quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Luiz Carlos Azedo: Haddad atrás de apoios

- Correio Braziliense

“Haddad começou a cair na real. Tenta moderar o discurso e ampliar alianças para vencer as eleições”

O PT corre atrás de aliados no segundo turno, na esperança de que Fernando Haddad, o candidato da legenda à Presidência, consiga reverter a vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pelo Palácio do Planalto. Ontem, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, anunciou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Haddad para que não o visite mais na prisão. Na segunda-feira, o petista foi à carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, para receber instruções do seu chefe político. O resultado da visita foi um desastre, captado pelas pesquisas qualitativas, porque Lula agora não transfere mais votos, só rejeição. A retórica petista nas redes sociais também atrapalha o ex-prefeito de São Paulo, porque insiste no discurso “nós contra eles” e tripudia da derrota dos adversários que poderiam ser aliados no segundo turno.

Haddad começou a cair na real. Tenta moderar o discurso e ampliar alianças para vencer as eleições, mas esse objetivo, aparentemente, não é um consenso entre os militantes. Temem a repetição do que aconteceu com Dilma Rousseff, que mudou o discurso após a reeleição, em 2014, e isso foi visto como estelionato eleitoral. Mas o petista tenta desfazer a imagem de que é um candidato radical, sem compromisso com a Constituição, que acabou reforçada pelas visitas semanais a Lula para receber instruções eleitorais. Os encontros alimentam os ataques dos adversários, com o argumento de que o presidente da República não pode ser preposto de um político condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, como é o caso de Lula.

Ontem, o PSB anunciou apoio a Haddad, mas liberou os candidatos a governador em Brasília, Rodrigo Rollemberg, e São Paulo, Márcio França, que concorrem à reeleição. Ambos estão numa sinuca de bico: se fizerem aliança com o petista, perderão as eleições, pois estão atrás de Ibaneis (MDB) e João Doria(PSDB), respectivamente, em estados onde Bolsonaro venceu o primeiro turno com mais de 50% dos votos válidos. O PSol também anunciou apoio a Haddad. Hoje, haverá reunião do PDT para decidir a posição no segundo turno, com a presença de Ciro Gomes, que foi o terceiro colocado no primeiro turno e se tornou um grande eleitor. Além de vencer as eleições no seu estado, o Ceará, com a votação que obteve, levou o pleito para o segundo turno.

Neutralidade
O PSDB decidiu manter neutralidade na disputa de segundo turno, a partir do posicionamento de Geraldo Alckmin, presidente da legenda. A reunião da cúpula do partido, porém, foi um barraco. Houve uma discussão ríspida entre João Doria, candidato ao Palácio dos Bandeirantes, que declarou apoio a Bolsonaro, e o próprio Alckmin, que se considera traído no primeiro turno pelo ex-prefeito de São Paulo. Doria foi um grande ausente na campanha do tucano no estado. O senador José Serra também defendeu a neutralidade, com o argumento de que os eleitores desejam o PSDB na oposição a Bolsonaro e Haddad.

Essa também deve ser a posição do PPS, cuja executiva se reunirá hoje, e da Rede, que deverá oficializar sua posição amanhã. A propósito, Roberto Freire, presidente do PPS, e Marina Silva, candidata da Rede, já anunciaram essa intenção e iniciaram uma reaproximação política, que pode resultar na fusão dos dois partidos. A Rede não conseguiu atingir a cláusula de barreira, mas obteve um resultado excepcional da disputa pelo Senado; busca aproximação com o PPS e o PV para a criação de um novo partido, que possa reunir também outras lideranças do chamado centro democrático. A movimentação conta com a simpatia do apresentador Luciano Huck, que fez generosas doações para alguns candidatos das três legendas.

O PP também anunciou neutralidade. Elegeu a terceira maior bancada da Câmara, atrás apenas do PT e do PSL, mas teve uma presença meio esquizofrênica na campanha eleitoral. Indicou a senadora gaúcha Ana Amélia para vice de Alckmin, porém, cristianizou o tucano e se dividiu entre o apoio a Bolsonaro, nos estados do Sul, e a Haddad, no Nordeste. Possivelmente, esse cenário se manterá no segundo turno. Outro partido que anunciou neutralidade foi o Novo, de João Amoêdo, que teve um desempenho surpreendente nas eleições, ultrapassando Marina, Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB). Pesou na decisão a disputa em Minas Gerais, onde o partido surpreendeu o governador Fernando Pimentel (PT), que ficou fora do segundo turno, e o candidato do PSDB, Anastasia, que liderava a disputa. Romeu Zema, do Novo, declarou ontem que não descartaria apoio de nenhum partido, nem o de Pimentel.

O principal partido a anunciar apoio a Bolsonaro foi o PTB, que distribuiu uma nota ontem. O presidente da legenda, Roberto Jefferson, não se pronunciou. Ao contrário de Haddad, que fez um movimento ostensivo de atração dos partidos de esquerda, Bolsonaro se manteve ao largo das legendas. Manteve o discurso de que vai reduzir o número de ministérios e formar uma equipe de governo de notáveis, sem toma lá dá cá.

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