quarta-feira, 3 de abril de 2019

Ricardo Noblat: Governo em desencanto

- Blog do Noblat / Veja

E tudo só mal começou...

A uma semana de completar cem dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro deu-se ao trabalho de desautorizar o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) criado em 1934 e respeitado desde então aqui e no exterior pela correção de suas análises.

O IBGE havia divulgado que o desemprego aumentou no país em fevereiro último, quando a taxa subiu para 12,4% e o total de desempregados voltou a superar 13 milhões. Bolsonaro disse que o número está errado e que os “índices parecem feitos para enganar”.

Economia não é o forte de Bolsonaro, e ele mesmo já confessou isso dezenas de vezes. Quando se arriscar a dar palpites a respeito, quase sempre dispara grossas bobagens. Ao tentar desacreditar o IBGE, ele apenas copia o exemplo dado por ministros de governos passados.

Até aqui, Bolsonaro só tem feito brigar com fantasmas e com o português. Golpe de 64, ditadura e agora o nazismo foram seus fantasmas preferidos. Reforma da Previdência é problema do Congresso. O pacote anticrime do ministro Sérgio Moro, também.

Quando não se ocupa em disseminar notícias falsas nas redes sociais, viaja ao exterior – e por lá envergonha o país. Só faltou ajoelhar-se aos pés de Trump. No Chile, elogiou Pinochet, ditador sanguinário. No Paraguai, Stroessner, ditador pedófilo.

Governar de fato, ele não faz. Sequer preencheu ainda cargos importantes no segundo e terceiro escalões da administração federal. Já foi capaz de faltar ao trabalho para ir ao cinema com a mulher. E de faltar de novo para ir rezar junto com amigos homens.

Sua inapetência pelo exercício do poder não tem par desde que a democracia foi restaurada no país. É visível seu enfado com as múltiplas tarefas que cabem a um presidente da República. Só se sente bem e à vontade entre seus ex-companheiros de farda.

Anarquia no palácio do capitão

Quem mandou divulgar o vídeo que exalta o golpe de 64?
O general porta-voz de Jair Bolsonaro disse considerar “caso encerrado” a polêmica provocada por um vídeo divulgado no último domingo por meio de um dos canais privados da Secretaria de Comunicação da presidência da República que exalta o golpe militar de 31 de março de 1964. Caso encerrado coisa nenhuma!

Na segunda-feira, dia 1º de abril, o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, declarou ao jornal O Globo que o vídeo fora divulgado por decisão do presidente Jair Bolsonaro, àquela altura em visita a Israel: “Decisão do presidente. Foi divulgado pelo Planalto, é decisão do presidente”.

Mas ontem, ainda no exercício da presidência da República, Mourão corrigiu-se: “Em tese, ele deveria saber. Agora sei que ele não sabia”. Se antes era grave o fato de um vídeo que exalta um golpe militar ter sido divulgado por decisão do presidente, muito mais grave ficou com a revelação feita por Mourão de que Bolsonaro não sabia.

Quem mandou produzir o vídeo e quem mandou divulgar? – eis a questão. O empresário bolsonarista Osmar Stábile, de São Paulo, ex-vice-presidente do Corinthians, se apresentou há poucas horas como o produtor do vídeo. “Não conheço Bolsonaro, mas apoiei sua eleição”, justificou-se. Ele disse também ter apoiado o golpe de 64.

Vá lá que não se trate de um arranjo de última hora para esconder o verdadeiro autor do vídeo, ou para afastar a suspeita de que o vídeo foi produzido e pago pelo governo. Mas quem autorizou que o vídeo supostamente produzido por um empresário fosse divulgado pela Secretaria de Comunicação da presidência da República?

Enquanto não se souber quem autorizou, cabe o temor compartilhado por políticos de vários partidos de que o Palácio do Planalto tenha virado terra de ninguém. Onde deveria haver ordem, hierarquia, comando, existe descontrole, confusão, anarquia. Nem os generais que cercam Bolsonaro estão mais dando conta do recado.

Como alguém com acesso a canais privativos de comunicação da presidência da República pode endereçar a quem bem deseje um vídeo de celebração a um golpe militar? E apenas poucos dias depois de o presidente da República, em decisão controversa, ter orientado as Forças Armadas a comemorarem o golpe? Como foi possível?

Não dá para que tudo fique por isso mesmo, salvo se for para desmoralização do presidente e dos que o ajudam a governar.

Um conselheiro do balacobaco

A saga de Sérgio Moro
Uma vez que o presidente Jair Bolsonaro vetou o nome da cientista política Ilona Szabó, o ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, foi obrigado a sair em busca de outro para ocupar a vaga disponível no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. E, bimba, encontrou um!

Chama-se Wilson Damázio, é ex-delegado da Polícia Federal e foi Secretário de Defesa Social do governo de Eduardo Campos, em Pernambuco, até o dia em que concedeu uma entrevista e cometeu pérolas como as que seguem, e que lhe custaram o emprego. Recomenda-se antes a retirada das crianças da sala.

“O policial exerce um fascínio no dito sexo frágil. Eu não sei por que é que mulher gosta tanto de farda. Todo policial militar mais antigo tem duas famílias, tem uma amante, duas. É um negócio.”

Eu sou policial federal, feio pra c… A gente ia pra Floresta (Sertão), para esses lugares. Quando chegávamos lá, colocávamos o colete, as meninas ficavam tudo sassaricadas. Às vezes tinham namorado, às vezes eram mulheres casadas. Pra ela, é o máximo tá dando pra um policial. Dentro da viatura, então, o fetiche vai lá em cima, é coisa de doido”.

“Desvio de conduta, a gente tem em todo lugar. Tem na casa da gente, tem um irmão que é homossexual, tem outro que é ladrão, entendeu? Lógico que a homossexualidade não quer dizer bandidagem, mas foge ao padrão de comportamento da família brasileira tradicional”.

A primeira tarefa de Damázio como conselheiro será inspecionar as penitenciárias de Pernambuco, Alagoas e Acre.

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