sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Verdades e falsas lições de 2018: Editorial | Època

O ano se encerra. O calendário convencionado pelos homens indica a renovação e convida à reflexão sobre o período que passou. As horas de balanço são saudáveis exercícios de revisão de atos, pensamentos e proposições. ÉPOCA convidou dezenas de personalidades a apresentar as lições que 2018 deixa — e estampa o resultado nesta edição especial.

São tantas as possibilidades de abordagem do tema que é difícil resumi-las aqui. Por exemplo, é possível enumerar não lições: ideias e avaliações que se mostraram desvirtuadas, incompletas ou equivocadas.

Amaldiçoar a política, apontando-a como fonte de toda corrupção, talvez seja a primeira dessas não lições de 2018. Mais: dizer que o sistema eleitoral não expressa a vontade popular porque está dominado pelo dinheiro ou porque foi desvirtuado por máquinas de notícias falsas; reclamar de que as casas legislativas reúnem os de pior caráter associados com os de maior ganância; limitar eleitores ao estereótipo de cordeiros dispostos a dizer “sim”.

Outra não lição é resumir o voto diferente do próprio às categorias do alienado, do desinformado ou do desenganado. Um erro comum é atribuir à ignorância algo que pode ser explicado a partir de variáveis e realidades diferentes daquelas em que uma verdade se construiu.

Uma lição factual a registrar-se é que a linguagem violenta — na política ou na sociedade —, incluindo ameaças sub-reptícias ou explícitas, aplaina o caminho para a violência física. Aterrorizar os adversários com ameaças e alimentar o clima da medo são estratégias que se voltam para seus propagadores mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente.

Na edição passada, esta revista ouviu especialistas em busca de dicas para evitar que o confronto político azede o tempo de confraternização que se aproxima. Vale repetir algumas recomendações básicas. Uma delas é reconhecer que pessoas que conseguem absorver perspectivas diferentes das próprias tendem a ter conversas mais frutíferas e menos conflituosas. Elas costumam fazer mais perguntas, propor mais ideias e deixam o ambiente desanuviado com suas conversas. A boa vontade de tentar ver a situação a partir do ponto de vista do outro leva a debates mais construtivos.

A polarização política germina a partir de lados encastelados em posições em que os confrontadores se julgam moralmente inatacáveis. Para que se superem as conflagrações, é útil que todos sejam ouvidos com respeito; que os ataques pessoais sejam substituídos por apreciação de realidades específicas; que se valorize mais o aprendizado; que a discussão se concentre mais em buscar pontos comuns do que em realçar os que distanciam.

A avaliação serena, o diálogo democrático, a construção de consensos a partir de mecanismos contrabalanceadores tornam a vida em comunidade mais equilibrada e propícia para o aumento do bem-estar. Isso só pode ser feito pela mediação de interesses e confrontos nos quais se constitui — para a surpresa de muitos — o que se chama de Política.

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