segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Desafio de ampliar a base

Bolsonaro receberá líderes da Câmara

Marcello Corrêa, Patrik Camporez, Aguirre Talento e Robson Bonin | O Globo

BRASÍLIA - No primeiro encontro de trabalho com líderes partidários da Câmara, marcado para amanhã, o presidente Jair Bolsonaro apresentará o texto da reforma da Previdência, mas não deverá ser poupado de críticas ao modo como tratou a chamada “política tradicional” durante os primeiros 50 dias de governo.

Líderes de alguns dos principais partidos da Casa disseram ao GLOBO que vão ao encontro pressionados por suas bancadas a expor o descontentamento com a demissão de apadrinhados na máquina federal e a falta de liberação de verbas para as bases políticas.

Responsáveis pelo registro das demandas dos parlamentares, os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria de Governo, Santos Cruz, deverão ser os grandes alvos da insatisfação. Mas o próprio Bolsonaro não deve escapar de críticas como a do líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), que cobra medidas práticas do Planalto; não apenas discursos e “fotos”:

— Essa semana (que passou, Bolsonaro) tirou foto (na apresentação da reforma no Congresso), agora precisa partir para uma relação mais prática.

BOMBEIRO
Ciente do clima instalado entre os parlamentares, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem atuado para impedir que a pauta de interesses particulares dos deputados contamine a discussão da reforma.

— Ele (Bolsonaro) vai apresentar a reforma da Previdência. Tema urgente. Se alguém quer ampliar investimentos nos seus municípios, antes precisa aprovara Previdência. Se mela, as consequências para o Brasil serão dramáticas. Alguém pensarem liberar Orçamentos ema Previdência é não compreendera realidade—disse Maia.

O presidente da Câmara negou que a decisão do governo de exonerar apadrinhados de deputados nas últimas semanas e anunciar uma espécie de “banco de talentos” — um sistema pelo qual parlamentares poderão indicar cerca de mil nomes para cargos de segundo escalão nos estados — possa contaminar o clima em torno da reforma. Os parlamentares atacam a medida por enxergarem no banco de indicações uma forma de criminalizar as nomeações políticas.

Secretário especial da Casa Civil para a articulação política coma Câmara, Carlos Manato disse que, além deliberar recursos para deputados reeleitos, o governo estuda uma forma de contemplar o alto número de novatos. Como estão em primeiro mandato, eles não apresentaram emendas ao Orçamento no ano passado. A ideia seria editar um projeto de lei para permitir créditos extraordinários.

— Tem que ter um projeto extra orçamentário, um projeto de lei para criar uma rubrica. Se tivermos R $5 milhões para cada um, (o impacto) é R$1,25bilhão— estima Manato.

O secretário, que foi deputado, tem defendido que é preciso tratar os parlamentares “com respeito”. Ele avalia que, além da conversa com líderes partidários, será preciso procurar deputados com influência em cada estado.

—Já tem um mapeamento dos estados que querem dialogar. Esse vai ser mais um fator. Vamos ter um diálogo direto, suprapartidário, também com essas lideranças —planeja Manato.

A reforma da Previdência deve começar a tramitar de fato só depois do carnaval. Para além de cargos e verbas, os líderes partidários vão apresentar críticas e sugestões à proposta. A forma como o governo conduziu a elaboração do texto e o apresentou ao Congresso, depois de ter divulgado à imprensa, será questionada.

— O ideal seria que o governo tivesse apresentado para a gente antes uma proposta para que a gente tivesse oportunidade de oferecer sugestões. A expectativa é que o governo aponte um interlocutor que tenha legitimidade e autoridade de apresentar e cumprir mudanças (no texto) — disse o líder do DEM.

Até a estratégia de comunicação montada por Bolsonaro deve ser questionada pelos l íderes na reunião.

— Vou dizer ao presidente que o governo precisa melhorar a comunicação, pois os fakes estão invadindo os quatro cantos (do debate da Previdência). O ideal seria o próprio presidente fazer a defesa da sua reforma, que é vital para o Brasil — disse o líder do MDB, deputado Baleia Rossi (SP).

Na semana passada, Bolsonaro cancelou a primeira tentativa de encontro ao saber, pelo presidente da Câmara, que os líderes ameaçavam não comparecer. Desta vez, Maia acredita que ninguém faltará.

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