sexta-feira, 24 de maio de 2019

Entrevista / presidente da CNBB: ‘Estamos muito abertos a esse diálogo, a essa cooperação ’

- O Globo

Considerado um bispo centrista — embora a Igreja não aceite estas classificações — Dom Walmor Azevedo assumiu a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) defendendo o diálogo, mas reafirmando compromissos históricos da entidade. Em entrevista ao GLOBO, ele criticou os cortes na Educação e as propostas do governo de ampliar o acesso da população às armas. Também afirmou que a Igreja brasileira prepara um guia para tentar prevenir casos de abusos e, principalmente, garantir celeridade nas investigações canônicas sobre denúncias.

• Quais os desafios de assumir a presidência da CNBB?

Vivemos um tempo de reconstrução, de estabelecimento de diálogos, e a Igreja tem uma grande tarefa porque está no coração do mundo para anunciar o reino de Deus. Ao faze risso, somos chamados a contribuir para que as pessoas escolham o que está no Evangelho: o bem, a verdade, a justiça e o amor maior.

• O bispo de Limeira, que renunciou após ser acusado de desvios e de acobertar casos de assédio sexual, participou da assembleia da CNBB neste mês. Não é um ponto de constrangimento?

Não considero constrangedor no sentido de nos amedrontar ou de nos enfraquecer, mas acho entristecedor. Exatamente porque, como diz o Papa Francisco, nós nos consagramos na vida religiosa para sermos servidores da vida, e não para machucá-la. E é por isso mesmo que o Papa Francisco fala, e nós aqui adotamos: tolerância zero.

• Nesse sentido, a saída do bispo é simbólica?

Este acontecimento está exatamente no horizonte do que diz o Papa Francisco de tolerância zero para questões que ferem a moral de qualquer um dos consagrados.

• Há uma reclamação de que as apurações de casos de abuso da Igreja são muito lentas.

Estamos buscando exatamente celeridade na execução e conclusão de um guia para a proteção de menores, a fim de que todos os bispos e igrejas tenham o caminho para fazer isso (apurar) com celeridade.

• Em outubro, a Igreja fará o Sínodo da Amazônia, um encontro do alto clero no Vaticano para tratar sobre temas como desmatamento. Qual a importância desse evento?

O foco é a evangelização, que vai culminar, é claro, com a questão ambiental para equilibrar os descompassos sociais que vivemos na região.

• O sínodo foi criticado pelo governo sob a alegação de que abordaria uma agenda de esquerda. Como está o clima entre a Igreja e o governo ?

Não há nenhum estresse, desentendimento ou constrangimento. Porque o foco da Igreja é a evangelização. Estamos muito abertos a esse diálogo, a essa cooperação.

• Há pontos de divergências entre a Igreja e o governo na questão das armas e da reforma da Previdência. Como o senhor lidará com isso?

Eu não chamaria de divergência. Diria que temos um ponto de partida que é o Evangelho. Por isso, gosto sempre de fazer referência ao sermão da montanha. Precisamos nos aproximar para dialogar.

• A Igreja lutava para evitar avanços na legalização do aborto e, agora, posiciona-se contra a ampliação do acesso às armas. Qual luta é mais complexa, contra o aborto ou contra as armas?

Aluta contra oaborto é maior, mais exigente e mais sagrada porque significa respeitara vida desde o seu primeiro momento, da fecundação. Por isso a Igreja é contrária ao aborto, determinantemente. E essa lutas e desdobra no compromisso importante par afazermos tu dopa raque avida de todas as pessoas sejam respeitadas. E por isso mesmo, quando se fala de porte de armas ou de liberação de armas, está em questão a vida de cada pessoa. A nossa luta é pelo dom da vida, pois a vida é muito sagrada.

• O senhor se opõe à ampliação do acesso às armas?

O caminho nosso não é o caminho da vingança, do descompasso nas relações com as pessoas, nosso caminho é o caminho do amor.

• A Igreja Católica tem histórica importância na Educação do Brasil. Como o senhor vê os cortes propostos pelo governo na área?

Quero ressaltar que Educação é prioridade. Obviamente que uma sociedade que não investe em Educação está caminhando para seu maior e desastroso fracasso. Portanto, quando estamos diante desses desafios, somos chamados de fato a priorizara Educação. É preciso olhar concretamente quando se fala de cortes. É importante fazer este caminho porque, no trato da coisa pública, muitas vezes as coisas não são tratadas como seriam as que nos são próprias. É preciso verificar. Prejuízos não podem acontecer. Por exemplo: pesquisa é muito importante. É fundamental avaliar aquilo que se corta.

• Ou seja, o senhor acredita que os cortes poderiam ocorrer em outras áreas do governo, poupando a Educação?

Esse é um caminho importante. Por isso a importância do diálogo, dos entendimentos, para que as prioridades possam ser escolhidas e dirigidas não apenas a partir dos interesses deste ou daquele grupo, mas de fato aquele que garante o bem comum.

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