segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Marcus André Melo: Carta aos Brasileiros 2?

- Folha de S. Paulo

O candidato substituto do PT não pode fazer promessas críveis

Estamos em uma encruzilhada, mas todos ganham com cenários apocalípticos, pois interessa à esquerda, à direita e ao centro exacerbar a ameaça à vista. A estrutura de incentivos leva assim a um equilíbrio de corrida armamentista.

A volta do PT ao poder é uma perspectiva aterradora para uma parte considerável da opinião pública. Tão importante quanto a rejeição ao partido é a intensidade de preferências dos seus opositores. Assim, o cenário de um governo petista certamente produz importante comoção na sociedade. E, neste contexto, o movimento estratégico dos extremos é de apelo ao centro. Vários movimentos recentes de Haddad vão nessa direção. Mas “falar é barato”: a credibilidade das promessas é o que importa.

As condições para uma nova Carta aos Brasileiros são mínimas: as promessas que o candidato do PT poderá fazer não são críveis. Apresentando-se ao eleitorado como um candidato-substituto falta-lhe o pré-requisito essencial para qualquer barganha: a capacidade de garantir acordos. Há assim um conflito insolúvel entre a mensagem do conciliador e o que representa —e reafirma a todo momento: não é candidato de si mesmo.

Fernando Gabeira: Duelo ao entardecer

- O Globo

Os moderados foram engolidos pela onda. Isso não significa que não terão importância no futuro

“Satanás, pegue tudo o que é seu e deixe esta nação.” Esta frase do Cabo Daciolo diante da fogueira era apenas um lembrete de que estas eleições parecem um sonho dentro de sonhos.

Posso imaginar o Satanás, posso vê-lo retirando seus pertences como um passageiro após a aterrissagem. Não consigo imaginar o que Satanás tem de carregar, esse tudo o que é seu.

Não tenho tempo para divagar sobre isso. Prefiro esperar a saída dele e, ao me dar conta das coisas que estão faltando, possa concluir que foram levadas por Satanás.

Outro dia, algumas pessoas me xingavam na rede. E não eram as mesmas de sempre. Descobri que foi um delírio do Ciro Gomes.

Numa entrevista a um repórter de esquerda, ele confessou que salvou Lula do mensalão e que para isso falou com várias pessoas. Eu, inclusive. Nunca houve essa conversa. Trabalhava na CPI dos Sanguessugas, que, aliás, foi bastante dura. Ciro contou essa história para impressionar o PT. Já foi punido porque o PT lançou Haddad.

E as pessoas que me xingaram, essas também estão perdoadas porque carregam o fardo cognitivo de acreditar em bravatas de campanha.

Vamos à realidade que também parece um sonho: as pesquisas apontam para um duelo entre dois líderes populares, um na cadeia, outro, no hospital.

Demétrio Magnoli: O povo contra a democracia

- O Globo

A tendência já tem mais de uma década e pode ser captada estatisticamente. Em janeiro, a “The Economist” publicou um gráfico perturbador que expressa, em números, o declínio global da democracia. De 167 países classificados num espectro que se estende das democracias plenas até regimes autoritários, passando por democracias precárias e regimes híbridos, 89 experimentaram retrocessos. Só 5% da população mundial vivem sob democracias plenas, enquanto um terço habita em países autoritários. A maioria situa-se em pontos intermediários. O recuo rumo ao polo ditatorial decorre menos de golpes de força que da degeneração interna de sistemas políticos mais ou menos democráticos.

Na sua monumental “The History of Government”, S. E. Finer sintetiza os quatro tipos básicos de entidades políticas (Palácio, Fórum, Igreja e Aristocracia) e estabelece as suas potenciais interações. O Fórum é o sistema fundado na autoridade conferida pelos de baixo, que deve ser incessantemente renovada. Mas ele vive sob o risco permanente de se converter em Palácio, ou seja, no sistema que concentra a autoridade num soberano individual (imperador, rei, príncipe ou ditador). A transição acontece quando o governante alçado pelo povo consegue se desvencilhar do controle efetivo dos governados, perenizando-se no poder. É esse o mecanismo principal que, atualmente, provoca o declínio global da democracia.

Há dez anos, Larry Diamond alertou para a “recessão democrática”. As democracias precisam responder às necessidades dos cidadãos, se querem sobreviver, explicou. Numa linha paralela, William Galston registrou que, “para alguns”, a democracia liberal “pode ser intrinsecamente boa”, mas “para muitos, é apenas um meio para uma vida próspera, pacífica e segura”. No pós-guerra, por mais de meio século, os governos democráticos do Ocidente mantiveram-se fortes pois cumpriram o contrato implícito de atender a essas demandas. O recuo em curso, nos EUA e na Europa, decorre da quebra desse contrato.

Celso Rocha de Barros: Paulo Guedes é o preço da piada Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Mudança no Imposto de Renda talvez tenha passado despercebida para bolsonaristas

Chegou a hora de saber se você, que se divertiu com todo o lado "politicamente incorreto" de Bolsonaro, está disposto a perder dinheiro para continuar ouvindo a piada.

Na semana passada, Paulo Guedes, guru econômico de Bolsonaro, apresentou a um grupo de empresários sua proposta para reformar os impostos brasileiros. Não era para os empresários terem contado para ninguém (o que é meio suspeito), mas a Folha descobriu a história.

Causou escândalo a proposta de criação de uma nova CPMF, que o tuiteiro @oobservadorbr chamou de "Imposto Ipiranga". Bolsonaro desautorizou Guedes e negou que vá criar o Imposto Ipiranga.

Mas Bolsonaro defendeu outra proposta de Guedes, a mudança no Imposto de Renda.

E aqui tem um negócio que talvez tenha passado despercebido para os bolsonaristas.

Guedes defende uma alíquota de imposto de renda igual para todo mundo que não for isento: 20%. Sozinho, esse número já sugere que os ricos se deram bem nessa (atualmente pagam 27%). Em entrevista ao O Estado de S. Paulo, o economista Sergio Gobetti estimou que a proposta deve beneficiar os 11% mais ricos do Brasil.

A democracia corre risco?

José Álvaro Moisés / Rubens Figueiredo

- Folha de S. Paulo, 24/9/2018

Dois principais candidatos desqualificam instituições

A crise em que está mergulhado o país transformou as eleições de 2018 em um momento delicado para a democracia brasileira. Dos seus resultados dependem não apenas a estratégia de recuperação da economia, com a inadiável necessidade de criação de 14 milhões de empregos, mas também a salvaguarda de direitos fundamentais e de instituições democráticas que existem para assegurar sua vigência e universalidade.

O país não pode ser posto, uma vez mais em sua história, diante do risco de uma experiência autoritária ruinosa. Os brasileiros conquistaram a liberdade e aceitaram se submeter ao império da lei a duras penas, depois de embates que custaram a vida de muitos.

Em que pesem tais avanços, os protagonistas do processo eleitoral que as pesquisas apontam como prováveis competidores do segundo turnonão medem palavras e atitudes de desqualificação e de desconfiança de instituições fundamentais à democracia como a Justiça, o Parlamento e as regras de competição eleitoral.

Trata-se de uma disputa excepcionalíssima, duplamente impactada pela artificial campanha de vitimização do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em face de sua condenação por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro e pela comoção derivada do lamentável atentado contra a vida do deputado Jair Bolsonaro.

Tanto este como o candidato do PT, o ex-prefeito Fernando Haddad, não hesitam em falar de supostas fraudes eleitorais, limitação de direitos de minorias e de maiorias (como as mulheres), "golpe parlamentar" e a perseguição da Justiça e da mídia. É equívoco grave não perceber, tendo em conta a experiência de outros países, que esses sinais representam ameaça à democracia.

Fernando Limongi: Estratégia bovina

- Valor Econômico

Pregação em favor da moderação e bom senso chegou tarde

"Eu peço para que vocês se coloquem no lugar do presidiário, que está lá em Curitiba com toda a sua popularidade, com toda a sua possível riqueza, com todo seu tráfico junto a ditaduras no mundo todo que se autoapoiam, em especial em Cuba. Você aceitaria passivamente, bovinamente, ir para a cadeia? Você não tentaria uma fuga? Bem se você não tentou fugir, com tudo a teu lado, é realmente porque você tem um Plano B. Qual é o Plano B desse presidiário? (...) Eu não consigo pensar em outra coisa a não ser que o Plano B se materialize em uma fraude, não favorável ao Lula, ou melhor, favorável ao Lula."

Depois de uma semana sem poder se comunicar com seus eleitores, sem fazer campanha, foi esta a mensagem que Jair Bolsonaro decidiu transmitir a seus eleitores. O vídeo de 20 minutos não traz uma palavra sequer sobre educação, saúde, emprego ou economia.

Sem fazer campanha e sem apresentar propostas concretas, Bolsonaro não para de crescer nas pesquisas. Há algo de errado aqui.

Quem analisar a fala do capitão concluirá que lógica não é o seu forte. Se o cara não quer fugir, então é porque ele vai fraudar a eleição. Não é fácil entender como uma coisa decorre da outra. Mas esse não é o ponto. A mente do capitão é dada a devaneios conspiratórios, mas quem se importa com isso?

Bolsonaro declarou sua incapacidade e despreparo inúmeras vezes, e não apenas na economia, mas sobre todos os temas sobre os quais foi perguntado. O que fazer com a educação? Acabar com a influência de Paulo Freire. O que fazer com o SUS? Mandar os médicos cubanos de volta para casa.

Vinicius Mota: Autocrítica, modo PT

- Folha de S. Paulo

Bolsonaristas e petistas pregam truculências, mas se chegarem ao governo serão impedidos de praticá-las

Engana-se quem diz que o PT não fez autocrítica pelos erros cometidos durante os 13 anos em que comandou o governo federal. Foi publicada tão logo o Senado decretou o afastamento provisório de Dilma Rousseff, em maio de 2016.

No documento a cúpula do partido expressa arrependimento por não ter logrado, da chefia do Executivo, “impedir a sabotagem conservadora das estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal”.

Nas Forças Armadas, de acordo com o exame de consciência do PT, o governo falhou ao não alterar “os currículos das academias militares” e ao não promover “oficiais com compromisso democrático e nacionalista”.

Uma forcinha semelhante, para “fortalecer a ala mais avançada”, ficou faltando também no Itamaraty. Além disso, segue a autocrítica, os governos petistas distribuíram verba publicitária demais para “os monopólios da informação”.

Leandro Colon: Fatos x Especulação

- Folha de S. Paulo

Campanha de presidenciável tenta criar teoria sobre atentado, mas PF começa a desmistificar versão

Além da prática do nocivo fenômeno da fake news, a disputa eleitoral de 2018 tem sido palco da tentativa de imposição de teorias especulatórias que ignoram propositalmente os fatos como arma política para influenciar no resultado.

A mais recente é a que gira em torno de Adélio Bispo Oliveira, o homem que esfaqueou Jair Bolsonaro (PSL). Após o atentado em Juiz de Fora, a Polícia Federal apreendeu um computador, quatro telefones celulares e um cartão de crédito internacional em nome do agressor.

Como um homem pobre, desempregado, poderia ter essa quantidade de equipamentos? Como pagou adiantado os R$ 400 da hospedagem em uma pensão na cidade mineira?

Aliados, filhos e fiéis seguidores de Bolsonaro sentenciaram então que a agressão foi premeditada, a mando de setores da esquerda dispostos a aniquilar o líder das pesquisas.

Cida Damasco: É hora de falar

- O Estado de S.Paulo

Favoritos são cobrados a justificar propostas e nomes fortes da economia

Candidatos, por favor falem. Abram a boca. Não para incendiar as redes sociais e alastrar o fogo na reta de chegada da eleição. Mas para pôr às claras o que está sendo realmente planejado, tanto em termos de programas como de equipes de governo. Nem sempre à luz do dia. Com os sinais cada vez mais fortes de que Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) serão os classificados para um possível segundo turno, o que tem saído dos comitês de campanha dos candidatos é, preferencialmente, um discurso preparado para reforçar a polarização. E fica para segundo plano como e com quem cada candidato pretende atuar no governo. Principalmente na economia.

Coube ao guru de Bolsonaro, o economista Paulo Guedes, abrir essa caixa, e com propostas para um dos temas mais sensíveis, ou seja, impostos. A primeira é a recriação de uma espécie de CPMF – que substituiria várias contribuições, como a patronal sobre a folha de pagamento e as do chamado sistema S, por um tributo sobre movimentação financeira, com alíquota de 1,28%. A outra seria uma unificação das alíquotas do Imposto de Renda, na faixa de 20% – medida que, mesmo com a oferta de ampliação da isenção para a faixa até cinco salários mínimos, ainda levaria a uma vantagem tributária para os 11% mais ricos.

Cacá Diegues: A soma do que somos

- O Globo

Entre pobreza do real e exagero do sonho, Fernanda Montenegro nos mantém fiéis ao que gostamos de ser, ao que queremos ser

Este ano, a homenageada pelo Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, promovido pela Academia Brasileira de Cinema, foi Fernanda Montenegro, uma eterna síntese das qualidades dos filmes velhos e novos feitos no Brasil. Terça-feira passada, nossa grande dama recebeu seu Otelo, o troféu que lhe era devido, no palco da Cidade das Artes. A luz de seu talento, o mistério que a torna única, iluminou mais uma vez a nossa atividade.

Segundo diz a Bíblia, todo ser humano é um templo vivo de Deus. Acho isso mais ou menos. Depende muito do ser humano em questão, tem uns que são mais templo vivo do que outros. Pega um bandido do tráfico de drogas, por exemplo. Tem uns que atiram por dá cá aquela palha, entendendo por palha o que a gente está mesmo imaginando.

Por outro lado, tem seres humanos que, mesmo que se queira plantar em sua fama alguns sórdidos pecados, nada pega. E não pega, não porque a má fama é inconsistente; mas sim porque a pessoa é que é consistente demais, não importa qual seja seu tipo de fama. Fernanda Montenegro é uma dessas pessoas.

Tecnicamente, Fernanda é uma atriz, deusa dos palcos, de todas as telas grandes e pequenas. E do que mais se venha a inventar para nos contar a vida de alguém. No Brasil ou por aí, poucas mulheres nos deram o que Fernanda já nos deu e continua a dar, incansável narradora de almas. Pode ser que Bette Davis ou Jeanne Moreau tenham chegado perto; como perto há de ter chegado Cacilda Becker. Mas Fernanda é só ela.

Senhora de seu destino: Editorial | O Estado de S. Paulo

Não poderá alegar desconhecimento ou 'traição' caso triunfe nas urnas um projeto autocrático e populista

Uma marca da campanha eleitoral de 2018 é a placidez com que se atacam os princípios basilares da democracia sem que isto enrubesça a face dos liberticidas ou cause arrepios nos segmentos da sociedade que os apoiam. O menoscabo pelas instituições republicanas, os ataques à liberdade de imprensa e o desapreço pela atividade política dita tradicional são vocalizados, às vezes em português cristalino, por candidatos bem colocados nas pesquisas de intenção de voto.

A popularidade dessas candidaturas parece crescer – ou ao menos não chega a ser abalada – à medida que recrudescem os ataques verbais e, mais grave, as ameaças, diretas ou veladas, a tudo e a todos que estejam de alguma forma associados ao establishment político, aqui tomado em sua mais nobre acepção, qual seja: o ambiente propício à construção de compromissos em prol do bem comum. Isto implica tratar adversários como interlocutores legítimos, não inimigos a serem eliminados das lides próprias da política. Não é isso que se tem visto.

O anseio de vingança e o pendor ao autoritarismo, não raro conjugados, têm dado a tônica dos discursos dos candidatos que lideram as pesquisas e de seus porta-vozes. O despreparo absoluto para definir e conduzir os rumos da Nação é tomado como virtude em meio à derrocada de profissionais da política, fruto de uma perniciosa metonímia – não casual – que condenou o todo pelo desencaminho de partes. A História há de cobrar de alguns membros do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário a salgada fatura pela criminalização da política, indistintamente.

Soa bem o discurso da destruição aos ouvidos exaustos e indignados de muitos brasileiros fartos de sucessivos, e cada vez mais escabrosos, casos de corrupção. Tantos que a fazem parecer, erroneamente, um mal atávico de nossa identidade nacional.

O risco de um novo estelionato eleitoral: Editorial | Valor Econômico

Na sexta-feira, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, estimou que o déficit primário do setor público neste ano deverá ficar bem abaixo da meta fixada na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Em vez dos R$ 161,3 bilhões definido na LDO, o déficit ficará em torno de R$ 125 bilhões, estimou Mansueto. Os menos avisados podem achar que se trata de uma grande notícia, que deve ser festejada. Mas, na verdade, o resultado é um retrato da situação de insolvência em que se encontram as finanças públicas brasileiras, que registram déficit primário elevado desde 2014.

Esse déficit, que equivale a quase 2% do Produto Interno Bruto (PIB), é a diferença entre as receitas primárias da União e as despesas primárias. O cálculo não considera o gasto com o pagamento de juros. A realidade, portanto, é ainda mais dramática, pois, ao incluir na conta a despesa com juros, o déficit nominal deverá terminar o ano em torno de 7% do PIB.

Esta é a situação das contas que o próximo presidente herdará. Ele já assume com a responsabilidade de ter que produzir um ajuste fiscal próximo de 4% do PIB. Explica-se: apenas com superávit primário em torno de 2% do PIB será possível estabilizar a dívida pública, na comparação com o PIB, como avaliam os economistas de diferentes correntes.

Mas esta triste realidade não aparece nos debates entre os candidatos à Presidência da República, a pouco mais de 10 dias das eleições. Ao contrário, o que se verifica é um festival de propostas populistas para atrair os eleitores. No desespero para obter votos, os candidatos prometem coisas que não conseguirão entregar sem deteriorar ainda mais a situação das contas públicas.

O risco que se corre, ao iludir o eleitor com promessas impossíveis de serem cumpridas, é repetir a trajetória da ex-presidente Dilma Roussef, acusada de praticar "estelionato eleitoral". Ela foi obrigada, pela realidade das contas, a executar um programa econômico oposto ao que prometeu durante a campanha pela reeleição.

Assembleia apagada: Editorial | Folha de S. Paulo

Legislativos estaduais costumam se dedicar a temas de escassa relevância para o eleitorado

Dentre as opções pelas quais os brasileiros terão que se decidir no pleito de 7 de outubro, as candidaturas para as Assembleias estaduais talvez sejam as que gozem de menor relevância aos olhos do eleitor. É difícil, de fato, perceber o real papel da atuação parlamentar na gestão das unidades federativas.

Essas Casas consomem recursos vultosos —cerca de R$ 11 bilhões no ano passado— e transmitem a impressão, em boa parte verdadeira, de que se dedicam a temas menores ou à homologação fisiológica de iniciativas do Executivo.

Trabalho realizado pelo pesquisador Leonardo Sales, da Universidade de Brasília, aponta que, do total de leis aprovadas pelas Assembleias estaduais, só 35% têm consequências para o cotidiano dos cidadãos, ao tratar de temas como tributos e atividades comerciais.

O restante do exercício legislativo se volta para a criação de datas comemorativas, mudança de nomes de logradouros e projetos para transformar organizações em entidades de utilidade pública, concedendo-lhes acesso a recursos e benefícios do erário.

Estudos acadêmicos acerca do funcionamento dos legislativos estaduais indicam que essas instâncias têm características que as diferem do Congresso Nacional.

A Constituição atribui prerrogativas próprias aos estados, e as leis locais tendem a reservar aos governadores papel preponderante nas decisões, chancelando o que Fernando Luiz Abrucio, da Fundação Getulio Vargas, classificou de “ultrapresidencialismo estadual”.

IDH reflete a importância destas eleições: Editorial | O Globo

Indicador da qualidade de vida da população reforça a necessidade de escolhas corretas nas urnas

A divulgação, pelo Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2017, próximo às eleições, serve de instrumento de reflexão para o eleitor.

Indo além do alcance dos indicadores meramente quantitativos — como PIB, inflação e outros —, o IDH visa a captar como evolui a qualidade de vida das populações. Para isso, a sua composição usa informações sobre educação, expectativa de vida e também renda.

O Brasil se manteve em 79º lugar numa relação de 188 países. Mas quando o indicador é ajustado à desigualdade na população, a posição do país no ranking cai 17 posições. São mesmo grande fator de depreciação do Brasil em estudos comparativos como este as disparidades sociais em geral e de renda em particular.

É indiscutível que a grande recessão do biênio 2015/16, ainda não integralmente superada — a recuperação tem sido lenta, devido a várias razões —, condiciona o mau resultado do IDH. A renda per capita retrocedeu mais de 9% entre 2014 e 2016, inferior apenas à queda de 12,4% na crise de 1981 a 1983. O impacto no indicador é direto.

Espírito antidemocrático: Editorial | O Estado de S. Paulo

Bolsonarismo e lulopetismo invocam a democracia com o objetivo de destruí-la

Cada um à sua maneira, o bolsonarismo e o lulopetismo consolidaram-se na campanha presidencial como estridentes manifestações de hostilidade à democracia e às instituições que garantem seu funcionamento. Esses movimentos nada têm a ver com a saudável e necessária crítica ao sistema, que deve ser feita regularmente em sociedades abertas; o que está em curso é uma ofensiva desenfreada para desmoralizar as instituições democráticas, como se estas só existissem e funcionassem para favorecer os inimigos políticos, estando, portanto, em estado de permanente suspeição. A história está repleta de exemplos do dano que tal visão irresponsável das coisas da vida é capaz de provocar.

Quando o candidato Jair Bolsonaro (PSL) vai às redes sociais para denunciar que somente uma fraude nas urnas eletrônicas poderá impedi-lo de se eleger presidente, a mensagem é que o sistema é deliberadamente vulnerável para lhe tirar uma vitória que, a seu ver, é líquida e certa. E mais: dá a entender que essa vulnerabilidade das urnas seria parte de um plano para reconduzir o PT ao poder e permitir que Lula da Silva, preso por corrupção e lavagem de dinheiro, seja solto.

De seu leito hospitalar, de onde se recupera da facada que recebeu durante um comício, o ex-capitão chegou a ir às lágrimas ao denunciar o tal complô: “Coloquem-se no lugar do presidiário que está lá em Curitiba”, disse Bolsonaro, em referência a Lula. “Com toda sua popularidade, sua possível riqueza, seu tráfego junto a ditaduras. Você aceitaria passivamente ir para a cadeia? Se você não tentou fugir, é obviamente porque tem um plano B” - e esse plano, segundo o candidato, só pode “se materializar numa fraude”.

Assim, a retórica do bolsonarismo segue o modelo dos movimentos de extrema direita que emergiram na Europa nos anos 30 do século passado, cujo discurso sistematicamente denunciava as forças invisíveis que se moviam no subterrâneo para destruir a nação. Bolsonaro criou uma narrativa conspirativa que, para os fanáticos antipetistas que o seguem, faz todo sentido - e, portanto, pouco importa se é verdadeira ou não.

Mulheres sem candidato são o dobro de homens

Quase 40 milhões de eleitoras, ou 51%, estão indecisas ou pretendem votar nulo e em branco para presidente

A duas semanas do primeiro turno, 51% das mulheres estão indecisas ou pretendem votar em branco ou nulo. No grupo, 45,3% são do Sudeste e 54% ganham até dois salários mínimos, aponta análise do Datafolha a pedido do GLOBO, a partir de citações espontâneas. A cada homem sem candidato, há duas eleitoras nesta situação. Para especialistas, frustração com os políticos e falta de resposta aos anseios da vida prática explicam esse comportamento.

Indecisão feminina decisão perto do voto

Entre as mulheres, 51% estão sem candidato

Danielle Nogueira, Miguel Caballero e Marcello Corrêa | O Globo

A duas semanas do primeiro turno, o número de mulheres sem candidato a presidente é elevado: na pesquisa Datafolha da última quinta-feira, ao responder deforma espontânea à pergunta “em quem você vai votar?”, 51% delas afirmaram ainda não saber (38%) ou pretender votar nulo ou branco (13%), o que corresponde a 39,4 milhões de eleitoras. Na ponta do lápis, para cada homem sem candidato, há duas mulheres na mesma situação. Apedido do GLOBO, o Data folha mapeou seu perfil socioeconômico. O resultado revela que 45,3% moram no Sudeste e 54% ganham até dois salários mínimos por mês.

Este grupo, que totaliza 27% de todo o eleitorado, pode definir quais candidatos irão para o segundo turno, o que vai exigir dos postulantes à Presidência esforço redobrado para conquistar sua confiança na reta final. Na avaliação de cientistas políticos, os dados detalhados da pesquisa refletem a frustração com os políticos e o pragmatismo do eleitorado feminino de baixa renda, que ainda não conseguiu identificar entre os candidatos uma resposta a seus anseios.

Tradicionalmente, o eleitorado feminino costuma decidir seu voto mais perto do dia da votação, na comparação com os homens. A mesma pesquisa espontânea do Datafolha que apontou percentual de 51% das eleitoras indecisas ou que votarão branco ou nulo, revelou que, entre os homens, o índice era de 29% (20,2 milhões). Em junho, esse percentual era de 80% entre as eleitoras e 58% entre o público masculino.

— É um dado que certamente será observado pelos candidatos e deve orientar discursos de quem busca os indecisos. Há uma enorme concentração nas mulheres de faixa de renda mais baixa, para as quais pesam questões práticas da vida, ainda mais num momento de crise econômica. O preço do gás de cozinha, a creche para os filhos, o endividamento pessoal... — analisa o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

Quanto menor a renda, é maior o número de mulheres que não indicaram um nome na pesquisa espontânea do Datafolha. Do total de mulheres indecisas ou que votarão branco ou nulo, 87% têm renda mensal de até cinco salários mínimos. São poucas as que ganham entre cinco e dez salários (4,6%) e menos ainda as que estão na maior faixa de renda, com ganho mensal superior a dez mínimos (1,6%).

‘Campo reformista pode definir o 2º turno’, afirma Paulo Hartung

Entrevista com Paulo Hartung, governador do Espírito Santo (MDB)

Governador do Espírito Santo diz que momento político e eleitoral do País ‘é propício para pescador de águas turvas e para o populismo

Eduardo Kattah | O Estado de S.Paulo

O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (MDB), afirma que o compromisso com uma agenda democrática e reformista poderá ser decisivo para os candidatos que estiverem em eventual segundo turno da eleição presidencial. Hartung é um dos expoentes do grupo suprapartidário lançado em meados deste ano em defesa de uma candidatura única de centro. Leia os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

• O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgou uma carta aos eleitores na qual fala em deter a ‘marcha da insensatez’. Ainda é realmente possível uma união do centro nessa reta final da campanha?

Primeiro, uma questão conceitual: a gente nunca trabalhou uma candidatura de centro. O que a gente trabalhou é a ideia de uma agenda para o País, que cuide da questão fiscal, porque o País está literalmente quebrado, e não é possível ter futuro com essa desorganização fiscal, que cuide da questão social do País. O foco é no combate à pobreza, na melhoria da educação básica e assim por diante, que cuide da competitividade da economia brasileira frente a essa economia mundial integrada. Não é um movimento de centro. É uma agenda reformista para o País.

• Essa proposta de compromisso com a agenda reformista é viável ainda no primeiro turno?

Claro. Eu acho que o nosso papel é seguir em frente. É possível unir alguma dessas candidaturas que têm afinidades programáticas? Possível é, mas evidentemente que quando chega numa situação dessa na política é difícil quem dá o primeiro passo. Isso dificulta você diminuir o número de candidaturas. O ambiente que foi criado no Brasil é muito propício para discursos extremistas, mas mesmo assim os extremos estão conseguindo dialogar com 56%, 57% do eleitorado brasileiro. Tem um espaço, isso é indiscutível, que poderia ser ocupado por uma candidatura com uma boa agenda, com uma agenda correta para o País. O problema é que esse grupo ficou muito fragmentado. Ele não conseguiu impor um nome até agora que virasse uma convergência natural de quem tem esse pensamento. A racionalidade política, o caminho racional está fragmentado. Enquanto isso você tem dois pontos extremos dialogando com esse ambiente desorganizado que está o País.

Alckmin aposta em SP na reta final e 'cobra fatura' em estado que governou

Alckmin defende entrada de mais bancos no país

Por Cibelle Bouças | De São Paulo

O candidato a presidente da República Geraldo Alckmin (PSDB) disse ontem que pretende atrair mais bancos internacionais ao Brasil se for eleito. Ele também defendeu o aumento na oferta de crédito para fomentar o empreendedorismo.

"Hoje um banco só pode entrar no Brasil com autorização do presidente da República. Queremos acabar com isso. Queremos mais disputa no mercado, mais oferta de crédito e menos impostos", afirmou Alckmin.

O candidato disse que pretende fomentar o empreendedorismo no país e gerar empregos. Para isso, pretende desregulamentar o crédito no país. "O crédito é muito concentrado em uma meia dúzia e é muito caro. Vamos tornar o crédito maior e mais barato para estimular os empreendedores", disse.

Alckmin também defendeu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tenha um papel mais focado em pequenas e médias empresas. "O BNDES não vai ser para os campeões nacionais. Para milionários ficarem bilionários. O BNDES vai fomentar a economia através do apoio a pequenos e médios empreendedores", afirmou. Alckmin acrescentou que pretende incentivar cooperativas de crédito e bancos digitais, se for eleito.

"Não fazemos ataques, só mostramos o que os outros fazem", diz Alckmin

Por Cibelle Bouças | Valor Econômico

SÃO PAULO - Geraldo Alckmin, candidato a presidente da República pelo PSDB, defendeu-se hoje das acusações de atacar os outros candidatos.

"Não fazemos ataques. Nós só mostramos o que os outros candidatos falam, pensam ou fazem", afirmou a jornalistas, durante ato de campanha realizado há pouco no parque do Ibirapuera, na capital paulista.

Em outro momento da entrevista, o candidato disse considerar Jair Bolsonaro, candidato pelo PSL, a pior opção para o Brasil.

"Bolsonaro é a pior opção para o país. Sempre votou contra o interesse nacional. Ele votou contra o Plano Real, contra o Cadastro Positivo, a favor de benefícios para deputados", afirmou.

Em relação ao candidato to PT, Fernando Haddad, Alckmin disse: "Temos que deixar de lado os pesadelos do passado, que é votar no PT, e focar no futuro do país. Somos o caminho para impedir a volta do PT para o governo", afirmou Alckmin.

O candidato também disse que pretende trabalhar para a população mais pobre em seu governo. "Eu não vou ser pau mandado de banqueiro. O meu senhor é o povo. Vou trabalhar para os mais pobres, fazer o país crescer e ter um país mais justo", afirmou.

Tucano reforça ação em SP e discurso por voto útil

Bárbara Nascimento / O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, fez campanha ontem em São Paulo acompanhado pelo candidato a governador do seu partido, João Doria. Como fez na semana passada, Alckmin deve reforçar a presença no Estado que governou por três mandatos e possui o maior colégio eleitoral do País.

Na mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo feita apenas em São Paulo, Jair Bolsonaro (PSL) tem 30% das intenções de voto e Alckmin 13% – mesmo porcentual do petista Fernando Haddad. Nesta semana, Alckmin programou visitas a cidades do Estado, como São José do Rio Preto, Santo André e Campinas.

Alckmin reforçou ontem o discurso de que é a alternativa viável para derrotar o PT. “Muita gente quer votar no Bolsonaro porque não quer o PT de volta. Mas tudo o que o PT quer é o Bolsonaro no segundo turno.”

Eleitor pode evitar plebiscito entre "cruz da corrupção e espada do ódio", diz Marina

Por Rafael Moro Martins | Valor Econômico

CURITIBA - A presidenciável Marina Silva (Rede) disse ontem, em Curitiba, que os eleitores brasileiros têm a "grande responsabilidade de não permitir que transformem as eleições em um plebiscito entre a cruz da corrupção e a espada que estimula o ódio e o preconceito", em clara referência a Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), respectivamente.

"Vivemos um momento delicado em que a cultura do ódio tem sido cada vez mais estimulada e propagada. Nossa campanha quer o Brasil unido", disse, após uma caminhada de cerca de duas horas pela tradicional feira de artesanato do Largo da Ordem, no centro histórico da capital.

Bem recebida na caminhada, Marina parou em quase todas as barracas do trajeto de pouco mais de três quadras, para conversar e tirar fotos com eleitores, acompanhada pelos candidatos a vice-presidente, Eduardo Jorge (PV), a governador do Paraná, Jorge Bernardi (Rede), e a senador, Flávio Arns (Rede).

Waldir Azevedo: Lamento de um cavaquinho

Vinícius de Moraes: Pôr do sol em Itatiaia

Nascentes efêmeras
Em clareiras súbitas
Entre as luzes tardas
Do imenso crepúsculo.

Negros megalitos
Em doce decúbito
Sob o peso frágil
Da pálida abóbada

Calmo subjacente
O vale infinito
A estender-se múltiplo

Inventando espaços
Dilatando a angústia
Criando o silêncio....