como se vê, não são seletivos.

Há dois dias, Bolsonaro tratou os meios de comunicação como adversários e alegou que eles trabalham para desgastá-lo. Repetiu o discurso vazio dos poderosos de sempre.

O jornalismo independente é crítico de modo geral. Foi assim que vieram à luz erros e escândalos de Collor, FHC, Lula, Dilma e Temer —e de seus opositores. Nenhum partido, afinal, deve exigir obediência e aplauso irrestrito da imprensa.

A contestação e a fiscalização dos candidatos ajudam a expor problemas e mantêm a campanha no mundo real. O eleitor não deve se mover por vilões fabricados pela ficção.

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