quinta-feira, 4 de outubro de 2018

César Felício: Esquerda vive desalento e perplexidade reina no centro

- Valor Econômico

O sentimento de desalento com a ascensão de Jair Bolsonaro (PSL) nas pesquisas para a Presidência era predominante entre políticos de esquerda presentes na terça-feira no debate da TV Globo em São Paulo com os candidatos a governador. Entre tucanos e emedebistas a sensação era de perplexidade. "Tenho a sensação de que é irreversível e de que pode se resolver no primeiro turno", disse a deputada federal Luiza Erundina (Psol-SP).

Segundo Erundina, este é o sentimento que colheu, em atos de campanha com eleitores "de todas as classes sociais". "Há um sentimento de medo que leva à irracionalidade. Ciro Gomes (PDT), que poderia enfrentar isso, não cresce. E os traumas com o PT ainda são muitos recentes, o que desfavorece Fernando Haddad" disse. Para a veterana deputada, será preciso um diálogo entre os partidos para a defesa da institucionalidade, mas as divisões São muito grandes para uma aliança efetiva no segundo turno. "É um processo que demandará tempo."

Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), as manifestações de sábado contra Bolsonaro desencadearam a alta do candidato nas pesquisas. "Aquilo foi uma radicalização e a esquerda não ganha com esses processos. Atiçou o outro lado. Foi como as mobilizações do 'Não vai ter golpe'", afirmou, referindo-se a atos entre 2015 e 2016.

De acordo com o ex-deputado Marcelo Barbieri (MDB), candidato ao Senado, Bolsonaro é uma febre no interior de São Paulo. Apoiador de Paulo Skaf para o governo estadual, diz que o segundo turno será um problema no cenário regional: "Para nós, estrita mente do ponto de vista eleitoral, será melhor resolver no primeiro turno, para descasar as eleições."

Um interlocutor do candidato tucano ao governo estadual, João Doria, observou que Geraldo Alckmin muito tardiamente teria desencadeado sua campanha no horário eleitoral batendo tanto em Bolsonaro quanto em Haddad. "Fez isso tarde demais e não capitalizou o antipetismo." Outro tucano, o ex-governador Alberto Goldman, comentou em uma roda o paradoxo da eleição: entre os quatro primeiros colocados, os dois mais fortes são batidos com facilidade em um segundo turno pelos dois mais fracos, que não devem passar pela primeira rodada.

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