sábado, 23 de fevereiro de 2019

Irmã de milicianos assinou cheques de campanha de Flávio

Para senador, tentativa de vinculá-lo a criminosos é ‘ilação irresponsável’

- O Globo

Além de ter empregado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) a mãe e a mulher do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, tido pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) como o homem-forte do Escritório do Crime, o senador Flávio Bolsonaro (PSL- RJ) entregou suas contas de campanha à irmã de outros dois criminosos.

Valdenice de Oliveira Meliga, que era lotada no gabinete de Flávio na Alerj, assinou cheques de despesas de campanha em nome dele, segundo a revista “Isto É”. Ela é irmã de Alan e Alex Rodrigues de Oliveira, presos, no ano passado, na operação Quarto Elemento, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado e do MP-RJ.

A revista teve acesso a dois cheques assinados por Valdenice, em nome da campanha de Flávio: um de R$ 3,5 mil e outro de R$ 5 mil. Dona de uma produtora de eventos, a Me Liga Produções e Eventos, Valdenice foi uma das pessoas a quem Flávio deu procuração para administrar os gastos de sua campanha ao Senado, de acordo com documento enviado à Justiça Eleitoral.

Os irmãos Alan e Alex chegaram a participar de atos de campanha do senador, antes da prisão. Em foto publicada no perfil de Flávio no Instagram, em outubro de 2017, o então deputado estadual aparece ao lado dos irmãos Alan, Valdenice e Alex, e do pai, Jair Bolsonaro, com a seguinte mensagem: “Parabéns Alan e Alex pelo aniversário. Essa família é nota mil!!!”.

Logo após a prisão de Alan e Alex, Flávio enviou uma nota ao jornal “O Estado de S.Paulo” na qual afirmava: “Eles são irmãos da Valdenice, que é um dos pilares do nosso trabalho de política aqui no Rio. Mas os irmãos dela não trabalham comigo. De vez em quando aparecem (nas agendas), mas não têm vínculo nenhum comigo”.

Além da atuação da irmã dos milicianos como tesoureira da campanha de Flávio, outra funcionária de seu gabinete na Alerj exerceu a função de primeira-tesoureira do PSL no Rio. Alessandra Cristina Ferreira de Oliveira fez, por meio de sua empresa, a A lê Soluções e Eventos Ltda, a contabilidade de 42 campanhas eleitorais do partido no estado.

Um dos cheques assinados por Valdenice, aos quais a “Isto É” teve acesso, no valor de R$ 5 mil, era destinado justamente à empresa de Alessandra. Desta forma, a responsável por distribuir os recursos do partido recebia de volta parte desse dinheiro, como pagamento pelos serviços de contabilidade prestados por sua empresa. De acordo com a revista, ao todo, Alessandra recebeu R$ 55 mil das campanhas do PSL, cobrando valores entre R$ 750 e R$ 5 mil de cada candidato.

Procurada pela “Isto É", Alessandra disse não ver conflito ético no acúmulo de funções. Em nota, Flávio disse que a revista faz “uma ilação irresponsável” ao tentar vinculá-lo com milicianos. Quanto a Valedenice, ele afirmou que, como tesoureira geral do PSL, ela tinha “a obrigação legal de assinar cheques do partido em conjunto e jamais em nome do atual senador”. Ainda de acordo com a nota, “os supostos irmãos milicianos apontados pela revista são policiais militares.” Flávio negou ainda ter havido direcionamento na escolha dos profissionais de assessoria contábil e jurídica.

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