quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Merval Pereira: Padrão mantido

- O Globo

Voto de Bolsonaro está bastante distribuído pelo país, ele vence com folga no principal colégio eleitoral, o Sudeste

A primeira pesquisa do segundo turno do Datafolha mostra que a tarefa do petista Fernando Haddad de superar Bolsonaro continua sendo uma missão quase impossível. Somente se o inesperado fizer uma surpresa, como na música de Johnny Alf, será possível reverter essa tendência.

Ambos cresceram em proporções iguais, Bolsonaro 12 pontos percentuais e Haddad 13 pontos, mostrando que o eleitorado que saiu do primeiro turno tendo escolhido outros candidatos dividiu igualmente os votos entre os dois.

O resultado confirma o padrão das eleições anteriores, com quem saiu na frente mantendo a dianteira com uma votação próxima de 60%. Lula, em 2002 e 2006, venceu com 61,27% e 60,83 % dos votos, respectivamente. A votação de Dilma foi de 56,05%, próximo disso, portanto, em 2010. A derrocada petista começou em 2014, quando Dilma teve 51% dos votos e ganhou a eleição por pouco mais de três pontos percentuais.

Bolsonaro tem 58% dos votos válidos, enquanto o petista Fernando Haddad conseguiu 42%. Bolsonaro vence com facilidade em todas as regiões do país, com exceção do Nordeste, onde o petista tem 52% contra 32% de Bolsonaro. Mas esse resultado está longe da performance de Lula, que tinha quase 60% dos votos naquela região.

Também informa que a transferência de votos de Lula e Ciro não se deu, pelo menos ainda, em sua plenitude. A soma, no Nordeste, dos votos de Haddad e Ciro daria ao petista 68%, 16 pontos abaixo do que ele conseguiu nesta primeira pesquisa. Nos números oficiais, Bolsonaro teve26%; Haddad, 51%; Ciro, 17%. Nessa primeira pesquisa Datafolha, quem subiu na região foi Bolsonaro, e Haddad ficou parado nos 52%. Restariam cerca de 11% de supostos eleitores de Ciro que ainda estão indecisos, e, com o “apoio crítico” dado ao candidato do PT, não é provável que essa transferência se dê integralmente.

O Nordeste é onde Haddad pode crescer, dada a força de Lula na região, mas, segundo os dados oficiais, sua vitória ali no primeiro turno, com cerca de 15 milhões de votos, foi neutralizada pela votação que Bolsonaro conseguiu na Região Sudeste.

O Datafolha mostra que o voto de Bolsonaro está bastante distribuído pelo país, ele vence com folga no principal colégio eleitoral, o Sudeste: 55% a 32% dos votos totais, embora seu melhor desempenho seja no Sul, com 60% a 26%, seguido pelo Centro-Oeste (59% a 27%). No Norte, Bolsonaro vence por 51% a 40%.

Embora tenha proporcionalmente menos votos entre as mulheres do que entre os homens, 42% dos votos totais contra 57%, Bolsonaro continua tendo mais votos entre as mulheres do que Haddad. O eleitorado de Bolsonaro é baseado nos mais ricos (62% nos segmentos entre 5 e 10 salários mínimos e acima de 10) e escolarizados (58% de quem tem ensino superior). Haddad tem mais apoio no nicho dos que têm só o ensino fundamental e entre os mais pobres, com renda familiar média mensal até dois salários mínimos.

Não foi à toa, portanto, que Bolsonaro antecipou ontem sua decisão de pagar o 13º salário aos que recebem o Bolsa Família, um eleitorado cativo do PT. Essa medida, aliás, já tem projeto no Senado, de autoria do senador petista derrotado Lindbergh Farias, de quem Bolsonaro acaba de roubar a bandeira, transformando sua realização em ponto de programa eleitoral. Uma das fake news mais recorrentes, tanto nessa campanha quanto nas anteriores, é a denúncia, nunca confirmada, de que o adversário do PT vai acabar com o Bolsa Família.

A primeira pesquisa após o segundo turno confirma a manutenção da onda antipetista que favoreceu Bolsonaro no primeiro turno, provocando a maior reforma no Congresso dos últimos tempos, e reviravoltas em vários estados. O antipetismo é tão forte no país que leva o eleitor a votar contra o candidato do PT no segundo turno, mesmo que não goste muito do adversário. Quando o PT não está em jogo, fica mais viável ganhar a eleição na disputa política e de ideias. Ao contrário, mostram as pesquisas, o bolsonarismo ajuda a quem se liga ao candidato do PSL.

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