terça-feira, 2 de abril de 2019

Paulo Hartung*: Vocação para o protagonismo ambiental

- O Estado de S.Paulo

Sem partidarismos e sem preconceitos, é hora de trabalharmos pelas futuras gerações

Durante toda a minha vida valorizei o diálogo e as discussões sustentadas em questões atuais, sempre com olhar para o futuro, vislumbrando as oportunidades que dali podem surgir. E o Brasil é um País recheado de potencialidades, com capacidade para ser referência mundial numa série quesitos. Aqui não estou exagerando, pois ando o Brasil inteiro e percebo a vontade da sociedade aliada à diversidade que o nosso território nos oferece.

Hoje, diante do grave desafio das mudanças climáticas, temos uma grande oportunidade, por exemplo. Já somos reconhecidos mundialmente pelo nosso compromisso e pelos nossos avanços. Mas podemos mais. Devemos contribuir para o debate, assumir o protagonismo e tornar o Brasil líder nesse tema tão sensível e urgente, que ameaça as futuras gerações de todo o planeta. E precisamo-nos movimentar agora.

Temos um caso concreto no setor de árvores plantadas para fins industriais, que ano após ano apresenta excelentes resultados e uma contribuição sem precedentes para o meio ambiente. Caso o leitor ainda não tenha ouvido falar, vem das florestas plantadas, comumente eucalipto, pinus e teca, a madeira para produção de celulose, papel, painéis de madeira, pisos laminados e carvão vegetal, entre milhares de outros produtos e subprodutos. Exatamente pelo pensamento estratégico, aliado à sustentabilidade, essas florestas são cultivadas em áreas antes degradadas por outras atividades ou em locais onde o solo apresenta baixa fertilidade. E aí se desencadeia um longo e cuidadoso processo para que cada etapa, do campo à indústria, seja o correto.

Hoje essa indústria possui 7,8 milhões de hectares de árvores plantadas, com 1,7 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) estocado. Os produtos originados nessas florestas cumprem também a função de armazenamento de carbono, mitigando a liberação de gases de efeito estufa para a atmosfera.

A biodiversidade demonstra a vida que essas florestas auxiliam a preservar. Mesmo ocupando menos de 2% do território nacional, 38% dos mamíferos e 41% das aves ameaçadas de extinção no Brasil já foram avistados em áreas de empresas florestais. Esse é um indicador muito rico, porque, se há fauna e flora conservados, há um sinal de que o trabalho com o meio ambiente está sendo bem feito.

Com o cuidado, investimento e evolução nas técnicas de manejo foi possível fazer as espécies trabalhadas nessa indústria se adaptarem a diferentes regiões. Do Sul ao Nordeste, há hectares e mais hectares sendo cultivados para fins específicos. Vale mencionar que o bom manejo e os benefícios ambientais gerados não ficam só no discurso, uma vez que essas florestas são certificadas pelas entidades mais conceituadas mundialmente.

Esse é, aliás, um dos motivos que tornam esse setor de fundamental importância para as exportações nacionais. Em 2018 foi responsável por 4,1% das negociações brasileiras com outros países. Além da qualidade dos produtos, eles têm a chancela de ser originados e fabricados de acordo com os mais altos níveis de sustentabilidade. Países como a China, que se comprometeu no Acordo de Paris a mitigar a emissão de gases de efeito estufa, buscam alternativas como as nossas para atingir as metas estabelecidas. Aqui, todo o papel que é comercializado, seja para escrever, para fins sanitários ou para embalagens, é 100% originado de florestas plantadas.

Importante mencionar também a conservação das florestas naturais promovida pelo setor. A cada hectare de árvores plantadas essa indústria conserva outro 0,7. Atualmente são 5,6 milhões de hectares conservados, culminando em mais 2,5 bilhões de toneladas de CO2 estocadas.

Interessante notar que o processo fabril também está intimamente ligado a um planejamento sustentável. A energia para fazer as unidades funcionarem é renovável e as torna praticamente autossuficientes. Seja por meio de biomassa florestal ou carvão vegetal, oriundo de floresta plantada, as plantas fabris das empresas desse setor produzem 70% da energia consumida nos seus processos produtivos. As fábricas de celulose mais modernas, além de produzirem toda a sua em energia, ainda produzem excedentes para comercialização.

O setor não precisou parar nem por um minuto as suas atividades para se adequar a uma realidade de sustentabilidade. Tecnologia e inovação fazem parte dessa indústria, que vem pesquisando e trabalhando para servir à sociedade e contribui para que o Brasil atinja suas metas em compromissos internacionais. Compromissos esses que são fundamentais.

A Organização das Nações Unidas (ONU) destacou em seu relatório de 2017 que o Brasil é um dos países que vêm conseguindo manter sua proposta firmada no Acordo de Paris, na qual pretende reduzir as emissões entre 36,1% e 38,9%. Tenho total convicção de que tudo o que foi apresentado até aqui pela indústria de florestas plantadas tem papel determinante nesse status atingido. Há áreas reflorestadas, emissões sendo mitigadas, energia renovável sendo produzida e utilizada, além de biodiversidade preservada. Mas não devemos parar de trabalhar. Somos um dos 195 países que concordaram em reduzir as emissões para limitar aumento da temperatura planetária a 1,5 grau Celsius. E isso é muito sério.

Fazer parte desse acordo significa ter compromisso com a sociedade, propor-se a trabalhar de maneira integrada, aliando, de fato, o econômico ao social e ambiental. Não são excludentes, mas complementares. Sem partidarismos e sem preconceitos, é o momento de pensarmos no País e, mais, é hora de trabalharmos pelo futuro dos nossos filhos, netos e das demais gerações. É possível e o Brasil tem potencial para liderar esse processo.

* Paulo Hartung é economista; foi governador do Estado do Espírito Santo (2003-2010 e 2015-2018)

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