domingo, 25 de novembro de 2018

Merval Pereira: Quatro cenários para Bolsonaro

- O Globo

Economista monta os primeiros cenários especulativos para o mandato do futuro presidente

Em um contexto de muitas e extraordinárias incertezas e elevados riscos — internos e externos, estruturais e conjunturais —, o economista Reinaldo Gonçalves, professor da UFRJ, montou os primeiros cenários especulativos para o período do mandato (2019-22), que, se são pessimistas devido ao que chama de “matriz econômica ortodoxa liberal”, preveem situações em que, ajustando sua política econômica ao pragmatismo que lhe será exigido pela realidade política, o futuro presidente poderá ter êxito.

Ele montou quatro cenários que, no longo prazo, têm a seguinte hierarquia de probabilidades: Cenário C (Sobrevivência na selva) = 40%; Cenário D (Giro 180°) = 30%; Cenário B (Morte súbita) = 20%; e Cenário A (Mais um tango) = 10%. A probabilidade do Cenário D deriva da inversão da matriz ortodoxa liberal e, portanto, da menor tensão econômica e social e do maior apoio popular às iniciativas do governo, inclusive, o autoritarismo.

No Cenário C (Sobrevivência na selva) há a predominância do pragmatismo. Ele implica melhor desempenho do governo nas esferas econômica, social e política. O Cenário A (Mais um tango) é o predominante no início do governo Bolsonaro, caracterizado pelos resultados insatisfatórios e medíocres, com a crise econômica ainda mais profunda.

Esse cenário começa com a maior probabilidade (60%), e ao longo do tempo gera suas próprias contradições e trajetórias múltiplas. Caso o governo Bolsonaro continue com a matriz econômica ortodoxa liberal, em situação de crise de legitimidade e governabilidade, é muito provável que haja deslocamentos para outros cenários.

O Cenário C (Sobrevivência na selva) é marcado pelo melhor desempenho econômico e social, bem como menor instabilidade política e institucional. Portanto, pode ser visto como o cenário ideal. O Cenário C é o que abarca as hipóteses de reversão da ortodoxia econômica liberal e de baixo poder desestabilizador da oposição.

Tanto no Cenário A como no Cenário C não há ruptura institucional. Essas rupturas estão presentes no Cenário B (Morte súbita), em que há interrupção da presidência, e no Cenário D (Giro 180°), em que há autoritarismo. Ao longo do mandato presidencial pode haver deslocamentos para o Cenário B (Morte súbita) e o Cenário D (Giro 180°), determinados pelo poder efetivo de desestabilização das forças de oposição.

O deslocamento do Cenário A para o Cenário C (Sobrevivência na selva) responde à crescente predominância do pragmatismo ao longo do governo talvez, até mesmo, em uma direção nacional-desenvolvimentista. No período inicial do governo, as políticas econômicas e as reformas estruturais serão formuladas e executadas nos termos do liberalismo econômico, cenário que já tem as marcas da instabilidade alta e da sustentabilidade baixa.

O Cenário A também está associado a um poder inicialmente baixo de desestabilização por parte da oposição. Essa hipótese também é um dos pilares do Cenário C (Sobrevivência na selva) que apresenta, no início do mandato presidencial, a segunda maior probabilidade de ocorrência (25%). Contudo, nesse cenário o governo Bolsonaro já começa com ajuste significativo da matriz ortodoxa liberal. Ainda que não haja o abandono da doutrina liberal, o gradualismo e o pragmatismo são os balizadores das iniciativas e medidas governamentais. Esse cenário tem, portanto, menor instabilidade e maior sustentabilidade.

O Cenário A é o com maior propensão ao deslocamento. A primeira trajetória é o deslocamento na direção do Cenário B (Morte súbita), cuja probabilidade de longo prazo aumenta significativamente. A segunda trajetória é o deslocamento na direção do Cenário D (Giro 180°). Na situação de “beira do abismo”, pressionado pela oposição, o Governo, com o apoio da maioria da população, apela para a ruptura institucional e instala um regime autoritário.

O deslocamento a partir do Cenário A para o Cenário C (Sobrevivência na selva) também é possível no longo prazo. Apesar de haver o antagonismo próprio à política, a oposição atua com equilíbrio e moderação. Os ganhos econômicos e sociais são moderados, enquanto as expectativas são favoráveis.

O fato de que 58 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro é a evidência empírica conclusiva de que grande parte da sociedade anseia por proteção, rejeita o pacto anteriormente firmado e condena Lula, que, no entanto, pode ter interesses objetivos e subjetivos na conduta da oposição com a “faca nos dentes”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quanta besteira.