sábado, 12 de maio de 2018

Opinião do dia: Sérgio Abranches

Presidente é importante. Mas coalizão também é. Para governar, o próximo presidente terá de formar uma coalizão majoritária. No Brasil é assim. Quando se olha dessa perspectiva, é preciso pensar nas eleições presidenciais e nas parlamentares. A incerteza é grande. Não sabemos ainda nem quais serão os candidatos e suas alianças. No último troca-troca partidário, a fragmentação partidária no Brasil atingiu um grau sem precedentes aqui ou no mundo. Isso aumenta também a incerteza nos parlamentares. Pode haver um necessário realinhamento partidário. Seria muito bom para a democracia brasileira e para a governabilidade se crescessem os partidários mais programáticos, com ideias e valores. Mas será péssimo se houver apenas melhor distribuição das cadeiras entre os partidos fisiológicos. Nesse caso, o mais provável é que a crise política e de liderança persista depois das eleições. Depende de quem? Da escolha soberana dos eleitores. Mas há uma dificuldade: o dinheiro público e a TV subsidiada favorecem os fisiológicos. Só se as redes, desta vez, ajudarem.

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Sérgio Abranches, cientista político, O Globo, 12/5/2018

Cristovam Buarque: O elevador social

- O Globo

A tarefa dos homens de consciência social é usarmos o capitalismo para construirmos um mundo que evolua

Pode-se sonhar com o dia em que os homens do futuro vencerão a gravidade e serão capazes de voar sem equipamentos. Mas, até lá, devemos respeitar as regras da gravidade, tirando proveito delas. Isso vale para as forças do capitalismo. Um dia, os seres humanos construirão sistemas socioeconômicos sem as consequências negativas da propriedade privada do capital; onde os sem-capital não fiquem desempregados e os com-capital não sofram as dificuldades da concorrência; um sistema onde a natureza não seja destruída na busca de lucro. Mas enquanto isso não for possível, aqueles que desejam um mundo mais justo e sustentável deverão conviver tirando proveito do capitalismo.

Enquanto o capitalismo não for superado, é preciso tirar proveito de suas vantagens, dominando seus defeitos para fazer o mundo funcionar melhor, sob o controle da ética e da política. A tarefa dos homens de consciência social é usarmos o capitalismo para construirmos um mundo que evolua na eficiência, na justiça e na sustentabilidade, graças a uma estrutura social onde a produtividade do trabalho seja crescente; a natureza seja respeitada; a produção e a renda sejam bem distribuídas, conforme o talento e a persistência de cada pessoa. Um mundo onde haja plena liberdade e a desigualdade no acesso aos bens de consumo esteja limitada entre um Piso Social — que assegure o atendimento dos bens e serviços essenciais mesmo àqueles com baixa renda — e um Teto Ecológico — que impeça a destruição da natureza pela voracidade do consumo das pessoas com alta renda.

Míriam Leitão: Os dois mitos de Geisel

- O Globo

Documento derruba o mito de que Geisel foi um ditador melhor que outros. Falta a esquerda abandonar a defesa do seu projeto econômico. Perigosos são os tempos em que um país começa a esquecer seu passado, porque pode ser o primeiro passo para repetir erros fatais. O documento encontrado pelo professor Matias Spektor chega na hora exata para reavivar memórias e ensinar aos que não viram. Não existe a figura do bom ditador. Na democracia, se tem bons e maus governos, mas na ditadura só existe mesmo o pior, sem atenuantes.

Havia duas ilusões sobre o general Ernesto Geisel. A de que ele foi bom na economia pelos planos de desenvolvimento e fortalecimento da empresa nacional. E a de que ele enfrentou a linha dura e teria sido surpreendido por mortes que aconteceram até dentro dos quarteis do Exército durante o seu governo, como a de Vladimir Herzog, e que reagiu a elas demitindo generais.

Sobre o segundo mito, o professor Spektor jogou a última pá de cá. O jornalista Elio Gaspari, em sua colossal obra, já avisara de diálogos estranhos, por isso de certa forma sabíamos o que agora fica inegável. Ernesto Geisel fez parte da linha de comando que matou Herzog e tantos outros durante o seu governo. O Palácio do Planalto abrigou conversas nas quais se decretou a morte de brasileiros. Não havia a turma dos porões e a turma moderada. Havia os porões e todos sabiam e concordavam. A briga com os generais Ednardo D’Ávila e Sylvio Frota foi disputa de poder simplesmente, sem o mérito de proteger vidas ou projetos. O general Figueiredo, que com seus maus modos conduziu a parte final daquele período longo e triste da vida nacional, era diferente de Geisel apenas no estilo, mas os dois foram cúmplices em assassinatos.

Fernando Gabeira: Uma luz no caso Marielle

- O Globo

Uma boa investigação é artigo de primeira necessidade. É ela, no final das contas, que vai desmontar crimes que pareciam perfeitos

Finalmente, uma luz no assassinato de Marielle Franco. Todos apostavam que não era um crime perfeito. Não era. Mesmo se fosse, todos aceitariam o desafio de desvendá-lo. No princípio, o foco era numa saída técnica e científica, como nesses programas de TV americana.

Era mais difícil por aí. As câmeras na região do crime foram desligadas um dia antes. Os carros não apareceram. As balas serviram para ajudar no exame de impressões digitais. Mas foram desviadas da PF, o que adensa o enigma. Restava, finalmente, a clássica pergunta: a quem interessa o crime? Começamos todos a desconfiar das milícias e da PM.

Marielle havia denunciado o batalhão de Acari. Mas não se mata tanto pela honra de um batalhão. O flanco das milícias estava mais a descoberto.

O GLOBO publicou uma série de reportagens sobre elas. No meio da matéria, um parágrafo meio perdido falava do projeto das milícias de verticalizar Rio das Pedras e Gardênia Azul. E mencionava um grupo de mulheres apoiado por Marielle que era contra essa pretensão.

Logo em seguida, morre assassinado um assessor de Marcello Siciliano, chamado Alexandre Cabeça. Queima de arquivo.

*Eros Roberto Grau: Em defesa do positivismo jurídico

- O Estado de S.Paulo

Não me cansarei de repetir que os juízes interpretam/aplicam a lei, não fazem justiça

Não é necessário frequentarmos Faculdades de Direito para nos darmos conta de que quem faz as leis é o Legislativo e quem as aplica são os juízes. Em nosso tempo – hoje, aqui, agora – o legal e o justo (Direito e justiça) não se superpõem. Fazer e aplicar as leis (lex) e fazer justiça (jus) não se confundem. O Direito é um instrumento de harmonização/dominação social e a justiça não existe por aqui, só floresce no Paraíso!

A cisão enunciada na frase atribuída a Cristo – a César o que é de César, a Deus o que é de Deus – torna-se definitiva no surgimento do chamado Direito moderno, erigido sobre uma afirmação a atribuir-se a Creonte, no tempo da paideia: prefiro a ordem à justiça! Em suma: os homens, na esfera em que estamos, não produzem justiça, só lá em cima há jus!

As leis produzidas pelo Estado prestam-se a assegurar ordem, segurança e paz, especialmente segurança em que os interesses dos mais fortes sejam assegurados... Não obstante devesse ser assim, cá entre nós, nos dias de hoje – como na canção de Roberto Carlos –, juízes sem preconceito, sem saberem o que é o Direito, volta e meia fazem suas próprias leis.

Há uma distinção, fundamental, entre a dimensão legislativa e a dimensão normativa do Direito. Texto e norma não se identificam. A norma jurídica é produzida pelos juízes ao interpretarem textos normativos, resulta da interpretação!

Mais, interpretação e aplicação não se realizam autonomamente: o intérprete discerne o sentido do texto a partir e em virtude de um determinado caso, de sorte que a interpretação consiste em tornar concreta a lei em cada caso, isto é, na sua aplicação.

A norma é construída, pelo intérprete, no decorrer do processo de concretização do Direito. Caminhamos do texto até a norma jurídica, em seguida dela até a norma de decisão, a que determina a solução do caso. Só então se dá a concretização da norma, que envolve também, necessariamente, a compreensão da realidade. Pois a norma é determinada histórica e socialmente.

O texto normativo é uma fração, não é ainda a norma. É abstrato e geral. A realidade constitui o seu sentido, que não pode ser perseguido apartado da realidade histórico-social. Na norma estão presentes inúmeros elementos do “mundo da vida”. O ordenamento jurídico é conformado pela realidade.

Julianna Sofia: Metáfora para Temer

- Folha de S. Paulo

A festança motivacional da Caixa Econômica Federal para 6.000 gerentes no Mané Garrincha, na próxima semana, é quase uma metáfora da gestão de Michel Temer —o presidente, sem voto, que completa dois anos no cargo neste 12 de maio.

O estádio de R$ 1,6 bilhão simboliza o legado superfaturado e corrompido da Copa, um elefante branco hoje subutilizado pelo governo local. Envolta em operações da Polícia Federal por desvios, a Caixa enfrenta um processo de enxugamento operacional (corte de agências e de pessoal) e de busca por eficiência, ao passo que é alvo sistemático dos ataques com fins eleitoreiros da ala política do governo do emedebista. Seu presidente é indicação do PP.

Enfraquecido e impopular, Temer subsiste no cargo desde 17 de maio de 2017, quando foi solapado pela delação da JBS e passou a drenar energia diária esquivando-se de denúncias de corrupção.

Com nomes incensados em sua equipe econômica original, obteve avanços na economia, ao tirar o país da pior recessão do período recente e derrubar a inflação e a taxa básica de juros a mínimas históricas. Conquistas ainda relativas diante do desemprego elevado, do crédito caríssimo para o tomador final, do inexistente investimento público e do quadro fiscal assustador —com teto de gastos e regra de ouro a ruir.

Demétrio Magnoli: A ciência política do negacionismo

- Folha de S. Paulo

Nos EUA, como no Reino Unido, o nacionalismo bebeu no pântano dos destroços da classe trabalhadora

Diana Mutz, da Universidade da Pensilvânia, afirma que o triunfo de Trump em 2016 não foi fruto de um levante eleitoral dos “deserdados da globalização”, mas o resultado de uma reação dos brancos às percepções de ameaça a seu status de grupo e à posição dominante dos EUA no mundo. Racismo, não insegurança econômica –eis o diagnóstico dela.

Na Folha (7/5), Vinicius Mota enaltece o artigo de Mutz, publicado na revista da Academia Nacional de Ciências, que “analisa os dados disponíveis com a melhor técnica”. Só que a “técnica” da autora está toda enviesada pela ideologia, o que a faz escolher as estatísticas inadequadas.

Trump perdeu no voto popular, por 2,9 milhões, uma diferença apreciável. Sua vitória deu-se no Colégio Eleitoral, pela transferência de quatro ou cinco decisivos estados da coluna dos democratas para a dos republicanos.

Mutz compara as percepções do conjunto do eleitorado americano em 2012 e 2016 –mas isso é irrelevante para se entender o resultado. A “melhor técnica” exigiria cotejar as percepções dos eleitores dos estados que mudaram de mãos. Ela precisaria investigar Pensilvânia, Ohio, Michigan, Indiana e Wisconsin –isto é, o Manufacturing Belt devastado pela longa recessão. Se o fizesse, porém, seria obrigada a olhar para o que não quer.

Adriana Fernandes: Alerta de Guardia

- O Estado de S.Paulo

Votação de projetos importantes interrompeu paralisia dos últimos meses

A piora do cenário externo que assustou e provocou a disparada do dólar, contaminando também o mercado de juros no Brasil, teve um efeito colateral positivo para a agenda econômica.

Nesta semana, a paralisia dos últimos meses foi interrompida com a votação de projetos importantes para a equipe econômica.

À coluna, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, disse que, com a mudança do quadro externo, mais visível ao longo da semana, a “ficha está caindo ou já caiu”.

O ministro reforçou ao presidente Michel Temer e às lideranças políticas a mensagem de que a única resposta consistente que o País pode dar em meio a um cenário mais adverso é avançar na votação dos projetos.

“Querendo ou não, o cenário externo está mudando. A janela de oportunidades para fazer as mudanças vai se fechar”, alertou Guardia, ressaltando que fazer ajuste num ambiente internacional mais desfavorável será difícil.

Em sua avaliação, o Brasil tem hoje uma capacidade de reação maior, principalmente devido à inflação e juros baixos, mas ainda conta com fragilidade nas contas públicas. Por isso, o País precisa seguir com medidas de ajuste.

José Marcio Camargo: Deixa flutuar!

- O Estado de S.Paulo

Nos últimos dois meses, o real desvalorizou mais de 10% em relação ao dólar

Após um longo período de tranquilidade, a volatilidade tomou conta do mercado financeiro internacional nos últimos dois meses. O efeito inflacionário decorrente do esperado aumento do déficit público nos Estados Unidos, os sinais de aumento do protecionismo do governo americano, o crescente risco de uma guerra comercial e a disputa por hegemonia econômica e política entre os Estados Unidos e a China estão na origem deste fenômeno.

Este cenário aumenta a probabilidade de que o Federal Reserve (o banco central americano) acelere o processo de normalização da política monetária, com aumentos maiores do que o esperado da taxa básica de juros, o que gerou um aumento generalizado das taxas de juros no país. O resultado é forte valorização do dólar principalmente, mas não apenas, em relação às moedas dos países emergentes, inclusive o Brasil. Nos últimos dois meses, o real desvalorizou mais de 10% em relação ao dólar.

Historicamente, no Brasil, sempre que ocorre forte desvalorização da moeda, esta desvalorização é repassada aos preços internos, o que pressiona a taxa de inflação e força o Banco Central a aumentar a taxa de juros. O aumento da taxa de juros reduz o nível de atividade e, desta forma, mantém a taxa de inflação sob controle.

Como a dívida pública era primordialmente denominada em dólares, a inflação relativamente alta e o déficit fiscal e em conta corrente elevados, a desvalorização cambial aumentava a relação dívida pública/PIB e o prêmio de risco, gerando mais desvalorização cambial e mais inflação. O aumento da inflação exigia mais aumento de juros e a economia entrava em recessão com queda do PIB. Com aumento dos juros e queda do PIB, a relação dívida pública/PIB voltava a crescer, gerando mais inflação. No limite, a economia poderia entrar em um ciclo vicioso no qual o desequilíbrio fiscal dominaria a dinâmica econômica. E o resultado final era sempre crise do balanço de pagamentos, crise fiscal, recessão e inflação. Dada esta experiência histórica, não é de admirar que o mercado financeiro tenha reagido com nervosismo à forte pressão sobre o real. Afinal, qual a probabilidade de o Brasil entrar em um processo similar a este vivido no passado recente?

Para que se entenda o que são golpe e ditadura: Editorial | O Globo

Descoberta de memorando da CIA relembra a violência do regime militar e ajuda os mais jovens e os desinformados em geral a não fazerem comparações descabidas

A antiga lição de que entender o passado ajuda a compreender o presente se aplica a um memorando encontrado pelo pesquisador de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas Matias Spektor, enviado em abril de 1974 pelo então diretor da CIA, central de inteligência dos Estados Unidos, William Colby, para o secretário de Estado Henry Kissinger.

O documento confirma o conhecimento pelo presidente Ernesto Geisel — o penúltimo dos governantes militares do regime de 1964 a 85 — do assassinato de opositores do regime, como consta da obra “Ditadura”, de Elio Gaspari, colunista do GLOBO, composta por cinco livros. Em um deles, é transcrito um diálogo, gravado em fevereiro de 1974 entre Geisel, pouco antes da posse, em março, e outro general, Dale Coutinho: “(...) esse troço de matar é uma barbaridade, mas eu acho que tem que ser".

Já o memorando tem especial importância porque cita o general Milton Tavares de Souza, comandante do temido Centro de Inteligência do Exército (CIE), concorrente em arbitrariedades e violência do DOI-Codi, como fonte da informação de que aproximadamente 104 pessoas foram eliminadas durante pouco mais de um ano, a partir de 1973.

Ordens superiores: Editorial | Folha de S. Paulo

Documento da CIA contradiz a noção de que mortes na ditadura se deviam a excessos nos porões

Parece representar uma reviravolta na historiografia da ditadura militar brasileira a revelação de um documento secreto norte-americano, datado de 1974, no qual William Colby, então chefe da CIA, afirma que o general Ernesto Geisel autorizou na Presidência a"execução sumária" de adversários do regime implantado em 1964.

O texto, com exceção de dois parágrafos tarjados, foi liberado em 2015 pelo governo dos EUA, mas só veio a ser divulgado na quinta-feira (10) por Matias Spektor, pesquisador, professor de relações internacionais na Fundação Getulio Vargas e colunista desta Folha.

O memorando do diretor da agência de espionagem dos EUA menciona um encontro entre Geisel e outros três militares de alta patente, que teria ocorrido em 30 de março de 1974, 15 dias após a posse do novo dirigente de turno, que governou até 1979.

Segundo Colby, estavam presentes os generais João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) e futuro presidente, Milton Tavares, comandante do Centro de Informações do Exército (CIE), e Confúcio Danton de Paula Avelino, nome indicado para suceder Tavares.

O assunto em pauta era a continuidade da política de eliminação de agentes da "subversão interna", levada a cabo por parte da cúpula da área de segurança e inteligência durante o período de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974).

Com apoio de Figueiredo, Tavares teria ressaltado a necessidade de prosseguir no combate à "ameaça terrorista" e mencionado o assassinato de 104 pessoas, que na época foram consideradas "subversivos perigosos" pelo CIE.

O valor dos partidos: Editorial | O Estado de S. Paulo

O candidato que foi sem nunca ter sido se despediu dos holofotes dirigindo diatribes contra o “sistema”. Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, que era cotado para disputar a Presidência pelo PSB, desistiu da aventura eleitoral e atribuiu sua decisão ao fato de que “os políticos criaram um sistema político aferrolhado de maneira a beneficiar a eles mesmos”. Ou seja, um postulante que se apresenta como não político, caso de Barbosa, não teria vez em razão dos “mecanismos de bloqueio que servem para cercear as escolhas do cidadão”, segundo disse o ex-ministro ao jornal Valor. Em sua opinião, a solução seria permitir candidaturas avulsas, isto é, sem a necessidade de filiação partidária. Atualmente, argumenta Barbosa, o “sistema pernicioso” deixa de fora “uma grande quantidade de pessoas”. Como consequência desse suposto déficit democrático, concluiu ele, não existe a possibilidade de que “esta eleição vá mudar o País”.

A opinião de Barbosa, em si, é irrelevante, mas suas perorações a propósito do sistema político, por traduzirem um pensamento corrente no debate nacional - o que lhe valeu cerca de 10% de intenções de voto antes mesmo que se conhecessem suas ideias -, merecem alguma atenção.

Como se sabe, há muito tempo uma parte do Judiciário e do Ministério Público se entregou à tarefa de desmoralizar a política. Assim, não há novidade no discurso segundo o qual os políticos estariam desinteressados da resolução dos graves problemas nacionais, concentrados que estão na resolução de seus problemas pessoais, razão pela qual estariam empenhados em manter o status quo e impedir que candidaturas estranhas ao establishment floresçam e os ameacem. Para isso, contariam com a manutenção do tal “sistema” a que aludiu Joaquim Barbosa.

Esse sistema, contudo, tem uma lógica acordada por todos os cidadãos na forma da Constituição. Ou se implode o sistema, mudando-se o que vai na Constituição, ou se aceita a regra do jogo. E essa lógica está assentada na existência dos partidos nacionais, cuja maturação vem se processando desde a adoção do Código Eleitoral de 1932, que estabeleceu o voto secreto e a representação proporcional, acabando com os partidos regionais dedicados a defender os interesses das oligarquias dos Estados. Mesmo considerando-se o fato de que o presidente Getúlio Vargas permitiu essa reforma não porque estivesse interessado no aprimoramento da democracia, mas porque pretendia minar o poder das oligarquias da República Velha e constituir o seu próprio cartel de oligarcas, a introdução dos partidos nacionais e do sistema proporcional tinha o claro potencial de melhorar a representação, permitindo que grupos minoritários organizados também se fizessem ouvir.

Não à toa, esses princípios foram consagrados na Constituição de 1988. Está lá, no artigo 14, parágrafo 3.º, inciso V, que só ganha condição de elegibilidade quem tem “filiação partidária”. Essa exigência tem relação direta com a convicção de que o debate de ideias e as escolhas da sociedade passam necessariamente pela organização de partidos políticos com capacidade de representação.

Os zelotes da antipolítica, contudo, não gostam desse princípio e já concluíram, como vocalizou Joaquim Barbosa, que a eleição de outubro, nos atuais termos, não vai “mudar nada” no País. Ora, não é uma eleição que muda um país. É a vontade do povo soberano que o faz, certamente por intermédio do voto. Um dos graves problemas de nosso sistema político é a Constituição, que foi feita para vigorar em um sistema parlamentarista, mas que, no arremate, adotou o presidencialismo. Assim, o presidente não governa se não tiver uma grande base parlamentar, que não se elege ao mesmo tempo que o chefe do Executivo, sujeito às intempéries do turno duplo de votação. Um partido governista, sozinho, não tem poder para aprovar nada, mas qualquer partido, articulando-se bem, pode inviabilizar uma administração. A governabilidade, portanto, fica à mercê de legendas que muitas vezes representam apenas os interesses de seus donos.

É isso o que precisa, urgentemente, ser modificado, mas tudo dentro do sistema partidário, o único capaz de inibir arroubos aventureiros e irresponsáveis dos “outsiders”.

Candidatura pode ser rejeitada sem ir a plenário, diz ministro do TSE

Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ministro Admar Gonzaga, um dos sete magistrados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse nesta sexta-feira que um pedido de candidatura presidencial pode ser rejeitado “de ofício” pela corte, sem análise do plenário, com decisão “praticamente no plano administrativo”. Isso, segundo ele, permitiria um trâmite rápido do tema mesmo que o candidato excluído recorra ao pleno.

A outra hipótese seria o pedido de registro ser objeto de uma impugnação por parte do Ministério Público ou de algum rival. Nesse caso, afirmou, o tribunal precisaria “instruir” o processo, o que levaria muito mais tempo. Abriria o risco de o caso não ser concluído antes da eleição. Essa possibilidade é acentuada, disse, devido ao calendário eleitoral mais apertado aprovado pelo Legislativo.

Embora não tenha sido nominalmente citado, Admar Gonzaga estava se referindo ao caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujos aliados têm dito que o pré-candidato terá seu registro solicitado mesmo com o petista preso e condenado em segunda instância, o que lhe enquadra como inelegível pela Lei da Ficha Limpa.

“Vamos tratar da candidatura de presidente da República”, disse o ministro. “Na medida que o TSE funciona como primeira e última instância para o registro de uma candidatura presidencial, eu te devolvo a pergunta: convém à democracia que uma pessoa sabidamente inelegível, que já tem o seu registro indeferido pelo magistrado... Se não houver impugnação, pode haver até de ofício”, disse. “Se houver impugnação, tem de abrir o contraditório, aí jurisdiciona a questão. Senão, ela fica praticamente no plano administrativo, se ela está positivada por crime.”

Meirelles vai usar Lula em sua pré-campanha

De olho no eleitorado do petista, ex-ministro reproduzirá vídeos em que é elogiado pelo ex-presidente

Robson Bonin, Bruno Góes e Catarina Alencastro | O Globo

Enquanto aguarda ser anunciado pelo presidente Michel Temer como o pré-candidato formal do PMDB ao Planalto, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles montou um plano para ampliar sua exposição pública. Em um movimento para tentar capturar eleitores órfãos do ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde o dia 7 de abril, o exministro de Temer vai levar às redes sociais vídeos em que aparece ao lado do líder petista. As imagens de arquivo remetem ao período em que Meirelles foi presidente do Banco Central na gestão de Lula. Os trechos dos vídeos escolhidos mostram o petista discursando e fazendo rasgados elogios ao peemedebista.

Em 13 de agosto de 2009, por exemplo, durante um evento oficial em Anápolis (GO), Lula creditou a Meirelles o sucesso de seu governo.

— Muitas vezes vocês já ouviram pessoas falando mal do Meirelles porque o juro estava alto. Eu quero dizer ao povo de Anápolis que eu sou agradecido e devo a esse companheiro e à equipe econômica do governo a estabilidade econômica e o respeito que o Brasil tem hoje no mundo — discursou Lula.

A ideia de Meirelles ao propagandear sua boa relação com Lula é tentar neutralizar ataques do PT e conquistar os votos dos eleitores do ex-presidente que ficaram sem candidato desde que ele passou a cumprir pena em Curitiba. Para um dos aliados do ex-ministro, ao mesclar os papeis de presidente do Banco Central de Lula e de ministro da Fazenda de Michel Temer, Meirelles poderá mostrar que não tem lado.

— Os vídeos com Lula anulam a crítica da esquerda, porque o Meirelles vai mostrar que foi fiador e resolveu o drama da crise econômica em 2003. E agora, com Temer, resolveu de novo em outro governo, da mesma forma, uma crise ainda pior. Ou seja, ele não tem grupo politico. Ele resolveu problemas no governo Lula e Temer.

Paulo Câmara diz que PSB pode apoiar Ciro Gomes

Para o governador, a aliança dos sonhos uniria o PSB, Ciro e o PT na mesma coligação

Por: Agência Estado | Diário de Pernambuco

Após a desistência do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa de concorrer à Presidência da República pelo PSB, o governador de Pernambuco e vice-presidente nacional da legenda, Paulo Câmara, afirmou que o partido pode apoiar o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, nas eleições.

"Apoio ao Ciro vai depender do processo de discussão interna do partido. Com a desistência do ministro Joaquim Barbosa de ser pré-candidato, isso passa a ser uma possibilidade", disse Câmara após participar de um debate sobre as eleições na capital paulista.

Câmara disse que a chamada centro-esquerda terá uma candidatura única ou se dividirá em duas no primeiro turno, considerando as pré-candidaturas do PDT e do PT. Ele afirmou, no entanto, que o PSB ainda considera a possibilidade de lançar uma candidatura própria para a disputa, mas não citou nenhum nome. Para o governador, a aliança dos sonhos uniria o PSB, Ciro e o PT na mesma coligação.

"Se der para juntar tudo no primeiro turno, é o melhor dos mundos, independentemente de quem seja o candidato. Agora, se não der, é importante também a gente se preparar para estar junto no segundo turno", afirmou Câmara.

Ao falar sobre o PT, que insiste na pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Operação Lava Jato, Câmara sinalizou uma cobrança aos petistas. "O PT tem que sentar com os partidos de esquerda e conversar também."

Temer quer retomar PEC da Previdência após eleição

Presidente afirma ao ‘Estado’ que vai convidar sucessor eleito para tentar aprovar a reforma ainda neste ano; apesar da declaração, ele não descarta candidatura

Eliane Cantanhêde | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer anunciou que, depois das eleições, pretende convidar seu sucessor para, juntos, tentarem aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano e, portanto, antes do início do futuro governo. Temer se diz convencido de que, seja quem for o presidente, terá de aprovar a reforma e o melhor será se puder já assumir sem esse peso e essa responsabilidade nas costas.

“Estou disposto a fazer um acordo com o futuro presidente, porque ainda dá tempo de aprovar a reforma da Previdência neste ano, em outubro, novembro e dezembro”, disse Temer em entrevista ao Estado, na sexta-feira, 11, no Palácio do Planalto, em que desfiou dados para comemorar os dois anos que seu governo completa neste sábado, 12.

Ao falar em “sucessor”, ele pode ter descartado a própria candidatura à reeleição, por ato falho ou não. A intenção do presidente é dar continuidade ao próprio projeto de reforma da Previdência que o seu governo apresentou e está em tramitação no Congresso, mas, na sua opinião, foi solapado pelas duas denúncias apresentadas contra ele pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Temer mantém a convicção de que, se não tivesse sido alvo de Janot e dessas denúncias, a história seria outra. Ou seja, a reforma já estaria aprovada.

Temer também minimizou dois obstáculos para essa nova investida a favor da reforma: a intervenção federal na segurança pública do Rio, que impede a aprovação de emendas constitucionais, e a falta de quórum no Congresso, em ano em que haverá Copa do Mundo, convenções partidárias e campanha eleitoral.

Quanto à falta de quórum, lembrou que a eleição para a Câmara dos Deputados é em apenas um turno e será encerrada em 7 de outubro. A partir daí, ele já pretende entrar em campo para mobilizar os atuais deputados pela aprovação da reforma, facilitando o início do novo governo.

INTERVENÇÃO NO RIO
E, segundo o presidente, o decreto da intervenção prevê sua duração até 31 de dezembro deste ano, mas nada impede uma suspensão antes, se houver uma negociação nesse sentido. Aliás, independentemente da retomada da reforma da Previdência, ele disse que pretende acertar o futuro da intervenção com o novo governador: “Quando ele for eleito, vou chamá-lo e perguntar o que ele quer que eu faça, manter, não manter...”

Secretário de Segurança na gestão Rosinha sonha em concorrer ao governo

A seu favor, o delegado da Polícia Federal diz ter a credencial da experiência na área de Segurança, tema tão sensível nesta eleição

Por Paulo Cappelli | O Dia

RIO - Secretário de Segurança na gestão de Rosinha Garotinho, Marcelo Itagiba sonha em ser o nome do PPS ao governo do estado. Quando deixou o PSDB e ingressou no partido, em abril, pleiteava a legenda para disputar o Senado. Após o antropólogo Rubem Cesar (PPS) ganhar força e ser cotado para o Palácio Guanabara, Itagiba se ouriçou. A seu favor, o delegado da Polícia Federal diz ter a credencial da experiência na área de Segurança, tema tão sensível nesta eleição. Pesa contra o postulante, porém, o fato de o período à frente da Secretaria ser lembrado pelo aumento da violência.

Seja como for, está lançada a queda de braço entre Itagiba e Rubem Cesar, com vantagem para o segundo, que hoje tem a preferência da maioria do PPS.

Tucanos de olho
A definição do nome do PPS e até mesmo se o partido terá candidato dependerá de conversas com o PSDB. As duas legendas são unha e carne no estado.

Diogo Nogueira - Lama nas ruas

João Cabral de Melo Neto: Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.