domingo, 3 de março de 2019

Hélio Schwartsman: Uma questão de humanidade

- Folha de S. Paulo

Saída de Lula da prisão cumpre o que está previsto em lei

Desta vez, a Justiça agiu com humanidade, autorizando sem delongas a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cumpre pena em Curitiba, para participar do velório do neto Arthur Araújo Lula da Silva, morto em consequência de uma meningite bacteriana. Não se trata de privilégio, mas simplesmente de cumprir o que está previsto na Lei de Execuções Penais.

Com menos humanidade agiu Eduardo Bolsonaro, ao afirmar, pelas redes sociais, que Lula era um larápio e que aproveitaria a liberação para posar de coitado. Diante de reações negativas ao comentário mesmo entre bolsonaristas —a humanidade não está tão perdida quanto quer a esquerda—, Eduardo ainda tentou amenizar, dizendo que a perda do menino era lamentável.

É um contraste forte em relação ao que ocorreu quando da morte da mulher de Lula, Marisa Letícia, em 2017. Ali, os comentários desairosos foram generalizados, e pouca gente tentou depois corrigir-se. Por que a diferença?

É relativamente fácil pôr seres humanos para operar na lógica do nós contra eles, que, nas versões fortes, prega que toda desgraça que recair sobre o grupo adversário é uma bênção para o nosso. Eduardo Bolsonaro estava atuando nesse registro, como estavam todos aqueles que tripudiaram da doença de Marisa dois anos atrás.

Só que também não é difícil despertar nas pessoas reações de compaixão, apresentando-as a situações com as quais possam identificar-se. A dor do avô que perde o neto de forma trágica é uma delas. Se Marisa ainda podia ser apontada como uma militante petista —condição que serve para atenuar reações de empatia—, o mesmo não se aplica ao menino de apenas sete anos. A compaixão aqui manifestou-se de modo bem mais acentuado.

Eduardo Bolsonaro não percebeu a mudança de contexto e repetiu bobagens mais ou menos sozinho. É incrível como o clã vai se habituando a desempenhar os piores papéis.

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