segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Celso Rocha de Barros: Qual tese econômica elegeu Bolsonaro?

- Folha de S. Paulo

Quando os eleitores votaram nele, o que pensavam sobre economia?

Quando os eleitores votaram em Bolsonaro, o que pensavam sobre economia?

Dependendo de sua opinião sobre isso, suas previsões sobre o governo Bolsonaro devem ser diferentes.

Parece claro que o desempenho fraco da economia nos últimos anos —especialmente nos últimos meses antes da eleição— prejudicou os candidatos ligados, de uma forma ou de outra, ao governo Temer. O PSDB teve ridículos 4,7% dos votos, o PMDB teve 1,2%.

Pelo mesmo mecanismo, a economia ajudou o PT, o principal partido da oposição, a recuperar o espaço perdido desde o impeachment e as eleições municipais de 2016.

Ou seja, pensando em termos de desempenho econômico e seu efeito sobre os partidos de situação e oposição, é fácil entender porque o PSDB não foi ao segundo turno e o PT foi.

Mas e Bolsonaro? Quem votou nele levou em conta o próprio bolso? Se levou, foi em quais termos?

Os eleitores podem ter votado em Bolsonaro porque compraram o programa liberal de Paulo Guedes como solução para a crise econômica. Nesse caso, as perspectivas de um governo reformista são muito boas.

Nesse cenário, o público está convencido da necessidade de se aposentar mais tarde, contar com menos serviços públicos e viver sob leis trabalhistas muito mais flexíveis. Se for o caso, os parlamentares seguirão o público e aprovarão as reformas.

Parece implausível.

Guedes se ausentou de todos os debates da campanha. Quando falou, Bolsonaro mandou que se calasse. Quando o próprio Bolsonaro falou sobre economia, a probabilidade de dizer coisas contrárias ou a favor de Guedes eram parecidas com as do cara-ou-coroa.

Os eleitores também podem ter votado em Bolsonaro porque passaram a dar mais importância a temas morais do que ao próprio bolso.

Nesse cenário mesmo se o público reprovar as reformas de Guedes como solução para a crise, talvez continue sustentando o governo em nome de pautas comportamentais, ou, se Fabrício Queiroz apareceressa semana com uma explicação miraculosa, em nome da luta contra a corrupção.

Os parlamentares podem, em troca de alguma negociação, se adaptar a essas preferências do público.


O problema para essa hipótese é que as pesquisas de opinião não mostram eleitores consistentemente reacionários, ao menos não a ponto de aceitarem perder dinheiro para sê-lo. Por fim, os eleitores podem ter votado em Bolsonaro porque acham que a crise econômica foi causada pela corrupção.

Não foi, é mentira, mas é difícil culpar o público por acreditar nisso: uma recessão profunda aconteceu ao mesmo tempo em que apareciam as denúncias da Lava Jato. E é uma tese sedutora, porque a solução proposta —prender corruptos— não traz qualquer sacrifício para a esmagadora maioria do eleitorado.

Se a terceira explicação for verdadeira, o público espera que a recuperação da economia venha da luta contra a corrupção, não das reformas.

Nesse cenário, Bolsonaro sangrará apoio popular a cada reforma dolorosa que propuser. Será necessário muita, muita negociação com os parlamentares para que eles não sigam o público.

O núcleo político do Bolsonarismo tem sido muito menos reformista do que o núcleo de Paulo Guedes. Suspeito que conheçam melhor sua base de apoio e tenham uma ideia melhor do que lhes deu a vitória.

Não é uma boa notícia para as contas públicas.
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Celso Rocha de Barros é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

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