domingo, 7 de abril de 2019

Ricardo Noblat: Bolsonaro desperdiça seu capital político

- Blog do Noblat / Veja

Ou ele se reinventa ou pode cair

A primeira pesquisa Datafolha sobre como os brasileiros avaliam o governo do presidente Jair Bolsonaro deveria acender a luz vermelha no Palácio do Planalto e nos demais bunkers da República. Ela não trouxe uma só boa notícia para o capitão.

Natural que fosse assim. Como poderia ser diferente depois de três meses de trapalhadas de um presidente que admite não ter vocação para tal, de um governo improvisado às pressas e medíocre, enfim de uma nau sem bússola que ameaça fazer água?

Se tudo isso não bastasse, por seu comportamento belicoso, estridente e no mais das vezes imprevisível, Bolsonaro perdeu rapidamente a liderança sobre seu governo. O fato de sua caneta continuar cheia de tinta não significa que ele manda.

O desgaste na sua e na imagem do governo registrada pela pesquisa conferiu a Bolsonaro a condição de pior avaliado entre os presidentes da República de 1º mandato nos seus 90 dias iniciais. A crise parece viajar mais do que governar.

O capital político acumulado por Bolsonaro com sua eleição está indo para o ralo. Antes de ser empossado, 65% dos brasileiros esperavam que ele fizesse um governo ótimo ou bom. Agora, só 59%. Para 61% dos entrevistados, ele fez menos do que se esperava.

Seu comportamento é considerado como correto por apenas 27%. Outros 27% acham que Bolsonaro na maioria das vezes tem um comportamento correto, mas às vezes não. E 23% dizem que ele nunca se comporta como o cargo exige.

Bolsonaro foi o candidato a presidente mais votado entre os que ganham mais de 10 salários mínimos e os que têm curso superior. Pois bem: é entre eles onde seu governo enfrenta numericamente a maior rejeição – 37% e 35%, respectivamente.

É possível que Bolsonaro se recupere daqui para frente? Claro que é. Tempo para isso não lhe falta. Mas isso só acontecerá se ele for capaz de se reinventar. O candidato deve dar passagem ao presidente que prometera governar para todos e não somente para seus devotos.

Se não abandonar a demonização da política e se não compartilhar o poder com os partidos, seu governo será uma sucessão de crises, e correrá o risco de acabar abortado.

Lula nada aprendeu na prisão

Ou a lei é para todos ou não é
O artigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicado, hoje, pelo jornal Folha de S. Paulo mostra que ele nada aprendeu depois de um ano de prisão em Curitiba.

Considera-se um preso político, depois de já ter sido condenado em dois processos e de responder a mais seis. Considera que foi golpe o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

O médico Dráuzio Varella, autor de um livro sobre o Presidio do Carandiru, em São Paulo, disse que ali, depósito de mais de 2 mil detentos, só havia inocentes a se acreditar no que diziam.

Lula diz que Dilma caiu porque deu continuidade ao governo dele que tirou milhões de brasileiros da miséria. E que ele foi preso para que não disputasse a eleição do ano passado.

Culpa a Lava Jato por isso. E naturalmente culpa o que chama de elites interessadas em resgatar um modelo econômico que sempre as beneficiou até que ele chegasse ao poder.

Se a queda de Dilma foi golpe, a de Fernando Collor, bancada principalmente pelo PT, também foi. Na verdade, os dois caíram porque perderam as mínimas condições para governar.

A espoleta do impeachment de Collor foi a compra de um Fiat Elba para ele com sobras de dinheiro de campanha não declarado à justiça. A do impeachment de Dilma, as pedaladas fiscais.

Lula se elegeu presidente pela primeira vez com o apoio também das elites, sensibilizadas com a carta aos banqueiros por ele divulgada como medida cautelar. Da segunda vez, também.

Perto do fim do primeiro mandato de Dilma, os nomes mais poderosos das elites bateram à porta de Lula para convencê-lo a se candidatar mais uma vez. Sentiam a sua falta.

A aliança de Lula com uma parte das elites deu no maior escândalo de corrupção conhecido da história do país. Ele foi preso e condenado por isso, assim como cabeças coroadas das elites.

Lula desperdiçou três chances de sair do cárcere de Curitiba para cumprir pena em casa. Apostou que não seria condenado – perdeu. Ou que acabaria solto logo – perdeu outra vez.

É triste ver quem despertou tantas esperanças no seu povo ser condenado e preso. É vergonhoso para qualquer país ter um ex-presidente preso e condenado por corrupção.

Mas se a lei vale para todos, Lula deve cumprir sua pena até decisão contrária da justiça. Numa democracia, é dela a última palavra, e assim deverá ser.

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