sábado, 20 de outubro de 2018

Estagnação tecnológica vulnerabiliza país: Editorial | O Globo

Dificuldades na indústria criam uma série de problemas, inclusive de baixa produtividade em geral

A indústria brasileira patina em pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico. Uma fotografia das perdas está no mais recente estudo da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) sobre a evolução do setor nas economias emergentes.

O Brasil se destaca como exceção entre as nações de médio desenvolvimento, porque há quase duas décadas convive com um processo regressivo, de estagnação da riqueza gerada pelos segmentos de média e alta intensidade tecnológica. Até meados da década de 1990, esses núcleos eram responsáveis por metade do valor criado pelo conjunto da indústria. Desde o ano 2000, observa-se um declínio na sua participação, para cerca de 34% do valor total adicionado em todo o setor industrial.

O mais grave é que há quase duas décadas se mantém em queda. A consequência direta, e óbvia, é a redução da participação do Brasil no mapa planetário da produção industrial. Nos últimos sete anos, a fatia brasileira no Produto Industrial global caiu de 2,9% para 2%, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

A situação é preocupante, porque sinaliza um declínio brasileiro, em relação a países concorrentes e em estágio similar de desenvolvimento econômico. Significa perda de posição relevante e de poder de competição, em nível mundial. Resulta na ruína de perspectivas de criação de melhores empregos, com maiores remunerações, pela cada vez mais restrita capacidade de produção doméstica de bens de classe mundial, como, por exemplo, computadores, itens farmacêuticos e veículos. Implica um gradativo aumento da dependência externa.

Essa questão deveria estar no centro do debate dos candidatos e partidos que disputam o governo e a condução do processo nacional de desenvolvimento pelos próximos quatro anos. Lamentavelmente, não há transparência, nem objetividade nas propostas apresentadas pelos finalistas na disputa, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), como também não havia nos planos dos seus concorrentes.

No vácuo, proliferam lobbies setoriais para induzir o futuro governo a renovar aposta no desgastado modelo de subsídios e benefícios, fiscais e creditícios, complementados por artifícios protecionistas. Sem mudança estrutural, inclusive no aparato regulatório, a indústria brasileira continuará patinando em pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico.

E o Brasil estará cada vez mais restrito à condição de potência agroindustrial. É ilustrativa a baixa produtividade da economia. Dados pesquisados pela Fundação Getúlio Vargas, a pedido do GLOBO, indicam que o Brasil, numa relação de 68 países, está em 50º lugar em produtividade do trabalho. Abaixo da Argentina e da Eslováquia, por exemplo. Isso, por si só, credencia o tema a ser uma das prioridades do próximo governo.

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