quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Vinicius Torres Freire: O risco de um presidente ignaro

- Folha de S. Paulo

Americanos discutem riscos de recessão da economia em 2019. Trump é um deles


Donald Trump quer fazer com que as Bolsas subam no grito. Enquanto solta berros pelo Twitter, o preço das ações cai mais. O Nero Laranja estimula o sentimento difuso e confuso de que a economia dos Estados Unidos pode ter problemas a partir de 2019.

Quais problemas? Um deles é o próprio Trump, um presidente ignaro, destemperado e dado a manias ideológicas.

Faz uns dois meses, americanos mais alarmados dizem ver sinais de que a economia entrará em recessão. A baixa nas Bolsas em parte seria resposta a esses indícios.

A atividade econômica, por sua vez, tende a piorar caso continue a derrocada do preço das ações, a mais feia desde 2008. Mas há motivos para tamanho desânimo?

Uma desaceleração do crescimento parece óbvia. As condições financeiras pioraram. As taxas de juros vêm subindo faz dois anos, embora para níveis ainda historicamente baixos, e os americanos ficam mais pobres e algo mais desanimados com as Bolsas em baixa.

Pelos preços dos mercados, nota-se ainda que os donos do dinheiro não apostam que as taxas de juros continuem a subir depois do começo do ano que vem. Mas daí apenas não se deduz uma recessão.

A taxa de investimento (em máquinas, equipamentos, expansão de capacidade produtiva, enfim) vem caindo. A venda de automóveis e, em algumas regiões, de casas indica que alta de juros fez algum estrago na capacidade ou no ânimo de consumir. Mas a indústria em geral ainda cresce, assim como o número de empregos.

É verdade que viradas recessivas por vezes acontecem em um trimestre.

Bolsas em baixa prolongada podem provocar, além de efeito pobreza, acidentes financeiros em zonas obscuras do mercado. Empresas muito endividadas, um motivo de alerta atualmente, podem subitamente começar a quebrar em série. São especulações na boca de muita gente razoável nos Estados Unidos. Mas não se lê muito artigo ponderado a prever que a economia caminha para o vinagre.

Há alarme quanto ao que pode fazer Trump. O presidente ajudou a derrubar os mercados pelo mundo, EUA inclusive, com sua cruzada protecionista, por exemplo. No entanto, no universo publicitário, populista ignaro e tuiteiro do trumpismo, Bolsas em permanente alta são um sinal de sucesso.

Agora, Trump diz que o único problema da economia americana é o Fed, o banco central dos Estados Unidos, que seria responsável pela baixa nas Bolsas por elevar as taxas de juros. Além do mais, cobra de seus assessores econômicos medidas para “acalmar o mercado”, o que tem provocado ainda mais inquietação.

Há rumores de que Trump cogitou ou cogita demitir Jerome Powell, nomeado presidente do Fed pelo próprio Trump faz pouco mais de um ano, plano que é um escândalo na pátria da teoria econômica moderna e da independência do BC.

O presidente dos EUA não tem o poder de demitir o presidente do Fed, embora essa possibilidade agora seja objeto de discussão pública. De qualquer modo, o restante do comitê de política monetária do Fed continuaria a trabalhar a seu modo. Trump criaria confusão grave a troco de nada.

Aí está o problema. Em um momento de crise, Trump pode jogar gasolina no incêndio, como escreveu o Nobel de economia Paul Krugman em sua coluna no New York Times, embora esse risco apareça em outras análises na mídia americana. O risco Trump pode antecipar uma deterioração econômica devido ao próprio medo de que o presidente possa ampliar uma crise no futuro.

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