terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Governo age certo ao se distanciar de planos de intervenção na Venezuela: Editorial | O Globo

Pressão a fim de que haja a transição para democracia é um jogo de paciência

Sitiado, o ditador venezuelano Nicolás Maduro preferiu liquidar com as possibilidades de negociar a saída do poder. Dispôs-se à imolação política ao ordenar a sangrenta repressão do fim de semana nas zonas de fronteira com o Brasil e a Colômbia.

Pretende tornar ainda mais caro o custo da sua inevitável derrota, como afirmou à agência britânica BBC e repetiu em praça pública no fim de semana: “Estamos nos preparando para tornar impagável, do ponto de vista de custos militares e humanos, uma guerra, uma invasão por parte dos Estados Unidos” .

Ele designou Freddy Bernal, ex-prefeito de Caracas, para comandar a mobilização de paramilitares —os “coletivos” —nas zonas de fronteira com o Brasil e a Colômbia, com apoio da Guarda Nacional e da Força de Ações Especiais (FAES), reconhecida como grupo de extermínio.

O resultado pode ser visto nas imagens pungentes de policiais e milicianos mascarados atirando contra civis desarmados, e incendiando caminhões que transportavam comida e remédios para uma população acossada pela crise humanitária e pela hiperinflação. Deixaram mais de duas dezenas de mortos e três centenas de feridos. As Forças Armadas se fizeram notar pela ausência na repressão. Permaneceram aquarteladas, e os comandantes militares silentes.

Para Maduro, foi bem-sucedido o bloqueio à bala da operação de auxílio à população, politizada por Brasil, EUA, Colômbia, Chile e Paraguai.

Só pequena parte da carga chegou ao território venezuelano. Duas centenas de policiais uniformizados desertaram —alguns para o Brasil, a maioria para a Colômbia.

A reação veio ontem, em Bogotá, com aumento consensual das punições judiciais e financeiras aos civis e militares que compõem o núcleo da ditadura chavista.

O problema da Venezuela é político, e a única solução possível é a transição para a democracia, com eleições livres e justas. É um jogo que requer paciência e habilidade.

Fez bem o vice-presidente, Hamilton Mourão, ao anunciar, em Bogotá, que o Brasil se distancia da hipótese de intervenção internacional para apressar a previsível queda da cleptocracia ditatorial comandada por Maduro.

Esse veto inclui trânsito de tropas estrangeiras por território brasileiro: “Qualquer presença militar estrangeira dentro do território nacional tem que ser autorizada pelo Congresso. E o governo é contrário a essa posição”, disse. O Brasil já definiu seus interesses nessa crise.

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