terça-feira, 25 de dezembro de 2018

Pablo Ortellado: Reação seletiva

- Folha de S. Paulo

Direita faz campanha contra o fechamento de páginas no Facebook, mas silencia sobre o desaparecimento da maior fábrica de notícias hiperpartidárias

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, se manifestou publicamente, pelo Twitter, no sábado (22) contra o fechamento de dezenas de perfis e páginas de direita no Facebook, entre eles o perfil do deputado eleito pelo Paraná Paulo Martins (PSC), o ex-coordenador do MBL no Paraná Eder Borges e uma das maiores páginas de notícias hiperpartidárias de direita, a República de Curitiba.

Não é a primeira vez que Bolsonaro e seu campo político criticam o Facebook por retirar páginas e perfis que violam sua política de autenticidade, que impede a criação de perfis falsos ou enganosos e as manipulações feitas a partir deles. Curiosamente, na ação desse tipo que mais impactou o seu campo político, em plena campanha eleitoral, Bolsonaro e seus aliados se calaram.

Em julho, quando centenas de páginas do MBL foram suspensas por violarem a política de autenticidade da plataforma, a direita promoveu uma grande campanha contra o que chamou de censura. Na ocasião, o MPF de Goiás pediu sucessivos esclarecimentos à empresa para comprovar os vínculos das páginas com o MBL. Apenas parte desses esclarecimentos foram tornados públicos.

No começo de agosto, foi a vez de o Twitter ser alvo de críticas por pedir que contas de direita com comportamento suspeito passassem por um processo simples de verificação de identidade. A direita reagiu lançando a hashtag #DireitaAmordaçada.

No episódio da semana passada, chama a atenção a conexão entre as páginas e os perfis suspensos.

Embora a nota do porta-voz do Facebook tenha se limitado a dizer que as exclusões fazem parte do trabalho permanente de remover “páginas e perfis que estavam violando nossas políticas de autenticidade”, o fato de as páginas e os perfis serem do Paraná, do mesmo campo político e terem sido excluídos na mesma ação sugere que podem fazer parte de uma mesma rede articulada, assim como aconteceu com o MBL em julho.

Mas enquanto as ações das plataformas nos três episódios foram respondidas com amplas campanhas de protesto, o caso de maior impacto no campo da direita foi recebido com silêncio.

No dia 22 de outubro, o Facebook removeu páginas e perfis operados pela rede RFA, responsável pelos mais influentes sites de notícias hiperpartidários em operação no Brasil. As páginas compunham simplesmente a maior rede de apoio à campanha de Bolsonaro no Facebook.

Sua supressão, em plena campanha eleitoral, praticamente não foi lamentada pelos atores da nova direita e não gerou grandes protestos. A diferença de comportamento neste e nos outros casos deveria pelo menos levantar suspeitas.

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