sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Fantasmas turvam ainda mais a imagem da Alerj: Editorial

Procuradoria da Assembleia tem 42 funcionários comissionados que não aparecem para trabalhar

A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) parece produzir escândalos na mesma proporção com que cria leis, esta sim, sua função primordial. Como revelou reportagem publicada ontem no GLOBO, a Procuradoria da Casa mantém na folha de pagamento 42 funcionários em cargos comissionados que não aparecem para trabalhar. Ou seja, fantasmas. A informação consta de um comunicado enviado ao diretor-geral, José Geraldo Machado, e remetido ao presidente em exercício, André Ceciliano (PT), em 26 de novembro, por duas procuradoras concursadas que se recusaram a marcar presença para os faltosos.

No documento, elas afirmam ter recebido “uma enorme quantidade de cartões de ponto de servidores que não se encontram desempenhando funções”. A situação é tão patética que, como alertaram as procuradoras, se essas pessoas comparecessem, não caberiam nas instalações da Procuradoria, no nono andar de um prédio da Rua da Alfândega, no Centro — anteontem, estavam presentes 11 funcionários, como constataram repórteres do jornal.

Ceciliano disse que, após receber as denúncias, instaurou processo administrativo para apurar o caso. Já o atual procurador, Rodrigo Lopes Lourenço, afirmou ter mudado o sistema de controle de ponto, atribuição que, desde 11 de dezembro, cabe exclusivamente a ele. Mas surpreende o fato de esses fantasmas vagarem pela folha da Alerj, sabe-se lá há quanto tempo, sem causar assombro aos gestores. Considerando o desprezo com que é tratado o dinheiro do contribuinte, é possível que não seja o único caso no universo de 5,5 mil servidores, dos quais 4.226 (76%) são comissionados e 1.274, concursados.

Na verdade, este é só mais um capítulo na folha corrida da Casa, que tem três ex-mandachuvas presos. Em novembro de 2017, os emedebistas Jorge Picciani, então presidente da Alerj, Paulo Melo, ex-presidente, e Edson Albertassi, ex-líder do governo, foram detidos durante a Operação Cadeia Velha. São acusados de receber propina da Fetranspor e de lavar dinheiro.

Em novembro do ano passado, outros sete deputados foram presos pela Operação Furna da Onça, acusados de corrupção. Entre eles, Chiquinho da Mangueira (PSC), que era o Corregedor da Assembleia — e, portanto, encarregado de fiscalizar os malfeitos na Alerj —, e André Corrêa, na época um dos candidatos à presidência da Casa.

Atualmente, 27 deputados e assessores são investigados pela Receita e pelo Ministério Público estadual, a partir de informações enviadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ), que detectou movimentações financeiras atípicas em suas contas. Entre eles, o atual presidente, André Cecilia no, e o ex-deputado e senador eleito Flávio Bolsonaro.

Essa coleção de escândalos explica em parte a penúria financeira que acomete o Rio e odes crédito em que mergulhou a classe política fluminense. Os novos deputados que assumirão em fevereiro terão a chance de retirara Assembleia Legislativa das páginas policiais e devolvê-la a o noticiário político.

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